Da mesma forma que as startups precisaram se adaptar nos últimos anos, com o crescimento acelerado dando lugar à necessidade de rentabilidade, os bancos também precisaram evoluir como trabalham seus programas de corporate venture capital (CVC) e inovação aberta.

Se antes o objetivo desses programas era convencer a organização e trazer startups, a ordem agora é fazer com que essas iniciativas tragam resultados tangíveis, seja ajudando na inovação de seus patronos, seja com retorno financeiro.

"Tem um artigo que eu gostei muito, do Paulo Emediato [CMO do fundo Oxygena], que fala que a inovação precisa sair do PowerPoint e ir para o Excel", disse Paulo Costa, CEO do Cubo Itaú, em painel durante a Febraban Tech, nesta terça-feira, 10 de junho. "Nós precisamos sair do storytelling e ir para o output [resultados]."

Assim como ocorreu com as startups, o cenário permitiu muitos programas de CVC e inovação aberta a ter flexibilidade em relação aos resultados. O hype em torno do tema de inovação também deu uma força nesse sentido.

Agora, porém, resultados é o nome do negócio, de acordo com a fala de Renata Petrovic, head de Inovação do Bradesco e responsável pelo ecossistema inovabra, iniciativa que já tem 12 anos. Segundo ela, num primeiro momento, quando a questão da inovação aberta foi apresentada, havia o desafio de equilibrar os interesses das startups com o banco e outros parceiros e demonstrar que a iniciativa poderia agregar valor às partes.

Vencida essa etapa, a demanda era por escala. Agora, o que interessa é o output. "Se antes meta era input, ou seja, quantas startups nós temos, quantas ideias foram geradas, hoje o KPI está ligado ao outuput, ao impacto que isso tem para o negócio. Isso é um processo de amadurecimento e evolução do ecossistema", afirmou Petrovic.

Neste sentido, Costa destacou a importância de se criar processos dentro dos programas de inovação, para não ficar algo personalizado, aumentando os riscos de erros de seleção. "Temos um processo intenso [de seleção], considerando o risco. Não é mais o Paulo levando startups para o banco", afirmou.

A consistência também precisa vir pelo lado dos patronos desses programas. Muitas empresas já entenderam que seus programas de inovação precisam ter continuidade se quiserem ter os resultados desejados.

"Empresas que tem bons programas de inovação foram as que perseveraram", afirmou Rogério Tamassia, sócio e cofundador da Liga Ventures. "Tem que institucionalizar o programa de inovação como 'política de estado' e não 'de governo'."

Para ele, os CVCs e os programas de inovação aberta passaram por um período de depuração natural, diante do inverno das startups e do intenso hype que os temas tiveram. O ecossistema agora, segundo ele, está mais maduro. "Vemos agora maturidade e visão programática, com discussões sobre que tipo de retorno traz para a empresa, visões mais críticas e pragmáticas", afirmou.

Os participantes do painel avaliaram que essa maturidade deve ajudar a impulsionar ainda mais o ecossistema de startups, validando modelos de negócios num País em que a liquidez é muito baixa.

Para Gabriela Lima, diretora de venture capital da área de capital privado do BTG Pactual e head do boostlab, programa de investimento em startups do banco, as instituições financeiras brasileiras tem um papel de alavancar a inovação de uma forma que poucos países fazem, principalmente no setor financeiro.

Ela citou o caso da Celcoin, em que o BTG Pactual entrou como investidor em 2020 e que saiu no ano passado após a startup realizar uma rodada de R$ 650 milhões, gerando um "bom retorno" ao banco, algo que precisa ser considerado.

"A Celcoin entrou no boostlab e hoje ficou tão grande e nós acabamos saindo justamente porque celcoin se tornou nosso principal competidor do nosso BaaS", disse. "Para nós no BTG, é importante que a inovação seja uma plataforma sustentável, não apenas de grandes ideias."