O namoro entre a Gama Investimentos e a KKR vinha se arrastando desde o ano passado. Por mais que a empresa brasileira de estruturação, gestão e controles de feeder funds quisesse trazer para o Brasil a gestora americana com US$ 504 bilhões de ativos sob gestão, bastante conhecida pelos seus fundos de private equity, a janela estava fechada.
Agora, esse cenário parece um pouco menos nebuloso. Nos próximos dias, pela primeira vez, a KKR será distribuída no País. O primeiro fundo será o KKR Global Impact, lançado em 2018 para investir em empresas que trabalham para solucionar os desafios globais, que ficará disponível nas plataformas.
“Estamos com uma captação positiva em todos os meses do ano. Ela é pequena, mas o recorte do primeiro trimestre já vai mostrar uma foto bonita para o investidor”, diz Bernardo Queima, CEO da Gama Investimentos, ao NeoFeed. “Com isso, a diversificação volta a fazer sentido e fincamos a bandeira no mercado privado lá de fora.”
Neste primeiro momento, o fundo da KKR será distribuído apenas para o investidor profissional, aqueles com mais de R$ 10 milhões no mercado financeiro. O cenário deve mudar assim que o novo marco regulatório dos fundos de investimento, que deveria ter entrado em vigor em 3 de abril, mas foi adiado para 2 de outubro, começar a valer.
As novas regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) beneficiarão, principalmente, os pequenos investidores, que passam a ter acesso a produtos antes só disponíveis para um investidor classificado como qualificado ou profissional.
“As novas regras corrigem a anomalia na parte internacional. Era possível comprar a ação de uma empresa, como a Tesla, mas não um fundo de um gestor experiente com o melhor track record”, diz Queima.
Atualmente, a empresa oferece 20 estratégias ativas de sete gestores, como os estrelados Howard Marks, da Oaktree, e Ray Dalio, da Bridgewater. Como um feeder fund, o papel da Gama é, de forma simplificada, "traduzir" esses fundos estrangeiros para o português, com todas as informações voltadas para o investidor local - inclusive o aporte em moeda nacional.
Na segunda quinzena de março, o Bridgewater Pure Alpha Major Markets, um fundo macro de retorno absoluto de mercados, entrou na prateleira para os investidores acessarem.
Estão previstas a chegada, nos próximos meses, de fundos da Índia, do Japão e small caps de empresas americanas. “Queremos cada vez mais ser um hub internacional”, diz o CEO da Gama.
O investimento offshore já é uma realidade para o mercado brasileiro. Há possibilidade do aporte direto, via Avenue, por exemplo, ou por meio das plataformas como XP e BTG.
Nas últimas semanas, como mostrou o NeoFeed, o BTG mexeu nas cadeiras da distribuição de fundos de terceiros e colocou o gestor William Landers para liderar a área de Nova York. O foco é justamente a estruturação e gestão de fundos no Brasil destinados a investir recursos em fundos no exterior geridos por estrangeiros.
Para Queima, esse mercado de diversificação no exterior ainda é uma esquina e não virou uma praça. O tamanho é tão pequeno que a competição ainda não virou concorrência. O diferencial será o pilar educacional para mostrar as diferentes estratégias e as regras de alocação.
A gestora de feeder funds começou 2022 com R$ 5 bilhões de ativos sob gestão e a expectativa de fechar o período com um crescimento expressivo. A captação no primeiro semestre vinha sendo, em média, de R$ 500 milhões ao mês, o que indicava um montante de R$ 10 bilhões a R$ 12 bilhões no ano.
Mas, no segundo semestre, com juros em alta e renda fixa atrativa, a onda de saques provocou uma reviravolta e o ano terminou negativo, com R$ 3 bilhões sob gestão.
“A expectativa para este ano é fechar em R$ 6 bilhões ou pelo menos recuperar os ativos sob gestão do fim de 2021”, afirma Queima. “Há toda a expectativa com os novos produtos, mas também negócios importantes com fundos institucionais e exclusivos para sair.”
Gama sem Itajubá
No próximo dia 24 de abril, a Gama inaugura o seu novo escritório na Faria Lima, perto do prédio do UBS. Esse é um marco importante da separação da Itajubá.
Em dezembro de 2021, a HMC Itajubá, que era a pioneira na distribuição de produtos alternativos para investidores institucionais, incorporou a Gama para trabalhar o feeder fund com as plataformas e oferecer os fundos dos gestores estrangeiros para o varejo.
Mas, no fim do ano passado, os sócios decidiram segregar as estruturas. Cada um foi para um lado, formando duas empresas: a Itajubá Investimentos e a HMC Capital, controladora da Gama. A explicação para a separação é que houve um desalinhamento sobre como fazer a alocação de recursos: um lado enxergava oportunidades tanto locais como internacionais e o outro, só locais.
Com isso, a Itajubá Investimentos parte para voo solo com o sócio-fundador Carlos Garcia e a distribuição de 12 gestoras, como Vista, Ibiúna, RPS e Giant Steps, para investidores institucionais locais. Com R$ 40 bilhões, a carteira de relacionamento da Itajubá conta com 300 fundos de pensão, 100 familly offices e 20 seguradoras.
Do outro lado, Queima, Leonardo Camozzatto, Guilherme Sousa e Agnaldo Andrade mantiveram a sociedade com a HMC Capital, a gestora com escritórios em oito países, que abriu as portas para a distribuição dos produtos estrangeiros no Brasil.
Agora sem a Itajubá, a HMC Capital, sob a liderança de Camozzatto e Andrade, vai continuar no mercado de distribuição de gestoras, mas sem toda a carteira de contatos com os investidores institucionais. Ao contrário da Gama, que continua como o feeder fund das gestoras estrangeiras para o varejo.