Em linha com o cenário observado na segunda metade de 2020, o primeiro semestre de 2021 foi marcado por um novo boom de IPOs das chamadas Special Purpose Acquisiton Companies (SPACs), ou, como são mais conhecidas, as empresas de cheque em branco, que captam recursos no mercado de capitais para fazer aquisições no prazo de até dois anos.

Entre janeiro e junho, as companhias desse perfil registraram 332 ofertas públicas iniciais no mercado americano de capitais, captando US$ 98 bilhões, segundo a consultoria Baker McKenzie. Para efeito de comparação, foram 248 IPOs nessa categoria em todo o ano de 2020.

Outros números mostram, no entanto, uma realidade bem menos positiva por trás dessa onda. Esse é o caso de um levantamento do Dow Jones Market Data, com base em indicadores compilados pela consultoria SPAC Research.

De acordo com a pesquisa, depois do pico da SPACs observado em fevereiro deste ano, as empresas enquadradas nessa categoria que abriram capital perderam cerca de US$ 75 bilhões em valor de mercado. Em agosto, esse recuo chegou à casa de US$ 100 bilhões.

O grupo em questão reúne 137 SPACs que fecharam fusões em meados de fevereiro e perderam 25% de seus valores de mercado combinados. Os dados não incluem as empresas de cheque em branco que não concluíram aquisições até o período escolhido como ponto de partida para o levantamento.

Segundo a SPAC Research, cerca de 75% dos SPACs que fecharam acordos no período estão sendo negociados abaixo de seus preços de listagem. Embora os danos sejam generalizados, as perdas estão concentradas em empresas ligadas a segmentos como energia verde e sustentabilidade.

Um dos exemplos dessa queda substancial é a Hippo Holdings, de seguros residenciais, que foi avaliada em cerca de US$ 5 bilhões quando tornou-se pública, via um SPAC, em março desse ano. As ações da empresa acumulam uma desvalorização de mais de 60% desde então e a companhia está avaliada em US$ 2,92 bilhões.

Essas perdas estão impactando fundos administrados por gestoras como a BlackRock e a Fidelity Investments, além de fundos de hedge e outros investidores que patrocinaram boa parte do boom no setor, que começou a ganhar mais fôlego no fim de 2020.

Alguns dos investidores enxergam esse contexto de retração como um ajuste e um retorno inevitável da categoria “à realidade”. Para eles, muitas das empresas que se fundem com as SPACs são avaliadas na casa dos bilhões de dólares ou mais, mas têm pouca receita.

“O ar saiu da bolha”, afirmou Roy Behren, gestor da Westchester Capital Managment e investidor em SPACs, ao The Wall Street Journal. “Esse é o custo de especular em empresas que têm um futuro potencialmente brilhante, mas incerto.”

Para analistas, a desvalorização nas ações das SPACs pode criar um ciclo negativo para as empresas que investem nesse modelo, dado que os investidores têm o direito de sacar os recursos destinados a essas companhias antes que elas concluam suas aquisições.

Caso esse cenário se concretize, haverá uma onda de SPACs abrindo capital com menos recurso, o que vai dificultar o cumprimento de suas metas e, por consequência, gerar uma queda maior nas ações.