O setor de criptomoedas está passando por uma importante atualização iniciada nesta quarta-feira, 14 de setembro. Chamado de The Merge, o movimento é uma mudança na infraestrutura do funcionamento da Ethereum, responsável tanto por transacionar criptomoedas como por ser a rede mais utilizada para a criação e validação dos chamados smart contracts.

Sem entrar em detalhes técnicos, o novo modus operandi da rede irá tornar as transações mais rápidas e, principalmente, mais baratas. Isso vai acontecer porque o custo de energia utilizado para sustentar a rede Ethereum irá sofrer uma redução de 99,95%, de acordo com a Fundação Ethereum, organização sem fins lucrativos dedicada a apoiar o desenvolvimento da tecnologia.

A redução no consumo de energia acontece porque o processo de mineração, no qual os usuários fornecem o poder computacional de suas máquinas para permitir que a rede opere (algo que consome bastante energia elétrica), seria limitado. Ao site CoinDesk, Anthony di Iorio, um dos cofundadores da Ethereum, afirmou que a mineração "ficará no esquecimento".

A mineração só seria feita por usuários com equipamentos altamente eficientes e com acesso à energia elétrica com preços irrisórios para que os custos da operação valessem a pena. Uma estimativa da empresa Luxor, que opera com a mineração na rede Ethereum, aponta que seria preciso gerar um custo inferior a US$ 0,03 por quilowatt-hora por cada computador para a conta fechar.

Em vez das transações serem aprovadas através do trabalho feito pelos mineradores, o processo passa aos validadores, usuários que tomam as decisões em torno da validação dos blocos de transações efetuadas na rede.

Para ser um validador, é preciso investir 32 ETH (algo em torno de R$ 267 mil atualmente) em staking, uma operação de renda passiva que funciona como uma poupança. As criptomoedas ficam retidas e os usuários são recompensados com juros baixos. Caso eles se comportem de forma inadequada na tomada de decisões, podem ser penalizados com a perda parcial ou total das criptomoedas.

Assim, a rede Ethereum passa a concentrar poder em indivíduos específicos. “Em vez de ser totalmente descentralizado, a rede vai dar autoridade para alguns nós específicos”, afirma Eduardo Ferreira, professor do curso de ciências da computação da Universidade Prebisteriana Mackenzie. “Ao resolver o problema de uma rede descentralizada, ela acaba centralizando.”

A mudança na infraestrutura pode ser essencial para popularizar a Ethereum no mercado. Em nota enviada para clientes na sexta-feira, 9 de setembro, os analistas do Bank of America Alkesh Shah e Andrew Moss afirmaram que o The Merge pode acelerar a adoção institucional de tecnologias embarcadas em blockchain, justamente pela diminuição no consumo de energia.

A principal preocupação das companhias está em torno de investimentos em ativos considerados pouco sustentáveis, o que fere a cartilha ESG que, nos últimos anos, passou a fazer parte das grandes corporações. Sem o consumo alto de energia elétrica, o uso de tecnologias embarcadas na Ethereum passa a ser opções viáveis.

De forma mais prática, a mudança deve impulsionar diretamente as empresas que já trabalham com o setor de criptoativos. Uma análise de Kenneth Worthington, do JP Morgan, aponta que a Coinbase pode se beneficiar do The Merge com uma receita incremental de até US$ 650 milhões por ano com as operações de staking.

A previsão de aumento de receita chega em boa hora para a companhia. Avaliada em US$ 20,6 bilhões, a empresa listada na Nasdaq já perdeu mais de 72% de valor de mercado desde o começo do ano.

Nesta quarta-feira, com o início da operação de mudança na Ethereum, as ações da Coinbase fecharam o pregão americano com alta de 4,5%. Nos últimos cinco dias, as ações subiram 14%.