Se no começo da pandemia houve uma corrida generalizada, e sem motivo, para comprar papel higiênico, agora as bicicletas estão em alta – e em falta.

Por conta da paralisação da economia, as bikes se tornaram a única forma de atividade física para alguns (e de "sanidade" para outros), uma vez que o isolamento social limitou o número de exercícios físicos ao ar livre.

Em grandes lojas de varejo, como Walmart e Target, as fraturas desse mercado ainda estão expostas em corredores praticamente vazios, e sem nenhuma perspectiva de preenchimento. 

Na Amazon, a gigante conhecida pelas entregas rápidas, comprar uma bike virou um exercício de paciência: os poucos modelos disponíveis na plataforma pedem prazo de um a dois meses para a entrega. 

Esse superaquecimento "das magrelas" nos Estados Unidos foi detectado em abril. Neste mês, as vendas de bicicletas e de acessórios, como capacetes, avançaram 75%, quando comparado ao mesmo período do ano anterior, segundo a empresa de pesquisa NPD Group.

Desde que começou a monitorar o setor, é a primeira vez o setor registrou uma receita de US$ 1 bilhão. Em geral, o mercado de bikes movimenta algo entre US$ 550 milhões e US$ 575 milhões em abril.

Os modelos mais baratos, usados para lazer familiar, foram os que puxaram esse crescimento. Bicicletas abaixo dos US$ 200 viram sua procura disparar 203%, enquanto as bikes para montanhismo avançaram 150%. As vendas de modelos infantis cresceram 107% no mês.

Já na parte de acessórios, as vendas de cestas para bicicletas cresceram 85%, as garrafas com suporte para bikes avançaram 60% e os capacetes, 49%.

O aumento da demanda por bicicletas fez com que a administração de Donald Trump, que está levando em curso uma guerra comercial contra a China, suspendesse algumas tarifas de produtos chineses. E as bicicletas foram contempladas pela isenção.

Por conta disso, a maior fabricante de bicicletas do mundo, a Giant, pode retomar suas atividades nas cinco fábricas que mantém na China. "Não há lugar no mundo que consiga, como a China, levar sua produção de 0 a 100 em um instante. Parece um carro superesportivo!", disse a chairwoman da empresa, Bonnie Tu, ao The New York Times.

As bicicletas Giant destinadas ao mercado americano tiveram sua fabricação transferida para a estrutura taiwanesa da companhia em 2018, a fim de evitar os novos impostos decretados por Trump.

Operando na capacidade máxima, a Giant acredita que a normalização desse setor deve demorar um bocado, sobretudo porque não cogita expandir suas fábricas. "O boom de todo setor um dia acaba. É só uma questão de entender se o término é rápido ou gradativo", explicou Tu, sobre sua decisão de não investir no aumento da produção. 

A Giant é responsável por 70% do mercado de bicicletas da China e seus produtos abastecem mercados e marcas internacionais, como a americana Schwinn, uma das mais conhecidas nos Estados Unidos. 

O fenômeno da valorização das bikes se repete também nos sites e aplicativos de revendas. Nos apps Offerup e Letgo, especializado na comercialização de itens usados, muitos usuários aproveitam a boa fase para lucrar com as bicicletas antigas.

O assistente pessoal Scott Adams, de 47 anos, mantinha na varanda uma parte de seu passado de triatleta. Sua bike italiana, da marca Bianchi, trocou as ruas por ferrugens há mais de uma década.

"Eu namoro com a ideia de vendê-la há algum tempo, mas sempre deixo a preguiça falar mais alto, porque não é fácil passar para frente uma bicicleta cara e em estado lastimável", disse ao NeoFeed. Para sua surpresa, foram cinco dias para encontrar um comprador. 

As lojas de manutenção de bicicleta também estão saturadas de trabalho. O NeoFeed visitou duas grandes unidades especializadas em reformas de bikes e vendas de acessórios na região oeste de Los Angeles.

Em uma delas, a espera era de duas horas para ser atendido. Para uma limpeza básica de bicicleta, o prazo mínimo era de sete dias uteis. "Antes da pandemia conseguíamos fazer esse trabalho em dois ou três dias", revela Carlos Lopez, mecânico da Zone 3 Multisport, em Santa Mônica.

A alta procura e a falta de peças são as justificativas pela extensão do prazo e ninguém arrisca dizer quando e se a operação vai voltar "ao normal".

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