Ele deixou de ser Conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos para se tornar uma ameaça à Casa Branca: o advogado John Bolton acaba de escrever um livro no qual relata os bastidores de Washington – e detona Donald Trump.

A obra, intitulada “The Room Where It Happened: A White House Memoir", ainda sem tradução para o português, expõe ao longo de 500 páginas acordos "questionáveis" supostamente estabelecidos entre Trump e líderes nacionais, além de outras polêmicas envolvendo o líder da nação mais rica do mundo. 

Um dos trechos mais sensíveis do livro fala de uma conversa, em junho de 2019, entre Donald Trump e o presidente chinês Xi-Jinping. Segundo Bolton, o encontro entre os dois líderes aconteceu em Osaka, durante reunião do G20, e Trump teria oferecido a Xi isenção de certas taxas de importação em troca da compra produtos agrícolas americanos.

A negociação teria sido motivada pela tentativa de reeleição do atual mandachuva da Casa Branca, que sabe que os votos dos fazendeiros podem ser decisivos na corrida eleitoral deste ano. 

Ainda sobre o relacionamento entre os presidentes dos EUA e China, Bolton afirma que o republicano pareceu não se importar com as notícias de que campos de concentração chineses estavam sendo usados para o aprisionamento e "reeducação" de críticos do regime de Xi. 

Citando o tradutor oficial do encontro, o livro revela que Trump teria aprovado a iniciativa, encorajando o líder chinês a construir esses campos de concentração, porque "era a coisa certa a se fazer".

A narrativa traz outras graves acusações, como a de que, em dezembro de 2018,  o presidente americano teria se oferecido para ajudar o líder turco, Recep Tayyip Erdogan com uma investigação do Departamento de Justiça sobre um banco turco, vinculado a Erdogan, suspeito de violar as sanções dos EUA ao Irã. 

Bolton escreveu ainda sobre o desejo de Trump de invadir a Venezuela e sobre suas inúmeras queixas às sanções e outras punições impostas à Rússia. 

Em entrevista ao canal de televisão americano ABC, onde discutiu o livro e seu conteúdo, Bolton foi ainda mais duro nas palavras – e críticas ao republicano: "sua estratégia política é tão incoerente, tão desfocada, tão desestruturada e tão envolvida em seus próprios interesses, que erros graves estão sendo cometidos", afirmou.

Durante sua fala, Bolton destacou que gostaria que Donald Trump fosse presidente de um mandato só e justifica de maneira bastante enxuta sua decisão. "Eu não acho que ele tenha competência para desempenhar esse trabalho".  

Como era de se esperar, Donald Trump não aguentou as afrontas calados. O republicano recorreu ao Twitter, sua rede social favorita, para descredibilizar o agora oponente. "Dei uma chance a John Bolton, que era incapaz de ser aprovado pelo Senado, porque ele era considerado um maluco desagradável. Eu sempre gosto de ouvir pontos de vista diferentes. Ele se mostrou extremamente incompetente e mentiroso. Veja a opinião do juiz. INFORMAÇÃO CONFIDENCIAL!!!", postou o presidente na última segunda-feira, 22 de junho. 

Trump acena para um provável processo, sustentando sua defesa no fato de que o ex-secretário de Segurança Nacional expôs dados e conteúdos confidenciais; sensíveis ao país. 

Juristas acreditam que essa tentativa de apelo ao judiciário seja em vão – e Bolton, que é formado em direito pela Universidade de Yale, sabe bem disso.

Para além do diploma, Bolton, hoje com 71 anos, tem ainda a seu favor anos de experiência na política. Sua vida pública começou no mandato de Ronald Reagan (1985-1989), quando entrou para a equipe da Agência Americana de Desenvolvimento Internacional. Na eleição de George H. W. Bush (1989-1993), ele veio a se tornar secretário do estado para assuntos exteriores

Durante o governo de George W. Bush (2001-2009), Bolton atuou primeiro como subsecretário de Estado para controle de armas e assuntos de segurança internacional, e depois como embaixador dos Estados Unidos na ONU. 

Apesar da extensa carreira política, seu nome ficou mais conhecido por casos polêmicos, como seu apoio à guerra do Vietnã e seu envolvimento nas acusações errôneas de que o estadista iraquiano Saddam Hussein, morto em 2006, possuía armas de destruição em massa. Mais recentemente, o advogado ganhou as manchetes por se recusar a depor no processo de impeachment do presidente Donald Trump.

Questionado sobre sua a inconsistência que parece ser não colaborar com o processo e agora escrever um livro "detonando" o líder americano, Bolton se defende dizendo que "não acredita em impeachments; e que os presidentes devem ser trocados em eleições". 

Perguntado, então, sobre seu voto na eleição deste ano, o advogado, que é republicano de carteirinha, confirmou que não vai votar no democrata Joe Biden, e que pretende se abster do processo eleitoral. 

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