Passada a virada do ano, o balanço do desempenho em 2023 combinado com as expectativas projetadas para 2024 ainda domina boa parte da agenda de diversos setores da economia. E, nessa matemática, um segmento, em particular, tem uma boa dor de cabeça pela frente: a indústria de private equity.
O “problema” em questão se traduz no volume de recursos nas mãos das gestoras que atuam nesse espaço. Dados da S&P Global Market Intelligence mostram que, até 15 de dezembro de 2023, essas empresas somavam um recorde de US$ 2,59 trilhões em reservas de caixa.
Segundo o levantamento da consultoria, quase um quarto desse montante estava nas mãos dos 25 maiores grupos globais de private equity. Entre eles, as gestoras Apollo Global, Blackstone, KKR, CVC Capital e Advent.
Esse número esconde, porém, um desafio. Diante de uma janela ainda menos propícia para os IPOs e de um cenário global morno de negociações de ativos, esses players precisam buscar opções de saída de investimentos antigos de seus portfólios e, ao mesmo tempo, colocar novos fundos em operação.
Um outro dado, da Bain & Co., reforça esse panorama. De acordo com a consultoria, o volume de desinvestimentos concluídos por gestora de private equity no último trimestre de 2023 ficou perto do menor nível em uma década, o que resultou em um acúmulo de US$ 2,8 trilhões de ativos não vendidos.
Esse retrato tem gerado bastante frustração entre os grandes investidores institucionais com recursos geridos por essas companhias. Ainda mais em um contexto recente em que eles injetaram somas consideráveis para financiar novos acordos no mercado.
Um dos exemplos recentes de companhias de private equity que engordaram seus recursos sob gestão vêm justamente da CVC Capital. Em julho, a gestora captou € 26 bilhões (US$ 29,2 bilhões) em um novo veículo, configurando, na prática, o maior fundo global no segmento.
Agora, a percepção de que é preciso dar velocidade aos desinvestimentos e colocar novos fundos para trabalhar também é impulsionada pela perspectiva de que as taxas de juros nos Estados Unidos já atingiram o seu pico, após alcançarem o patamar mais alto em décadas.
“Há muitos acordos no pipeline para o primeiro semestre e esperamos que um bom número deles seja concretizado conforme o planejado”, afirmou Carsten Woehrn, codiretor de fusões e aquisições do J.P. Morgan na Europa, Oriente Médio e África, ao Financial Times.
Em reportagem, o jornal britânico ressaltou que uma das alternativas que vêm sendo adotadas pelos grupos de private equity são “transações estruturadas”, a partir de acordos com características semelhantes a operações de dívida.
Esse formato de transação envolve, por exemplo, a inclusão de métricas de earn-out baseadas em desempenho, com valores adicionais previstos aos vendedores caso os ativos tenham um desempenho acima do esperado.
Na ponta das oportunidades de mercado, as expectativas dos bancos de investimento e de grupos de private equity para um outro modelo que deve ganhar tração nessa conjuntura: os acordos em que os players do setor compram unidades de negócios de grandes empresas.
Em 2023, a maior transação de private equity registrada veio justamente nesse formato. No mês de julho, a gestora GTCR comprou uma fatia majoritária da Worldpay, em um acordo fechado com a Fidelity National Information Services (FIS) e avaliado em US$ 18 bilhões.
Com a aquisição, a FIS recuou do plano inicial de abrir capital da Worldpay e, ao vender uma participação de 55% na operação, embolsou um total de US$ 11,7 bilhões.