Em uma transação surpreendente o Itaú Unibanco acaba de anunciar a compra de 35% de participação na Avenue Securities com a possibilidade de assumir o controle da empresa especializada em investimentos no exterior. Neste primeiro momento, o negócio chega em quase R$ 500 milhões.

Pelo acordo, nessa primeira tranche o Itaú vai desembolsar R$ 160 milhões em um aporte primário e outros R$ 333 milhões em um aporte secundário. Depois de dois anos, o banco poderá comprar mais 15,1% da avenue assumindo o controle da companhia fundada por Roberto Lee. E, cinco anos depois da primeira etapa, terá a possibilidade de comprar 100% das ações.

Segundo o NeoFeed apurou, o valuation pré-money da Avenue nesse primeiro momento chega em R$ 1,25 bilhão e tanto Igah Ventures como Softbank, investidores institucionais da corretora, continuarão como acionistas. O deal ainda precisa ser aprovado por órgãos reguladores e a gestão da empresa continuará a mesma.

O que se espera é que o Itaú assuma duas cadeiras no conselho de administração da Avenue, hoje formado por cinco conselheiros. E parte do dinheiro que será aportado na Avenue será usada para intensificar a ativação de clientes e assessoria de investimentos.

Trata-se de uma grande tacada do maior banco privado do País na disputa pelo mercado de investimentos internacionais – um acordo costurado por Carlos Constantini, responsável pela área de wealth management do Itaú, com o aval de Milton Maluhy Filho, o CEO que vem dando um choque de gestão no banco.

Para a Avenue, que foi a primeira empresa a entrar nesse segmento no Brasil e se tornou quase um sinônimo de categoria, por sua vez, trata-se de uma mudança de patamar – uma transformação que deve proporcionar um enorme ganho de escala, o mesmo que aconteceu com a XP quando recebeu investimento do mesmo Itaú, em 2017.

O deal é vantajoso para a Avenue por dois motivos. Primeiro porque o investimento do banco na corretora trará a chancela de solidez que os investidores buscam antes de colocar suas economias em uma instituição financeira. Segundo porque abre um portentoso canal de distribuição.

O NeoFeed apurou que a Avenue será o canal de investimento no exterior oferecido aos clientes íon e Personnalité. Ao plugar a Avenue nesses dois “canhões”, a empresa e o banco conseguem sair na frente em um mercado em plena expansão. “Eles estão juntando a Avenue que já tem um grande leque de produtos a um trilionário canal de distribuição”, diz uma fonte a par do negócio.

Hoje, a Avenue tem 229 mil clientes ativos e R$ 6,4 bilhões sob custódia. Ao ser “incorporada” pelo Itaú o salto deve ser exponencial. E um IPO deve acontecer em um prazo de cinco anos. É um roteiro extremamente rápido para a empresa que começou a operar em 2019 e praticamente inaugurou a categoria de investimentos internacionais para os brasileiros.

Roberto Lee, fundador e CEO da Avenue

Em entrevistas passadas, Roberto Lee, o fundador da Avenue, chegou a dizer que o próximo capítulo da disputa pelos investidores seria no campo internacional. E isso fica mais evidente com o cenário que está sendo construído nos últimos dois anos.

Na disputa da desbancarização, com o crescimento das plataformas, a XP foi a empresa que largou na frente. Agora, no universo do investimento no exterior, o Itaú larga bem na frente ao trazer para dentro de casa uma infraestrutura pronta, montada com acesso direto a ações, ETFs, bonds, criptomoedas e banking internacional.

Já a Avenue ganha “costas quentes” na briga que se avizinha. Nos últimos meses, Inter, XP e Warren anunciaram a entrada no investimento direto nos Estados Unidos. E, segundo apurou o NeoFeed, grandes players como BTG Pactual e outros bancos incumbentes estão de malas prontas para embarcar no segmento.

Quando a XP anunciou a entrada no mercado americano, começou a correr na Faria Lima que a Avenue estaria com “os dias contados”. Agora, esse discurso vai por água abaixo. O curioso é que a própria Avenue é uma “costela” da XP e poderia ter sido lançada por Guilherme Benchimol.

Roberto Lee é um empreendedor em série que havia montado a Win e depois a Clear Corretora, comprada pela XP em 2013. Quando estava na empresa de Benchimol, liderou um plano de criar investimento direto nos Estados Unidos. Batizado de “Projeto Atlas”, acabou não indo para frente sob os domínios da XP.

Lee, então, saiu da XP para montar o negócio e, na época, teria dado um call de 20% da Avenue que poderia ser exercido pela XP. “Propus de eles entrarem não com dinheiro, mas conectando a base da XP. No dia de exercer a opção, não exerceram e quiseram executar um non compete”, disse Lee em uma entrevista ao NeoFeed em junho de 2020.

Criada com o suporte de investidores seed muito experientes no mercado, como a Vectis Partners, de Paulo Lemann, Patrick O’Grady e Alexandre Aoude; Carlos Ambrosio, ex-presidente da Anbima, Christian Klotz, da Brasil Capital, e Marco Kheirallah, ex-BTG, a Avenue foi construindo, passo a passo, um quebra-cabeça de produtos para os investidores.

Agora, com o Itaú por trás, dá outro grande passo nessa construção pela busca da hegemonia quando o assunto é investimento internacional. O Itaú, por sua vez, mostra que, apesar de ser um gigante, está se movendo rápido. A nova guerra no mercado financeiro começou.