Com o mundo experimentando um isolamento social inédito, até quem não contraiu o coronavírus sente no peito os "efeitos colaterais" dessa epidemia. E as ferramentas digitais podem ser um antídoto para reduzir estresse, ansiedade e até depressão.
O Tinder e o Snapchat são algumas das empresas que estão lançamento novas ferramentas, que devem chegar ao público, nesta semana, para que as pessoas enfrentem esse período de quarentena não tão isoladas.
O aplicativo de relacionamento Tinder estendeu a toda sua base de usuários a função Passaporte, que permite a conexão virtual entre pessoas em países diferentes.
Até então, esse recurso era apenas liberado para os membros pagantes, tanto da categoria Plus (US$ 9,99/mês para menores de 30 anos e US$ 19,99/mês para os demais), como da Gold (US$ 29,99/mês).
Ambas versões têm funções adicionais, como likes ilimitados, opção de "voltar" uma deslizada errada e afins. A Gold, porém, é a única que permite saber, anonimamente, quem curtiu o seu perfil.
Quem opta pela conta gratuita enfrenta algumas limitações, mas de 26 de março a 31 de abril, poderá usufruir dos benefícios da ferramenta Passaporte e procurar paqueras ou amigos em outras cidades do mundo.
O papo entre os "matches", como são chamados os perfis que se curtem mutuamente, acontece em uma janela privativa. E, em tempos de distanciamento social, é provável que o relacionamento seja estritamente digital.
Ainda assim, há quem se interesse em nutrir laços com gente no além-mar, para saber mais sobre a cultura e a vida em determinadas regiões.
Para esses usuários curiosos, o Tinder avisa que é possível escolher qualquer um dos 190 países onde atua, selecionando uma cidade por vez.
Vale lembrar, porém, que pode demorar até um dia útil para que o perfil do usuário seja mostrado naquela comunidade desejada.
Por ser uma empresa privada, o Tinder não divulga seus números de usuários, mas uma reportagem da BBC estima que o aplicativo reúna 57 milhões de usuários, dos quais 4,1 milhões são pagantes. O app está disponível em 40 línguas.
Já o Snapchat, listado na bolsa de Nova York, contou no seu último relatório, referente ao último trimestre de 2019, 218 milhões de usuários ativos diariamente, em todo o mundo.
E é pensando no bem-estar dessa enorme rede que a empresa de Evan Spiegel optou por antecipar o lançamento da ferramenta "Here For You" – "Aqui Para Você", em tradução literal.
O novo serviço é uma espécie de atendimento dentro do próprio aplicativo que visa a ajudar aqueles que estejam passando por crises emocionais ou identifiquem abalos em sua saúde mental. Também é um serviço valioso para quem precisa apoiar um familiar ou amigo em condição de vulnerabilidade psicológica.
Com esse recurso, os usuários que pesquisarem por temas como estresse, bullying, pensamento suicida e outros tópicos relacionados ao universo de saúde mental, serão direcionados a uma área dentro da própria plataforma que reúne informações de especialistas, validada pelas autoridades locais.
A princípio, o "Here For You" estrearia em abril deste ano, mas foi antecipado em razão de casos de depressão e ansiedade juvenil relatados durante o distanciamento social para combater a propagação do coronavírus.
A preocupação do Snapchat faz sentido. Com o mundo experimentando um isolamento social inédito, até quem não contraiu o coronavírus sente no peito os "efeitos colaterais" dessa epidemia, que podem incluir estresse, ansiedade e até depressão.
Ainda é incerto o aumento de diagnósticos de transtornos mentais causados pelo isolamento prolongado que o mundo está vivendo, mas a fundação americana Hope for Depression, que estuda o avanço da depressão nos EUA, informa que, anualmente, 18 milhões de adultos sofrem da doença. Isso significa que um a cada dez indivíduos maiores de idade recebem esse diagnóstico.
O tema foi abordado pelo jornal The Philadelphia Inquirer, que entrevistou o economista escocês indicado ao prêmio Nobel Angus Deaton, cujo trabalho mais recente analisa o suicídio e as causas que levam a ele.
Sobre esse tema, Deaton afirmou. "Coisas que alimentam o senso de solidariedade, como esportes e entretenimento, estão sendo retiradas das pessoas. Então, não seria irracional prever que o número de abuso de álcool, drogas e até o suicídio aumentem nesta época."
Sua colega e coautora do estudo, Anne Case, completou dizendo que, mesmo sem a pandemia do Covid-19, os Estados Unidos trabalhavam com a expectativa de 150 mil mortes decorrente de overdose ou suicídio em 2020.
Quem tenta lutar contra essas estatísticas são terapeutas e psicólogos como a Dra. Layla Jillood, graduada na Universidade de Argosy, no Canadá.
Com sua atividade clínica em Los Angeles, cidade que desde sexta-feira, 20 de março, vive o chamado "lockdown" – estado que proíbe as pessoas de saírem de casa a menos que seja estritamente necessário. Todos os comércios não essenciais à sociedade devem também permanecer fechado.
"Quem tem uma personalidade extrovertida sofre naturalmente qualquer forma de distanciamento social", diz a Dra. Jillood
Diante das ruas esvaziadas, a Dra. Jillood acredita que algumas pessoas sejam mais impactadas. "Quem tem uma personalidade extrovertida sofre naturalmente qualquer forma de distanciamento social. Mas o que estamos vivendo agora, esse isolamento por tempo prolongado, é mais um choque nessa estrutura", disse a psicóloga ao NeoFeed.
Ainda de acordo com ela, o momento faz com que diversas emoções venham à tona e "nem todos sabem lidar com isso, ou estão preparados para fazê-lo".
A Dra. Jillood assegura, porém, que o convívio, mesmo que digital, pode aliviar dores e angústias. "Acredito que quem tenha necessidade de socializar pode sentir-se satisfeito com as opções tecnológicas que temos."
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