É indiscutível a importância da educação para um país e seus impactos positivos ou negativos (a depender do nível de qualidade e acessibilidade) a curto, médio e longo prazo.
No Brasil, os jovens são uma parte da população que sente intensamente os efeitos de um ensino defasado – do básico ao superior –, tendo em vista o desencadeamento de outras questões, como o desemprego e apagão de mão de obra.
E, atualmente, o país se encontra em uma posição desfavorável no que diz respeito à educação e empregabilidade, de acordo com o relatório Education at a Glance 2022, produzido em parceria com a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
O documento apontou que o Brasil é o segundo país com a maior proporção de jovens (35,9%), com idade entre 18 e 24 anos, que não trabalham e nem estudam, conhecidos como geração ‘’nem-nem’’.
Além disso, o relatório traz outros dados preocupantes em relação ao tema no país. Entre eles, estão: a média de pessoas que ingressam no ensino superior e concluem a graduação no período previsto é de 33%. Enquanto isso, 49% dos estudantes só concluem o curso depois de três anos do prazo programado e 18% desistem da graduação ou terminam em um tempo ainda maior.
A realidade brasileira é altamente complexa, combinando baixa qualidade da educação básica da rede pública que não prepara adequadamente os jovens para os desafios atuais de mercado – principalmente após a pandemia, que acentuou as perdas de aprendizagem.
A transformação tecnológica, cuja automatização tem deixado, cada vez mais, os trabalhos repetitivos, atingindo principalmente jovens com baixa formação educacional, que ocupariam essas posições; e, finalmente, a falta de oportunidades no mercado de trabalho decorrente de um crescimento econômico aquém das expectativas.
Para ser solucionada, essa equação capciosa demanda, não só esforços governamentais, como também requer a mobilização corporativa, de grandes e pequenas empresas. Esse movimento faz sentido, principalmente ao lembrar que as empresas são a força motriz do Brasil, com influência tão expressiva a ponto de serem protagonista até na geração do PIB (Produto Interno Bruto).
Portanto, uma de suas responsabilidades, além de gerar riqueza para o país, é estar na vanguarda do processo de reversão dos dados referentes à geração “nem-nem”, canalizando sua energia e investimentos para iniciativas educacionais e de empregabilidade.
Nesse contexto, as opções de vias a serem pavimentadas até chegar a esse resultado são plurais. Estas contemplam desde parcerias com empresas de educação – seja custeando cursos de formação profissional, seja oferecendo programas relacionados ao custo de vida propriamente dito para alunos de alto potencial e/ou que se enquadrem em critérios de vulnerabilidade econômica – até participação ativa em ações de incentivo ao trabalho, voltados para jovens, como o Programa Jovem Aprendiz, e fomentando vagas de estágio.
Há ainda os formatos de investimento em educação e empregabilidade mais robustos, a exemplo do Employer University (chamado também de Employer U e, em tradução livre, universidade conectada ao empregador).
Grandes players, como a própria XP Inc., o Hospital Israelita Albert Einstein e a Weg, criaram suas próprias faculdades a fim de oferecer uma formação de qualidade, integrada aos seus campos de práticas reais e conectada às demandas de mercado, para diversos públicos.
Além disso, estes ecossistemas de educação superior podem ser “plugados” a um nível elevado de empregabilidade, visto que, ao longo dos cursos – formulados também com base nas necessidades e tendências da empresa –, são oferecidas oportunidades de emprego dentro das próprias companhias.
Outro fator que deve ser levado em consideração são as iniciativas dedicadas aos grupos minorizados, que garantem a inclusão e a diversidade. Exemplos disso são processos afirmativos e bolsas de estudo exclusivos para mulheres, pessoas negras e pardas e com deficiência.
Os diversos formatos de cursos promovidos pela faculdade corporativa (graduação, pós-graduação e MBAs, e de curta duração) também asseguram uma maior aderência, já que atendem ao amplo espectro de objetivos: capacitação para ingressar no mercado de trabalho, especialização para ascender na carreira, ou fazer uma transição de carreira a partir de uma nova formação.
Por fim, há um paradigma que precisa ser quebrado: a centralização dessas alternativas, muitas vezes, fica na região Sudeste. Para isso, a aplicação da tecnologia se torna um divisor de águas, possibilitando uma amplificação do alcance, sem que haja perda de qualidade, e facilitando o ingresso dos jovens brasileiros no ensino superior, e até mesmo em um emprego, independentemente do local onde moram. Na XP, por exemplo, o modelo de trabalho é “anywhere”, ou seja, os profissionais podem trabalhar de onde estiverem.
Tal projeção demonstra como seria viável contribuir, por exemplo, para um dos setores mais aquecidos, porém, com falta de profissionais qualificados para atender à alta demanda: o de tecnologia.
Isso porque as perspectivas para a área são extremamente promissoras, ao mesmo tempo que a ausência de profissionais fica mais evidente. De acordo com pesquisa da McKinsey, até 2030, o Brasil terá um gap de um milhão de vagas não preenchidas em tecnologia.
Além disso, no que tange à jornada acadêmica, segundo dados da Gallup, apenas 11% dos líderes de negócios concordam que os jovens estão sendo bem-preparados para o mercado de trabalho, ou seja, também há uma dor a ser sanada dentro das instituições de ensino superior.
Portanto, é fato que a situação dos jovens que não trabalham nem estudam no Brasil é urgente. Por outro lado, essa análise também deve ser propositiva à medida que abrange soluções possíveis e tangíveis, não só no campo público, como também no privado – e com certo protagonismo, dado o potencial de iniciativas empresariais, sejam estas de pequenas ou grandes proporções, afinal, ambas impactam vidas positivamente.
*Paulo de Tarso é CEO da XP Educação e sócio da XP Inc.