Fundada em 1904, em Paris, a Coty está fazendo do limão, uma limonada. Uma das maiores companhias de beleza do mundo, a empresa acaba de lançar um perfume feito 100% à base de dióxido de carbono (CO2) reciclado.
O novo Gucci Eau de Parfum, batizada “Where My Heart Beats”, é a primeira fragrância do tipo a ser distribuída globalmente. Com preço sugerido de 320 euros, o novo perfume só foi possível graças à parceria da Coty com a startup americana LanzaTech.
Os pesquisadores da cleantech desenvolveram uma tecnologia capaz de capturar, reciclar, purificar e converter os gases de efeito estufa em álcool, matéria-prima do novo perfume.
A partir daí, os perfumistas da Coty entraram em ação e transformaram a poluição, que seria lançada na atmosfera, em uma fragrância de notas de peônia branca, folhas de violeta e almíscar branco – que lembra “um buquê de flores com borboletas dançantes”, tal qual descrito pela gigante da beleza na apresentação do produto (bem-vindos à alquimia 4.0).
“Esse é um exemplo inspirador de que a sustentabilidade é o principal impulsionador da inovação”, diz Shimei Fan, diretor da Coty. “Além da ciência, há algo mágico em transformar emissões industriais em álcool puro o suficiente para uso em fragrâncias finas.”
Com sede em Chicago, desde o início de suas atividades, em 2005, a LanzaTech já recebeu cerca de US$ 840 milhões em investimentos, segundo a plataforma Crunchbase. Entre os fundos de venture capital que apostaram na cleantech estão a Khosla Ventures e a Malaysian Life Sciences Capital Fund.
Nos últimos 18 anos, nos cálculos da startup, a tecnologia já impediu a emissão de 200 mil toneladas de dióxido de carbono na atmosfera, a partir da conversão do gás em 190 milhões de litros de álcool.
Como transformar CO2 em álcool
A LanzaTech nasceu na Nova Zelândia, quando Sean Simpson e Richard Forster se viram desempregados, com o fechamento da empresa onde trabalhavam, a AgriGenesis BioSciences.
Depois de muita pesquisa e um sem número de experiências, eles descobriram que uma bactéria encontrada no intestino de coelhos tem o poder de fermentar o CO2 emitido pelas fábricas em álcool.
A “mágica” acontece em biorreatores gigantes, em um processo que é muito semelhante ao da produção de cervejas. Em vez de usar açúcares e fermento, como na produção da bebida, a LanzaTech usa a poluição como matéria-prima de seu álcool CarbonSmart.
Ao economizar o uso de água e reduzir a pressão sobre as terras agrícolas, a startup de Chicago atrai a atenção de empresas, dos mais variados setores. Da perfumaria aos produtos de limpeza, da moda aos combustíveis para veículos e aviões.
Entre os clientes da cleantech, estão, além da Coty, a Virgin Atlantic, empresa de aviação de Richard Branson, a rede espanhola de fast fashion Zara e a fabricante de desinfetantes e detergentes suíça Migros.
Na semana passada, a marca sueca de vestuário H&M lançou uma coleção de peças com fios de poliéster feitos com a tecnologia da LanzaTech. Com foco no sportswear, a H&M Move inclui um macacão, um top e um par de meias femininos.
“Essa parceria nos permite explorar materiais inovadores e desempenhar nosso papel para ajudar a criar roupas desportivas mais sustentáveis no futuro”, afirma Simon Brown, gerente geral da H&M Move, em comunicado.