O Itaú Unibanco anunciou nesta segunda-feira, 16 de junho, a internalização do Kinea Ventures, fundo de corporate venture capital (CVC) do banco, e a ampliação de seu “poder de fogo”.

O fundo proprietário, que passa a ser chamado de Itaú Ventures, terá valor inicialmente R$ 500 milhões de capital comprometido. O montante representa a combinação dos investimentos já realizados quando estava com a Kinea Investimentos, seu braço de investimentos alternativos que conta com cerca de R$ 130 bilhões sob gestão, mais o compromisso do banco de aportar R$ 250 milhões adicionais em dois anos.

Ao NeoFeed, Fernando Chagas, diretor de negócios proprietários do Itaú, área a qual o Itaú Ventures estará vinculado, diz que o movimento visa a aproximar ainda mais as startups do portfólio das necessidades operacionais do banco e aumentar os investimentos em áreas consideradas estratégicas, como pagamentos, wealth, seguros, cibersegurança e inteligência artificial.

“Sentíamos a necessidade de trazer o fundo ainda mais para perto das áreas de negócios, para que ele possa lidar melhor com os desafios do banco, as dores e os problemas a serem resolvidos para os clientes”, afirma Chagas. “Queremos também que o banco impacte mais o portfólio de investidas, participando do dia a dia delas, deixando a relação mais fluida.”

Segundo Chagas, a internalização não muda o trabalho do fundo, que seguirá tocado pela mesma equipe responsável pelo Kinea Ventures, liderada por Philippe Schlumpf, agora no cargo de superintendente do Itaú Ventures.

O fundo investe atualmente em oito empresas, sendo seis fintechs e duas empresas de SaaS B2B. O mais recente aporte foi na Kanastra, plataforma de backoffice para fundos e produtos securitizados. Ele ocorreu em janeiro, em complemento à rodada Série A, que aconteceu em junho de 2024, na qual a Kanastra levantou R$ 110 milhões. O valor aportado pelo Kinea Ventures não foi revelado na ocasião.

Com os novos recursos, o agora Itaú Ventures vê a possibilidade de dobrar a quantidade de empresas no portfólio, assinando cheques de R$ 20 milhões a R$ 50 milhões, mas esses valores podem ficar “um pouco para baixo ou para cima”, segundo Schlumpf. A intenção é ter participações minoritárias nas companhias, entre 5% e 15%.

Schlumpf diz que os investimentos ficarão concentrados em companhias que estão entre rodadas séries A e B, por ser uma fase em que a relação entre o banco e a startup tem mais impacto. O importante é que os produtos demonstrem sinais de comprovação, mesmo se o negócio não tiver atingido o breakeven.

“A empresa precisa ter algo tangível, um produto que já existe, que os empreendedores já tenham conseguido monetizar de alguma forma essa proposta de valor com uma base de clientes que está pagando”, afirma Schlumpf. “Queremos investir em empresas vencedores em que a gente seja um catalisador de crescimento adicional.”

Chagas destaca que retorno e rentabilidade serão temas importantes na avaliação de um investimento, mas que o Itaú Ventures vai priorizar empresas com propostas capazes de aprimorar o desenvolvimento das áreas de negócios e dos clientes do Itaú, acelerar a inovação do banco e complementar os serviços.

O lançamento do Itaú Ventures representa a evolução que o tema de venture capital teve dentro do Itaú. O banco começou a discutir a criação de um fundo nessa área entre 2017 e 2018, diante da aceleração do processo de transformação digital na área bancária e financeira, com surgimento de novas plataformas e sistemas.

Chagas diz que o banco decidiu lançar o fundo na Kinea, em 2020, por entender que a equipe de private equity da gestora era mais adequada para dar a largada na iniciativa de venture capital, uma vez que o Itaú tinha mais experiência com grandes operações de M&A.

“O venture capital tem uma diferença grande em relação ao M&A, em que a questão do empreendedor é muito importante. Por isso entendemos que o melhor caminho para lançarmos o nosso fundo de venture capital era a Kinea, por ter um grupo de private equity”, afirma.

Em 2022, o Itaú chegou a anunciar que estava preparando um fundo de venture capital, um projeto que seria tocado por Anderson Thees (hoje presidente da Endeavor Brasil) e Manoel Lemos,  ex-Redpoint eventures. Chagas diz, no entanto, que, posteriormente, o banco optou por seguir outro caminho — o da internalização do Kinea Ventures.