Pela natureza da atividade, as operações nas minas subterrâneas são ambientes altamente desafiadores. Muitas estão localizadas a centenas de metros de profundidade, o que exige operações extremamente complexas. Mas, graças ao refinamento das novas tecnologias, a busca por minerais e minérios dentro da terra se torna cada vez mais segura, eficiente e sustentável.

Um dos registros mais contundentes dos avanços proporcionados pelas inovações dos últimos anos vem da Suécia. Controladas pela empresa estatal LKAB, duas das maiores minas subterrâneas de minério de ferro do mundo estão no norte do país — Kiruna, a dois quilômetros da superfície, e Malmberget, a quase 1,4 quilômetro. De lá saem 80% de todo o ferro da União Europeia.

Seria um trabalho ainda mais complicado não fosse o uso de ferramentas de última geração. Na semana passada, por exemplo, a LKAB anunciou o lançamento de um sistema capaz de simular o transporte de maquinário e materiais de trabalho grandes e pesados para dentro das minas — um dos principais desafios técnicos e logísticos da mineração subterrânea.

Ao combinar scanners a laser e ferramentas avançadas de modelagem 3D, a tecnologia permite agilizar e aprimorar o planejamento e os testes de transporte, lá no fundo da terra. Depois de fazer a varredura das áreas do projeto de mineração, a máquina processa os dados em um modelo tridimensional.

A lista de novidades é grande. Sistemas de monitoramento em tempo real permitem a supervisão constante das condições das minas, reduzindo riscos de desabamentos e acidentes. Máquinas de ventilação melhoram a qualidade do ar dentro dos túneis. Sensores soam o alerta ao primeiro sinal de liberação de gases tóxicos. Tecnologias vestíveis indicam “aqui e agora” as condições de saúde e o nível de estresse dos trabalhadores.

Em alguns casos, os mineradores podem ser substituídos por robôs em atividades arriscadas. Atualmente podem até ser programados para achar os furos nas rochas mais adequados para a instalação dos explosivos e fazer a detonação.

Há máquinas projetadas até para operar os enormes equipamentos batedores, que golpeiam a rocha extraindo grandes blocos e, em seguida, os britadores, que quebram o material em porções menores para, depois, levá-los para fora da mina. Todos esses processos são guiados remotamente, a partir de salas de controle climatizadas.

Se as inovações na mineração subterrânea tivessem de ser definidas por uma única palavra, ela seria “precisão”. Com estratégias de inteligência artificial, machine learning, internet das coisas e data science, entre outras, as minas subterrâneas ganham inclusive produtividade. A identificação exata de onde fazer uma perfuração, por exemplo, por reduzir o custo do processo, além de diminuir a produção de resíduos.

O novo sistema sueco permite simular o transporte de maquinário e materiais de trabalho grandes e pesados para dentro das minas (Foto: lkab.com)

Operada pelo governo da Suécia, Kiruna é uma das maiores e mais modernas minas subterrâneas do mundo (Foto: lkab.com)

Além de torna o trabalho nas minas subterrâneas mais seguro e sustentável, as inovações dos últimos anos podem baratear o custo de alguns processos e facilitar a recuperação da área minerada, depois do fechamento da lavra

Em tese, o impacto da mineração subterrânea no meio ambiente tende a ser menor do que o dos  projetos a céu aberto (também chamados de mineração de superfície) já que interferem menos na paisagem. Mas as ameaças existem — e devem ser minimizadas.

“Ao atuar com precisão, diretamente no minério, o dano na superfície é diminuído, assim como o risco de acidentes, que podem levar ao afundamento do solo”, diz Hernani Mota de Lima, professor da Universidade Federal de Ouro Preto (UFMG), em entrevista ao NeoFeed. Com isso, é possível garantir uma maior preservação dos recursos hídricos e da biodiversidade — o que, depois do fechamento da lavra, facilita a restauração e recuperação da área.

Globalmente, as minas subterrâneas são em quantidade inferior aos projetos a céu aberto, também chamados de mineração de superfície — mais fáceis de configurar, ainda que o potencial de interferência ambiental tenda a ser maior. Das cerca de 3,3 mil minas registradas no Brasil, apenas 4% são dentro da terra.

Mas, impulsionado pela demanda crescente por minerais e minérios, essenciais à transição energética, o mercado global de equipamentos de mineração subterrânea cresce. Avaliado em US$ 32,16 bilhões, em 2023, está projetado para evoluir a uma taxa anual composta de quase 5%, até 2032, quando deve girar ao redor de US$ 48 bilhões, informa a consultoria Fortune Business Insights.

“A mineração subterrânea demanda investimentos substanciais devido à sua complexidade técnica, necessidade de equipamentos especializados, foco na segurança dos trabalhadores, infraestrutura robusta, altos custos operacionais e adoção de tecnologias avançadas”, lê-se em documento da Frente Parlamentar da Mineração Sustentável, instalada no Congresso Nacional, em 2023.