Em meio às discussões de como o mundo pode reduzir a dependência dos combustíveis fósseis, debate que acontece na COP28, em Dubai, o CEO de uma grande petrolífera resolveu fazer uma comparação, no mínimo, polêmica.

Majid Jafar, que comanda a Crescent Petroleum, sediada nos Emirados Árabes Unidos e é a maior empresa privada de petróleo da região, disse que “culpar os produtores de petróleo e gás pelas alterações climáticas é como culpar os agricultores pela obesidade. O problema é o nosso consumo social”.

E prosseguiu, em entrevista a CNBC, que o mundo precisará de petróleo e gás durante a transição. “Não existe nenhum cenário, mesmo o cenário mais ambicioso, que não inclua isso.”

A queima de carvão, petróleo e gás é, de longe, o maior contribuinte para as alterações climáticas, sendo responsável por mais de três quartos das emissões globais de gases com efeito de estufa.

Durante a COP28, cerca de 50 empresas de petróleo e gás assumiram o compromisso de reduzir as emissões de metano das suas próprias operações até 2030.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que o anúncio foi “um passo na direção certa” para as grandes petrolíferas e mostrou que a indústria dos combustíveis fósseis estava “finalmente começando a acordar”. No entanto, ele disse que as promessas feitas “ficam claramente aquém do que é exigido”.

Questionado sobre os comentários de Guterres, Jafar afirmou acreditar que o petróleo e o gás continuarão a desempenhar um papel importante na transição para tecnologias energéticas mais limpas.

“Com todo o respeito, talvez ele devesse começar pela própria ONU. Talvez ele devesse ter vindo para cá num barco de madeira, com velas, remando quando o vento diminuía”, disse Jafar.

Jafar disse acreditar que é imperativo produzir petróleo e gás de uma forma “mais limpa”, mas insistiu que os países de todo o mundo continuarão a depender da utilização de combustíveis fósseis.

“Na verdade, estamos a falhar nas três vertentes do chamado trilema energético: sustentabilidade, acessibilidade e disponibilidade. Temos que ter isso em mente”, afirmou Jafar.

O fato é que a crise global de energia desencadeada pela guerra da Rússia na Ucrânia causou dois efeitos nas maiores empresas de petróleo do planeta: aumentou – e muito – seus lucros e, como consequência, esfriou o discurso de investir em planos sustentáveis de longo prazo para mitigar as mudanças climáticas, que era mais enfático anos atrás, quando o setor estava perdendo dinheiro.

A reunião anual de acionistas das duas maiores petroleiras do mundo, a Exxon e a Chevron, mostrou que os investidores que defendem uma estratégia mais sustentável estão cada vez mais isolados.

Na reunião da Exxon, por exemplo, nenhuma das 12 propostas relacionadas a medidas mitigadoras de clima foi aprovada. A que propunha aumentar os relatórios de medição de gás metano da empresa foi a que teve a maior acolhida, obtendo 36% dos votos.

Os acionistas também rejeitaram a criação de um plano de resposta ao derramamento de óleo de pior cenário para suas operações na Guiana. Recebeu apenas 13% dos votos.

O caixa abarrotado de petrodólares no pós-guerra da Ucrânia, porém, falou mais alto. A Exxon, maior petroleira do planeta, obteve em 2022 um lucro recorde de US$ 55,7 bilhões – valor quase US$ 33 bilhões superior ao registrado em 2021.

Os investidores da Chevron, segunda maior petroleira do mundo, também rejeitaram propostas sobre a meta de redução de emissões dos clientes na reunião anual.

Mas ao menos aprovaram a criação de um comitê do conselho sobre o risco de descarbonização e um relatório sobre o impacto do fechamento de instalações e transições de energia no trabalhador e na comunidade.

A Chevron registrou lucro recorde em 2022, de US$ 35,5 bilhões, alta de 127% na comparação com 2021.