Um dos principais nomes da era digital, Tim Berners-Lee revolucionou a internet ao inventar o World Wide Web, o protocolo que serviu de base para a criação da internet como conhecemos hoje. No ano do aniversário de 35 anos do "www", o físico britânico palpitou sobre o futuro da internet e da tecnologia como um todo.
Em entrevista para a CNBC, Berners-Lee vislumbrou um futuro em que cada pessoa poderá contar com seu próprio assistente pessoal munido de inteligência artificial (IA). Esses novos assistentes farão mais do que ligar produtos eletrônicos ou procurar respostas para perguntas na internet.
Sua visão do futuro envolve assistentes virtuais que poderão exercer funções de advogados, banqueiros e até médicos. “Você vai ter um assistente de IA que vai poder confiar e que vai trabalhar para você, como um médico”, disse ele.
O uso de inteligência artificial na medicina já vem sendo feito há algum tempo. Em 2019, um experimento realizado com o Watson, o supercomputador da IBM, mostrou que a máquina foi capaz de diagnosticar melhor doenças cardíacas do que cardiologistas, conforme reportado pelo Harvard Business Review.
Outra previsão de Berners-Lee é sobre privacidade e realidade virtual. A tecnologia que está sendo desenvolvida por empresas como Apple e Meta preocupa o pesquisador britânico em relação ao armazenamento e uso dos dados pessoais.
O físico acredita que as companhias terão que permitir que cada pessoa tenha controle total de seus dados. Essas informações poderão ser armazenadas na nuvem em pods. Esses pods são como “cápsulas virtuais” que só poderão ser acessadas pelo dono das informações.
Berners-Lee é cofundador da Inrupt, startup que quer criar essas “cápsulas virtuais” em data centers para permitir (ou não) que os dados de cada pessoa sejam acessados pelas empresas. Segundo o Crunchbase, o negócio já captou US$ 46,5 milhões com gestoras como Accenture Ventures e Forté Ventures.
“Você pensará em seu data pod como seu espaço digital, como algo com o qual se sente muito confortável”, disse Berners-Lee. A ideia é que cada pessoa possa gerenciar totalmente como as informações de suas cápsulas são compartilhadas com dispositivos e aplicações.
A medida funciona tanto para quem quer garantir maior privacidade como para quem deseja compartilhar mais dados. Neste segundo ponto, Berners-Lee prevê que um indivíduo poderá comprar uma passagem aérea e então compartilhar essa informação com outros aplicativos, que poderão oferecer ofertas exclusivas.
“Todas as suas listas de tarefas e eventos do calendário. Todas as diferentes partes dos seus dados serão reunidas de modo que a capacidade de viver a sua vida se tornará muito mais poderosa”, afirmou Berners-Lee.
A terceira previsão de Berners-Lee diz respeito ao domínio das big techs no mercado de tecnologia. Seu palpite é de que órgãos regulatórios vão forçar grandes companhias a desmembrarem seus negócios para que exista uma competição saudável no mercado.
Berners-Lee não cita nomes de empresas, mas gigantes como Meta, Alphabet e Amazon são algumas que deixaram de ganhar dinheiro apenas com seus principais negócios para atacarem outras frentes ou adquirirem concorrentes diretos de seus negócios.
A maior preocupação neste caso se dá em torno das companhias que atuam com inteligência artificial. A Microsoft, por exemplo, é a principal investidora da OpenAI e já firmou uma parceria com a startup francesa Mistral AI. Elon Musk, por sua vez, lançou sua própria ferramenta de inteligência artificial, assim como o Google.
No entanto, ele acrescentou: “As coisas estão mudando muito rapidamente. A inteligência artificial está mudando muito e muito rapidamente”, disse Berners-Lee. Ele afirma que já existe um monopólio na inteligência artificial, mas lembra que “os monopólios mudaram muito rapidamente na web”.