O Brasil acordou hoje emocionado. Uns ainda saíam da cama, outros tomavam o café da manhã, enquanto havia quem já estivesse a caminho do trabalho... bastou ligar o celular e receber uma avalanche de sentimentos e lembranças boas.

O vídeo de Elis Regina em dueto com a filha Maria Rita, cantando Como Nossos Pais, do genial Belchior, era compartilhado por todo mundo, em todas das redes sociais, em todos os grupos de WhatsApp.

Não houve quem não se comovesse com os dois minutos do novo anúncio da Volkswagen, em comemoração aos 70 anos da montadora no Brasil – o primeiro país da história a receber uma fábrica da montadora fora da Alemanha.

O filme começa com Maria Rita ao volante de uma ID. Buzz amarela, a versão 100% elétrica da Kombi. Ela canta a música que se transformou em hino da juventude dos anos 1970, uma geração submetida aos horrores da ditadura militar.

Intercalam-se, então, imagens, como se tivessem sido feitas por filmadoras caseiras. Fusca, Brasília, SP2, amigos, crianças, família.... O clima é de alegria e amor.

Quando entra o verso “você me pergunta pela minha paixão”, uma Kombi antiga azul emparelha com Maria Rita. Elis está na direção. As duas se entreolham e sorriem. Mãe e filha seguem cantando juntas.

Criada pela agência AlmapBBDO, produzida pela Boiler Filmes, com direção de Dulcidio Caldeira, a peça foi definida por Nizan Guanaes como “uma obra de arte”.

Maria Rita tinha quatro anos, quando Elis morreu em 1982, aos 36 anos. O encontro de mãe e filha só foi possível graças aos avanços da inteligência artificial (IA). Uma dublê foi filmada dirigindo a Kombi azul. Em seguida, com o uso de uma IA treinada para o reconhecimento facial de Elis, o rosto da cantora foi sobreposto ao da atriz, combinando os movimentos das duas.

Agência e produtora se uniram a uma empresa de pós-produção americana especializada e com repertório de projetos realizados para a indústria cinematográfica de Hollywood.

A voz é de Elis, gravada em 1976, para o álbum “Falso Brilhante”. “Queríamos preparar alguma coisa que tivesse a cara da Volks e do Brasil. Quando fala em 70 anos, não dá para ignorar a história. E a Elis tem uma voz que representa esse passado, essa história. Mas tem um legado para o futuro”, diz Marco Giannelli, CCO da AlmapBBDO, ao NeoFeed.

Ele complementa: “E se usássemos as duas? Na história, nunca cantaram juntas, mas na propaganda de um jeito, mágico, poético e sutil. A tecnologia era o de menos. Foi só a forma. Todo o resto foi absolutamente humano.”

Em sua página no LinkedIn, Caldeira lembra o Fusca 69, batizado Herbie, pela mãe, dona Gida. Ele próprio teve um Gil Roadstar de gaveta e durante muito tempo seu carro foi um Passat Dacon –com goteiras, por causa de um teto solar mal colocado.

A campanha “O Novo Veio De Novo” não é a primeira que Caldeira faz para a Volkswagen. Ele já escreveu alguns roteiros para a montadora. “Como diretor, me diverti fazendo filmes com o Mussum e o Rivelino para lançar o Novo Fusca. Quando li o roteiro "Como nossos pais", não tinha como não me emocionar”, conta ele. “Espero que seja tão emocionante ao assistir quanto foi fazê-lo.”

É, sim, emocionante. O Brasil vai dormir hoje um tanto nostálgico, mas com uma lufada de esperança. Afinal, “o novo sempre vem”, já nos ensinou Belchior.