Por estar hoje no cargo de country manager da Visa do Brasil, muitas vezes, sinto que as pessoas pensam que, para chegar até aqui, trilhei uma carreira única na indústria financeira e de pagamentos. Realmente trabalhei por muito anos nesse setor, aprendi e continuo aprendendo bastante até hoje por ser um negócio extremamente dinâmico e desafiador. Mas não fiz só isso.

Já trabalhei em todos os lugares listados na apresentação deste artigo e isso foi muito importante para chegar aonde cheguei. Agenciei artistas e trabalhei com trio elétrico. Coordenei um site de frete de caminhão no Brasil inteiro. Fui responsável pela área comercial de um jornal de grande circulação. Assim como também fui o cara que você chama para consertar o seu computador pessoal ou da empresa.

Em algumas dessas empresas, o negócio foi à falência, mas deixarei para dividir isso com vocês em outra oportunidade. A questão principal que me fez escrever este texto é enxergar o quão enriquecedora essa trajetória foi para mim, embora não seja tão valorizada.

Faço muita mentoria com funcionários da Visa e do mercado e notei que algumas pessoas escondem e tiram dos currículos experiências que não estão relacionadas ao setor em que atuam. Sempre digo que isso é errado! Esses momentos são fundamentais para a construção de um profissional mais capacitado e mostram como ter visões de indústrias diferentes é extremamente agregador. E sempre uso a minha carreira como exemplo disso.

A primeira coisa que aprendi, ao passar por indústrias distintas, diz respeito a entender o funcionamento das estruturas de influência. Na minha ignorância, achava que o CEO ou um diretor sênior eram as pessoas certas para me conectar. Mas isso muda muito de setor para setor. Eu chegava em muitas empresas para oferecer meu serviço com a melhor apresentação, mas estava falando com a pessoa errada.

De nada adiantava estar na frente do presidente se, no fim das contas, quem iria decidir a contratação da solução que eu ofertava era alguém da equipe dele: um gerente, analista ou coordenador. Esse era o cara que deveria engajar. Isso eu aprendi com o tempo.

Saber quem é a pessoa que influenciará uma decisão dentro da empresa e qual a mensagem correta foram aprendizados que só conquistei por ser fornecedor, por ser agência e por ser prestador de serviços. Estar do outro lado do balcão me fez ser um profissional melhor nesse lado do balcão.

Aliás, esse ponto é importante. Ser empregado é diferente de ser empreendedor. Ao ser dono do meu próprio negócio, eu não tinha contracheque garantido e passei a entender que as coisas tinham um preço. Não ia deixar uma luz acesa sem necessidade, por exemplo. A conta chegaria no fim do mês. Carrego isso até hoje comigo – e sou um empregado melhor por ter aprendido a importância desse cuidado. Os sentimentos de pertencimento e de ownership são fundamentais para qualquer negócio, mesmo esse negócio não sendo seu.

Os sentimentos de pertencimento e de ownership são fundamentais para qualquer negócio, mesmo esse negócio não sendo seu

A diversificação profissional também me ensinou a entender que o tempo é relativo. Às vezes, eu participava de reuniões e, na ansiedade de ver o negócio acontecer, me frustrava quando o cliente falava que me atenderia três meses depois. Achava um absurdo. Queria resolver tudo no dia seguinte. Foi aí que percebi que a noção de tempo para nós dois era diferente.

Três meses era o melhor e o mais próximo que aquela pessoa podia me atender, e isso não significava que ele não estava valorizando o meu trabalho. Se colocar no lugar do outro é essencial e pode abrir seus olhos para inúmeras possibilidades. O nome do jogo aqui é resiliência. Saber levantar, reavaliar e tentar de novo.

Mas, sem dúvida, o maior aprendizado, seja trabalhando com artistas, caminhoneiros ou entregadores de jornal, está relacionado ao respeito. Independentemente do seu cargo, escute o que o outro tem para te dizer.

Não ignore aquele e-mail pedindo uma reunião ou aquele contato no LinkedIn. Se você não for a pessoa correta, mostre o caminho. E, da mesma forma, você que está pedindo o encontro, entenda que o tempo de resposta ou o encaminhamento do seu pedido para outra pessoa não é descaso.

Eu tive uma experiência que sempre gosto de compartilhar. Liderando uma dessas empresas que mencionei, agendei uma reunião numa companhia importante para apresentar a solução que estava trabalhando. Fiquei uma hora e quarenta e cinco minutos esperando o executivo. Uma hora e quarenta e cinco minutos!

Quando ele desceu, me reconheceu e disse: “Ah, Teles, por que você não disse que era o Teles que havia trabalhado na empresa X? Teria atendido antes”. Sei que não fez por mal, mas respondi que eu não era o Teles da empresa X, eu era o Fernando Teles. E ponto. E que isso não deveria ser motivo para deixar alguém esperando por tanto tempo. Era falta de respeito. Decidi, a partir daquele momento, me esforçar para não ser aquele tipo de pessoa com ninguém.

Não tenham vergonha da carreira que construíram. Contratantes, valorizem a diversidade de experiência. Não é só de “tecnicidade” que se faz um profissional. Há qualidades que só a vivência traz e, no fim do dia, são esses diferenciais que serão importantes para fazer seu negócio prosperar.

Sou um profissional melhor hoje por ter orgulho do que aprendi trabalhando com frete de caminhão, com computação, jornal, trio elétrico e com meio de pagamento. O nome disso é repertório. E tenho orgulho do meu.

*Fernando Teles é presidente da bandeira de cartões Visa no Brasil

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