A Apple foi a queridinha de analistas e investidores por anos, chegou a ser a empresa mais valiosa do mundo, mas está perdendo seu encanto diante dos sinais de que ficou para trás na corrida da inteligência artificial (IA). E não é só isso: a empresa não tem trazido produtos inovadores aos consumidores.

Dois dias após o evento em que apresentou sua nova linha de smartphones e outros produtos, incluindo o iPhone 17 ultrafino, as ações da Apple tiveram a recomendação rebaixada de compra para neutra pelas casas de análise D.A. Davidson e Philips Securities.

Com esses movimentos, a média das recomendações para ações da Apple — indicador da proporção entre recomendações de compra, manutenção e venda — caiu para 3,9 de 5, o menor nível desde o início de 2020, segundo dados compilados pela Bloomberg.

O levantamento aponta que apenas 55% dos analistas acompanhados pela Bloomberg recomendam a compra das ações. O índice está abaixo do observado em outras big techsNvidia, Microsoft e Amazon, por exemplo, apresentam percentuais acima de 90%.

A IA representa a principal preocupação dos analistas que acompanham a empresa. Apesar do anúncio de fones de ouvido capazes de traduzir conversas com auxílio da IA, feito na terça-feira, 9 de setembro, a companhia não conseguiu convencer o mercado de que avançou na tecnologia.

“Embora inicialmente estivéssemos animados com as perspectivas do papel da Apple no ecossistema de IA e com o potencial ciclo de grandes atualizações, ficou claro para nós que nenhuma dessas opções provavelmente se concretizará no curto prazo”, diz trecho do relatório da D.A. Davidson.

Desde o ano passado, a Apple vem tentando recuperar terreno no campo da IA. A companhia lançou o Apple Intelligence após firmar parceria com a OpenAI.

A IA tornou-se uma aposta para revitalizar a linha de smartphones, em meio ao arrefecimento da demanda, sobretudo na China, seu maior mercado depois das Américas. A empresa perdeu o primeiro lugar no ranking de smartphones mais vendidos no país no ano passado, segundo pesquisa da consultoria Canalys.

No terceiro trimestre do ano fiscal de 2025, encerrado em 28 de junho, a receita da Apple na China somou US$ 15,3 bilhões, alta de 4,3%.

Quem demonstra ceticismo há tempos com a tese de investimento da Apple é o Itaú BBA. No início do ano, na contramão da euforia do mercado com os resultados do primeiro trimestre fiscal de 2025, o banco de investimentos brasileiro afirmou que a empresa é uma “história pouco inspiradora”.

Em 2022, enquanto 23 das 28 casas de research recomendavam a compra das ações, o Itaú BBA sugeria a venda dos papéis.

As ações da Apple acumulam queda de quase 6% no ano, apesar da alta de 14% do Nasdaq 100 no mesmo período. Ainda assim, a companhia é a terceira mais valiosa do mundo, com valor de mercado de US$ 3,4 trilhões. Por volta das 15h30, os papéis subiam 1,12%, a US$ 229,32.