Controladora da companhia gaúcha Be8, a holding ECB Group, do empresário Erasmo Carlos Battistella, venceu o leilão de concessão dos aeroportos regionais de Passo Fundo e Santo Ângelo, ambos no Rio Grande do Sul. Com duração de 30 anos, a empresa deve assumir oficialmente a gestão no início de janeiro de 2026.
Essa é a primeira incursão no segmento de infraestrutura do grupo controlador da Be8, líder no mercado nacional de biodiesel, que já atua nas áreas de educação e construção civil. Durante a concessão, a ECB realizará investimentos de R$ 102 milhões nos aeroportos.
Os recursos serão utilizados na ampliação dos terminais de passageiros para dobrar a capacidade, construção de novo pátio de aeronaves, ampliação do parque de abastecimento e da área de apoio às companhias aéreas. Do montante dos investimentos planejados, R$ 66 milhões serão alocados nas melhorias em Santo Ângelo, e R$ 36 milhões em Passo Fundo, justamente por já ter uma estrutura melhor.
“Nosso principal negócio é a Be8, mas tomamos a decisão, nos últimos anos, de diversificar as operações. Entre essas oportunidades, nos chamou a atenção a infraestrutura, um setor que vive uma grande deficiência no Brasil, incluindo aeroportos”, diz Battistella, em entrevista ao NeoFeed.
Segundo o empresário, a ECB pretende, a partir da experiência adquirida na gestão desses ativos, participar de outros leilões de infraestrutura no País. “A oportunidade de administrar aeroportos regionais, e um deles na região onde está instalada nossa empresa [em Passo Fundo], é o ideal para a gente entrar nesse segmento e aprender mais sobre concessões”, afirma ele.
A gestão dos dois aeroportos terá a participação da empresa francesa Egis Engenharia e Consultoria, responsável pela administração de vários aeroportos na Europa, incluindo o Charles de Gaulle, em Paris.
“Firmamos um consórcio técnico com eles, justamente pela experiência que a empresa tem na operação de muitos aeroportos. Eles não entram com recursos. A Egis vai nos auxiliar muito no plano de engenharia para ampliação desses locais”, diz o fundador do grupo ECB.
Os dois aeroportos são de responsabilidade do governo do Rio Grande do Sul e, até aqui, estavam sob controle da Empresa Brasileira de Infraestrutura (Infraero). O poder público estadual garantirá uma contraprestação mensal de R$ 609 mil à ECB. Parte da receita para a nova concessionária virá da cobrança da tarifa de embarque doméstico, de R$ 44,27.
Mesmo antes de assumir oficialmente os equipamentos, Battistella afirmou já ter iniciado conversas com Gol, Azul e Latam, as três companhias aéreas que operam nos aeroportos para ampliar a malha aérea.
Um dos primeiros pleitos é implementar a rota para Porto Alegre, que não existe em nenhum dos dois aeroportos regionais. Passo Fundo está a 290 quilômetros de distância da capital gaúcha, e Santo Ângelo, a 430 quilômetros.

“É um desafio ampliar a capacidade, já que eles têm uma malha pequena. Sair de carro de Passo Fundo para Porto Alegre leva pelo menos seis horas. Vamos garantir a infraestrutura para que essas companhias aéreas possam ampliar essas rotas”, diz ele.
Passo Fundo tem capacidade operacional de 360 mil passageiros por ano. Já Santo Ângelo recebe cerca de 70 mil. “Dá para dobrar esse volume, porque muitos passageiros usam aeroportos de perto para ir para muitos destinos, incluindo conexões para o exterior. Hoje, Passo Fundo já poderia receber mais de 600 mil passageiros.”
Além de Porto Alegre, a tendência é a de implementar voos para Florianópolis, em Santa Catarina, e para outros estados, principalmente Sul e Sudeste.
No médio prazo, a ideia de Battistella é também aproveitar o potencial econômico dessas regiões para implementar modelos de voos executivos e de transporte de cargas, principalmente as de menor porte.
Passo Fundo é a segunda região mais importante do Rio Grande do Sul, com um Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 12,5 bilhões. Santo Ângelo, situado na Região das Missões, é um importante polo agropecuário e destino turístico do estado, principalmente no segmento religioso.
“Esses aeroportos não operavam sequer aviação executiva e agora vamos explorar muito essa área. No caso das cargas, também iremos estudar. Já fomos provocados pelos dois municípios e acredito que faça muito implementar esse novo segmento”, afirma o empresário.
A ECB vai adotar um modelo sustentável na movimentação terrestre dos dois aeroportos. Assim que assumir a operação, a Be8 será fornecedora do BeVant, biocombustível lançado em 2023 pela companhia, com menor impacto ambiental, e que pode ser usado em até 100% nos motores a diesel, sem a necessidade de mistura.
A empresa já tem contrato de fornecimento do biodiesel avançado para os aeroportos de Congonhas, em São Paulo, e o de Porto Alegre. “Vamos adotar esse modelo de inovação e sustentabilidade nos dois aeroportos que iremos assumir. Eles serão clientes da Be8.”
No ano passado, a Be8 alcançou receita de R$ 7,3 bilhões. A expectativa para 2025 é que o faturamento da companhia registre crescimento próximo a 25% e alcance R$ 9 bilhões.