Os carros autônomos da Waymo já rodaram mais de 10 milhões de milhas em três Estados americanos. A empresa já começa a vender os seus sensores para outras empresas do setor automobilístico e o seu serviço Waymo One, um espécie de Uber dos veículos sem motorista, já está operando em fase experimental.
Mesmo assim, o CEO da Waymo, John Krafcik, diz que a empresa está apenas começando. Nesta entrevista exclusiva ao NeoFeed, ele faz um retrospectiva desde o começo da empresa, como uma divisão do Google, até a sua independência, além de revelar os próximos passos da empresa.
Acompanhe os principais trechos da entrevista:
A Waymo começou com um projeto do Google, mas se tornou uma empresa separada, com metas independentes. Você poderia comentar um pouco como tudo começou?
Foi um processo gradativo. Começamos como um projeto de carros autônomos do Google em 2009, quando nossa meta era percorrer dez rotas de 100 milhas de forma autônoma e ininterrupta a bordo do Toyota Prius. Meses depois, celebramos o fato de termos rodado autonomamente mais milhas que qualquer outra empresa.
Foi, então, que passaram a desenvolver os próprios sensores?
Em 2012, adicionamos Lexus RX450h a nossa frota e convidamos alguns engenheiros do Google para dar início aos testes primários da nossa tecnologia em rodovias. Foi nesta mesma época que passamos a desenvolver, do zero, os nossos sensores.
Mas o aprimoramento dos sensores só seria possível levando em consideração um ambiente real?
Por isso, voltamos a nossa atenção a ambientes complexos em 2015, investigando como transitar pela cidade num cenário que envolve pedestres, obras nas ruas, semáforos e outras variáveis. Tateamos o que poderia ser o mercado de carros autônomos com o Firefly, nosso veículo customizado, sem volante ou pedais, mas equipado com aqueles sensores desenvolvidos pela própria equipe. Neste mesmo ano, nosso amigo Steven Mahan, que é cego, se tornou o primeiro a pegar carona a bordo de um carro completamente autônomo em vias públicas em Austin, no Texas.
Esse fato teve também muito impacto internamente?
O que posso dizer é que, já no ano seguinte, em 2016, aconteceu a emancipação. Deixamos o Google para sermos a Waymo, uma empresa de tecnologia focada em carros autônomos, com a missão de fazer a circulação de pessoas e de produtos mais seguro e mais fácil.
O Firefly não passava dos 25 km/h, tinha apenas dois bancos e outros "detalhes incômodos". Para mexer de verdade com o mercado de veículos autônomos, seria necessário um veículo completo, como que vemos rodar por aí. Foi nessa época que começaram as parcerias com as grandes montadoras?
Ainda em 2016 firmamos parceria com a Fiat Chrysler America e incorporamos as minivans híbridas Chrysler Pacifica, fazendo deste modelo o nosso primeiro veículo desenvolvido em massa completamente integrado com o hardware desenvolvido pela Waymo.
Foi quando os testes começaram?
Isso. Em 2017, fizemos o convite a todos os residentes de Phoenix, no Arizona, a se juntarem a nós no primeiro programa-piloto público de veículos autônomos. O feedback desses primeiros passageiros foi crucial para pudéssemos lapidar nossa tecnologia e serviço. Além disso, nossos carros passaram a fazer test-drives em vias públicas sem ninguém sentado no banco do condutor.
O Waymo One, programa de caronas semelhante ao da Uber, foi portanto uma evolução natural?
Sim. Colocamos a Waymo One em prática em dezembro de 2018, também em Phoenix, no Arizona. Agora seguimos firme nesta jornada de desenvolver a tecnologia mais avançada no setor de carros autônomos, a fim de democratizar a mobilidade urbana, dando às pessoas liberdade de circulação e poupando milhares de vidas que são perdidas em acidente de trânsito todos os anos.
Recentemente a Waymo alcançou a marca das 10 milhões de milhas rodadas. Qual foi o ponto de virada para chegar até aqui?
Atingimos a meta das 10 mil milhas dirigidas em vias públicas em outubro de 2018 e percebemos que, neste setor, a experiência é a melhor professora. E ela fica ainda melhor quando ela vem diversificada e desafiada.
"Estamos trabalhando para automatizar também o ramo de entregas e logísticas"
Como garantiram esse aprendizado mais diversificado?
Todos esses milhares de quilômetros que percorremos foram em 25 cidades americanas. Algumas na sempre ensolarada Califórnia, outras no Arizona, onde há muito areia do deserto, e também em pontos de Michigan, onde neva bastante. Também usamos rodovias de alta velocidade em Phoenix e as ruas urbanas e complexas de São Francisco. Ou seja, testamos o desempenho do carro nos cenários mais variados possível.
Qual é o foco agora?
É inegável que tivemos grandes avanços nessas 10 milhões de milhas, mas nas nossas próximas 10 milhões de milhas queremos focar em transformar nossa tecnologia de ponta em um serviço que possa mesmo servir à população de forma segura, confortável e conveniente.
A Waymo começou sua jornada anos atrás, mas outras grandes empresas entraram em campo desde então. Você sente que há uma espécie de "corrida" pelo primeiro carro realmente autônomo? Como a Waymo encara esses novos competidores?
Sinceramente, não invisto muito tempo pensando na concorrência. Em vez dessa preocupação, prefiro manter o foco na nossa missão, que, de novo, é desenvolver uma forma rápida e segura de transporte. Ainda é muito cedo para a Waymo e para toda a indústria de veículos autônomos. Vamos começar agora o nosso serviço internacional de carona autônoma, para que mais pessoas possam experimentar essa tecnologia. Ainda que a comercialização e a escalabilidade de um negócio seja de extrema importância, a educação do consumidor e a interação com o produto também são decisivos para o sucesso de uma tecnologia como essa, que acreditamos ter o potencial de salvar vidas.
Por que a Waymo decidiu vender o LIDAR? Existe uma pressão para que seja rentável?
Começamos a vender nossos LIDAR a parceiros para estimular o crescimento de sua aplicação para além dos veículos self-driving e para apressar a produção em escala dessa tecnologia, porque o desenvolvimento em grandes volumes deixa o sensor mais acessível também. (Obs: LIDAR são os sensores que permitem o carro dirigir sozinho)
E, por falar em escala, o negócio da Waymo já é escalável?
Sim e estamos apenas começando. Em longo prazo, teremos muitas variáveis. Além do serviço de carona, que já funciona 24 horas por dia em Phoenix, estamos trabalhando para automatizar também o ramo de entregas e logísticas. Também faz parte do nosso plano conseguir integrar essa tecnologia ao trânsito. Para isso estamos nos aproximando de montadoras. Daí a decisão de vender o LIDAR a parceiros selecionados.
"O Brasil logicamente nos interessa bastante, até pelo tamanho do país e de sua população"
Todos os testes e análises da Waymo foram feitas nos EUA, como a companhia está se preparando para novos mercados?
Optamos por dar um passo por vez com o nosso negócio. E, novamente, estamos plenamente cientes de que isso é apenas o início. Foi uma decisão estratégica e um tanto lógica começar por aqui, mas ainda que estejamos, no momento, focados no mercado americano, estamos ansiosos para expandir as fronteiras. E isso vai acontecer com o tempo.
O Brasil faz parte dos planos da Waymo?
Temos aspirações globais. O Brasil logicamente nos interessa bastante, até pelo tamanho do país e de sua população. Dito isso, não acho que conseguiremos ter novidade em breve por ali. Pelo menos nos próximos dois anos, acho bastante improvável que tenhamos veículos autônomos em São Paulo, por exemplo, que apresentam outros desafios e malha urbana.
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