A Operação Carbono Oculto, deflagrada recentemente pela Polícia Federal, revelou a engenhosidade do crime organizado ao explorar vulnerabilidades das fintechs e dos sistemas de pagamento digitais.

Embora apenas algumas instituições estejam sob investigação, o impacto reputacional ultrapassou fronteiras individuais e atingiu o ecossistema financeiro. Num setor em que a confiança vale tanto quanto a liquidez, a simples associação a práticas ilícitas pode significar o abismo entre sobrevivência e colapso.

Esse cenário não é isolado. O Banco de Compensações Internacionais (BIS) tem advertido que plataformas digitais de pagamento estão entre os canais mais expostos à lavagem de dinheiro, justamente pela rapidez das transações e pela descentralização de seus modelos.

A Força-Tarefa de Ação Financeira (FATF/Gafi) estima que crimes financeiros movimentem o equivalente a até 5% do PIB mundial, o que intensifica a pressão sobre reguladores e instituições. A consequência é clara: mesmo organizações inocentes podem ser arrastadas pelo escrutínio público e regulatório.

O episódio brasileiro evidencia uma falha estrutural: a fragmentação entre jurídico, compliance, regulatório e comunicação. Muitas empresas acreditam que o cumprimento estrito de normas basta para blindá-las.

No entanto, crises de credibilidade não respeitam organogramas. Surgem nos espaços em que não há coordenação, quando departamentos atuam em silos, filtram informações entre os setores e deixam descoberto o ponto mais sensível: a confiança social.

Os precedentes internacionais são eloquentes e merecem ser exemplificados à luz do contexto brasileiro. O HSBC, implicado em operações ligadas ao narcotráfico mexicano, desembolsou US$ 1,9 bilhão em multas e permaneceu anos sob monitoramento externo. O Danske Bank, envolvido em transações suspeitas nos países bálticos, viu mais de 70% de seu valor de mercado evaporar em poucos meses. Ambos seguiam protocolos de compliance, mas falharam em compreender que legalidade e reputação não são sinônimos.

É justamente nesse ponto que se impõe uma governança mais sofisticada, apoiada em três pilares:

1. Mapeamento preditivo de riscos – com uso intensivo de dados, auditorias reputacionais independentes e inteligência analítica para antecipar vulnerabilidades.

2. Integração entre jurídico, compliance, regulatório e comunicação – protocolos conjuntos de resposta que asseguram agilidade e consistência estratégica.

3. Gestão ativa de stakeholders – atuação preventiva junto a reguladores, investidores, imprensa e sociedade civil, moldando narrativas antes que sejam capturadas pelo escândalo.

Essa abordagem inaugura um espaço novo na consultoria empresarial. Não se trata de substituir departamentos de comunicação ou agências de relações públicas, mas de criar um elo estratégico entre o C-Level e a gestão reputacional.

Foi com essa convicção que, no começo de 2025, fundamos a Fides Global Consulting. Como profissionais de comunicação, identificamos uma lacuna relevante: líderes empresariais, muitas vezes, carecem de aconselhamento direto, “Taylor-made”, que vá além do discurso público e integre jurídico, compliance, regulatório e comunicação em uma visão única.

Sob o propósito de apoiar o CEO ou o fundador na tomada de decisões críticas, oferecemos uma leitura refinada de riscos e impactos reputacionais, sempre com foco estratégico.

A lição da Operação Carbono Oculto é inequívoca: a licença social para operar tornou-se tão decisiva quanto a licença regulatória. E ela pode ser perdida não apenas pela culpa direta, mas também pela omissão diante de riscos previsíveis.

No século XXI, crises são inevitáveis. A diferença entre as empresas que sucumbem e aquelas que atravessam a tormenta está em tratar a reputação não como ornamento, mas como patrimônio essencial — tão estratégico quanto o capital e tão frágil quanto a confiança que o sustenta.

Camila Funaro Camargo Dantas, sócia-fundadora da Fides Global Consulting. Atualmente está à frente da Esfera Brasil. Formada em Comunicação Social pela FAAP, tem experiência em grandes empresas de varejo. Foi cofundadora da Cór, agência focada em cursos online, e está na Esfera desde a fundação. Iniciou no cargo de diretora de Novos Negócios e hoje é CEO.

Leandro Colon, sócio-fundador da Fides Global Consulting. É consultor de Comunicação de políticos e empresários. Foi diretor da Folha de S.Paulo em Brasília, colunista de opinião, correspondente em Londres, e passou por outros veículos em 25 anos de carreira. É vencedor de dois Prêmios Esso. Atuou como líder de Comunicação do Nubank.