(Atenção: essa reportagem contém spoilers sobre a 8ª temporada)

Antes de rodar cada temporada, a equipe da série “Homeland” costumava se reunir com profissionais das agências de inteligência para discutir questões de segurança nacional. As longas jornadas ficaram conhecidas como “Spy Camp” (acampamento de espionagem).

A iniciativa era o que ajudava os roteiristas, produtores e atores da série a deixarem as tramas em sintonia com o noticiário. Muitas vezes, “Homeland” refletia os desdobramentos do mundo das relações internacionais com um realismo espantoso.

Um exemplo foi a mudança de foco na quinta temporada, transferindo o olhar que estava sobre o Oriente Médio para a Europa. Inicialmente, os fãs não entenderam porque o enredo se afastaria da região mais associada ao terrorismo.

Mas os ataques em Paris, em novembro de 2015, tornaram aquela temporada uma espécie de presságio. Ficou claro que o programa que se inspirava no mundo real estava constantemente reinventando as suas narrativas, conforme os conselhos dos peritos em assuntos de segurança nacional.

“Como alguém que se arrisca no negócio do faz-de-conta, passei a ter uma admiração infinita por quem faz isso na vida real”, contou a atriz e a produtora executiva Claire Danes, referindo-se aos profissionais dos serviços de inteligência.

Claire se reuniu com o ator Mandy Patinkin e com os criadores da série, Howard Gordon e Alex Gansa, em um evento online, com cobertura do NeoFeed. De suas casas, eles relembraram momentos de “Homeland”, em clima de despedida.

A série que abordou o terrorismo, os aspectos falhos dos serviços secretos, a diplomacia americana, a influência da Rússia no governo dos EUA e as campanhas da desinformação, entre outros temas, chegou este ano à oitava e última temporada. Nos EUA, a média de audiência da temporada foi de 5 milhões de espectadores por episódio (somando todas as plataformas).

Nos EUA, a média de audiência da temporada foi de 5 milhões de espectadores por episódio (somando todas as plataformas)

A temporada derradeira está em exibição no Brasil pelo canal Fox Premium, além das sete primeiras temporadas que estão disponíveis na Globoplay. As mesmas sete temporadas chegaram neste mês ao catálogo de outra plataforma de streaming, a Amazon Prime Video.

Desde que estreou, em 2011, “Homeland” coleciona 38 indicações e oito vitórias no Emmy, o prêmio que é considerado o Oscar da televisão. Em 28 de julho, quando saem as indicações ao Emmy 2020, a série tem chance de reconhecimento também pela oitava temporada.

Pelo papel de Carrie Mathison, a bipolar agente da CIA (Agência Central de Inteligência), Claire está cotada para mais uma indicação ao Emmy de melhor atriz em série dramática.

Ela já conquistou a estatueta duas vezes pela performance, em 2012 e 2013. “A série também me deu um gato, que eu trouxe das gravações no Marrocos”, brincou ela.

Instaurando sempre uma atmosfera de tensão, a série foi, nas palavras de Claire, não necessariamente um espelho fiel dos acontecimentos do mundo real. “Mas uma discussão sobre o que está acontecendo, uma visão paralela”, comentou a atriz.

Também houve apostas que se revelaram um erro de cálculo. A sexta temporada, que estreou em 2017, apresentou uma presidente mulher no comando da Casa Branca. Provavelmente porque a equipe de roteiristas acreditava na vitória de Hillary Clinton sobre Donald Trump quando a temporada foi concebida e gravada.

Até o episódio final, que recebeu elogios da crítica especializada, foi inspirado em uma personalidade verídica. E como a maioria dos episódios, o desfecho foi escrito 72 horas antes da gravação, já que a ideia dos roteiristas era sempre incorporar, quando possível, aspectos da atualidade na história.

“Como no último episódio Carrie iria morar com Yevgeny Gromov (Costa Ronin) na Rússia, onde eles ficariam por dois anos, passamos um bom tempo pensando no que ela poderia estar fazendo lá nesse período”, contou o criador, roteirista e produtor Alex Gansa.

Buscando algo orgânico do ponto de vista narrativo e, ao mesmo tempo, com força dramática, Gansa encontrou a solução ao ver um pôster sobre um livro de memórias prestes a ser lançado.

Era a obra de Edward Snowden, o delator do sistema de espionagem global dos EUA. O analista de sistemas ganhou notoriedade ao divulgar documentos confidenciais da NSA, a Agência de Segurança Nacional dos EUA, em junho de 2013.

“Quando Snowden divulgou as informações e os segredos, ele fez isso na Rússia. E naquele momento, antes de rodarmos o último episódio, ele estava justamente publicando as suas memórias”, afirmou Gansa, referindo-se ao livro “Permanent Record”, lançado em setembro.

“Era exatamente isso que Carrie deveria estar fazendo nos últimos dois anos na Rússia: escrevendo um livro em que detalhava as reclamações que tinha da CIA”, disse Gansa. Claro que o livro será apenas mais uma das artimanhas da protagonista, sempre incansável na luta contra o terrorismo.

E como Claire viu o relacionamento da sua personagem com o agente russo Yevgeny Gromov? Carrie baixou a guarda por amor ou só fingiu estar do lado dos russos para poder se virar contra eles? “É a grande pergunta. É um dos vários paradoxos que tornaram a narrativa de ‘Homeland’ tão rica ao longo dos anos”, contou Claire.

“Carrie é do tipo que consegue usar Yevgeny e, ao mesmo tempo, ter um relacionamento íntimo com ele. O fato de Carrie respeitá-lo e se sentir atraída pelo agente, não a impede de ver na relação uma oportunidade de salvar o país dela. Nem que seja às custas do país dele”, concluiu a atriz.

Siga o NeoFeed nas redes sociais. Estamos no Facebook, no LinkedIn, no Twitter e no Instagram. Assista aos nossos vídeos no canal do YouTube e assine a nossa newsletter para receber notícias diariamente.