Desde a sexta-feira 12 de junho, a Meca do cinema e da TV mundial está autorizada a reabrir as suas portas e retomar a produção interrompida em março. Mas nada de cenas de beijo, sexo ou de luta, por enquanto. Os buffets nos intervalos de filmagem também estão proibidos, assim como os roteiros em papel e as cenas envolvendo multidão.

Pelo menos é isso que o recém-criado protocolo de higiene e segurança impõe, no sentido de evitar o contágio do novo coronavírus entre os profissionais de Hollywood. Além das recomendações básicas, de uso de máscara, de higienização constante das mãos e de manter o distanciamento nos sets, é longa a lista de diretrizes aprovada pelas autoridades sanitárias do condado de Los Angeles.

Apresentadas em documento de dez páginas, as medidas incluem desde o fim das chamadas abertas para os testes de atores nos estúdios até o contato mínimo entre os cabeleireiros, os maquiadores e os figurinistas com o elenco. A assistência só deve ser prestada se o ator não conseguir se virar sozinho.

Diante das câmeras, os atores devem contracenar o mais distante e rápido possível, por estarem sem máscara. Também está vetada qualquer cena em que alguém do elenco precise tocar o rosto.

Nos intervalos de filmagem, qualquer um que passe perto do ator sem máscara (incluindo outro ator) deve fazê-lo em silêncio, para evitar a propagação do vírus por gotículas durante a fala.

A partir de agora, as equipes devem ser menores e com o maior número possível de profissionais trabalhando remotamente. As produções que exigem plateia ao vivo, como as de sitcoms, devem manter as pessoas sentadas a uma distância de pelo menos 1,8 metro umas das outras.

Como não é apenas a segurança da equipe técnica e do elenco que está em jogo, os estúdios ainda devem continuar fechados nas próximas semanas. Além das preocupações com a saúde, há ainda algumas considerações financeiras antes que atores, diretores, produtores e técnicos possam voltar ao trabalho.

Os profissionais do setor calculam que as medidas especiais inevitavelmente deixarão as produções cerca de 20% mais caras. Não só pelo custo adicional com a limpeza, mas pelas autoridades recomendarem jornadas de trabalho mais curtas – e, consequentemente, filmagens mais longas. Talvez o aumento no orçamento não seja um problema para os blockbusters, mas certamente vai impactar o cinema independente.

“Nenhuma companhia de seguros provavelmente assumirá uma produção sem ter certeza de que todos os regulamentos serão seguidos à risca”, diz o cineasta Steven Bernstein

Há ainda uma questão importante que precisa ser resolvida, a dos seguros, já que os projetos encontram mais dificuldades na hora de garantir cobertura hoje em dia, em função da Covid-19. “Nenhuma companhia de seguros provavelmente assumirá uma produção sem ter certeza de que todos os regulamentos serão seguidos à risca”, diz ao NeoFeed o cineasta americano Steven Bernstein.

Bernstein, que também é produtor e diretor de fotografia, destaca que cada produção terá um oficial da Covid-19 de plantão, justamente para garantir o cumprindo das normas. “Mas se um ator ficar doente, interromper uma filmagem será como tentar parar um rolo compressor. É sempre um processo muito caro, de milhões de dólares perdidos”, afirma.

Mais conhecido como o diretor de fotografia de “Monster: Desejo Assassino” (2003), pelo qual Charlize Theron ganhou o Oscar de melhor atriz, Bernstein lembra que a indústria do entretenimento envolve mais de 700 mil profissionais nos EUA. “Todo mundo quer voltar ao trabalho, mas, ao mesmo tempo, está com medo”, conta Bernstein, que atualmente desenvolve dois roteiros para o cinema, escrevendo de casa.

Nas últimas semanas, os sindicatos de várias categorias trabalharam em conjunto com as autoridades sanitárias e os estúdios de cinema e as emissoras de TV para buscar um “retorno seguro”. O condado de Los Angeles e o governo da Califórnia aprovaram a reabertura da indústria de entretenimento, em função de o número de casos de Covid-19 na região estar diminuindo.

“Inicialmente nós pensávamos em só voltar a trabalhar a partir de outubro”, afirma ao NeoFeed a carioca Claudia Castello, montadora de filmes e séries de TV nos EUA. Com títulos como “Pantera Negra” (2018) e “Creed: Nascido Para Lutar” (2015) no currículo, ela aguarda o sinal verde da equipe da série de ficção científica “Foundation”, da Apple TV, para retomar as atividades. “Por enquanto, não fomos chamados de volta.”

O ator Joseph Gordon-Levitt, mais lembrado por “A Origem” (2010) e “(500) Dias Com Ela” (2009), revelou ao NeoFeed que preferia esperar mais. “Como eu, muitos não se sentem confortáveis para pisar novamente em um set de filmagem. O vírus é algo tão novo que nem os cientistas conseguiram entendê-lo completamente ainda”, diz o ator.

Gordon-Levitt já se comprometeu em rodar o drama histórico “K Troop”, no papel de um major do exército que lidera a tropa contra a Ku Klux Klan no final do século 19. Mas como interpretar naturalmente, com tantas restrições, principalmente quanto ao contato físico entre os atores na cena? “Não sei. Só imagino que filmar daqui para a frente será totalmente diferente do que estávamos acostumados.”

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