Marcelo Noronha foi nomeado como CEO do Bradesco, em novembro de 2023, com o mandato de comandar a recuperação do banco. E, desde então, tem repetido, a cada trimestre, que esse será um processo gradual, feito passo a passo.

Um ano e seis meses depois do executivo assumir o posto, a percepção dessa retomada, ao que tudo indica, começa a ganhar aceleração no mercado. Depois do Bank of America, do BB Investimentos e do Citi, chegou a vez de o Itaú BBA dar o seu voto de confiança ao banco da Cidade de Deus.

Em relatório divulgado nesta terça-feira, 3 de junho, o Itaú BBA elevou a recomendação do Bradesco, de neutra para outperform (o equivalente a compra), e definiu um novo preço-alvo para a ação, de R$ 20, contra a faixa anteior de R$ 14 e um upside de 23% em relação ao fechamento do papel no pregão de ontem.

“Nossas estimativas anteriores estão aumentando significativamente para refletir a melhora dos resultados bancários e de seguros”, escrevem os analistas do Itaú BBA, que trazem uma avaliação extensa para justificarem suas atualizações.

Eles frisam, por exemplo, que, sob o ponto de vista do crédito, um dos componentes que afetaram negativamente o Bradesco nos últimos anos, o banco tem sido diligente em termos de precificação, financiamento e gestão de risco.

Ao mesmo tempo, o Itaú BBA ressalta que as despesas operacionais do banco estão sendo controladas, com a perspectiva de uma aceleração nos ganhos de eficiência em 2026. O que deve ajudar a instituição a enfrentar uma esperada, porém, gradual, deterioração do crédito.

O time de analistas também projeta uma melhora no retorno sobre patrimônio líquido (ROE) tanto no segmento bancário como em seguros. E estima um ROE consolidado de 15% e 16%, respectivamente, no segundo semestre de 2025 e 2026, contra o patamar de 12% estimado para este ano.

“Embora tenhamos perdido o rali inicial após o resultado do primeiro trimestre, ainda vemos um crescimento anual composto atraente de 20% do lucro por ação entre 2024 e 2026”, aponta outro trecho do relatório.

Nesse contexto, o Itaú BBA ressalta ainda um valuation atrativo, ao frisar que o papel do banco está sendo negociado a 0,9 vez o Preço/Valor Patrimonial e a 6,1 vezes o Preço/Lucro projetado para 2026.

O relatório também dá destaque à operação de seguros, em particular, à área de saúde, que está vivenciando um cenário mais estável, após vários períodos turbulentos, com o Bradesco registrando melhorias de margem e se destacando em relação a seus pares nos últimos trimestres.

Na visão dos analistas, embora tenha havido um crescimento mais lento na base de beneficiários, isso não levou à redução das receitas desse braço. Ao mesmo tempo, eles ressaltam que as margens operacionais dispararam.

“A partir de uma base de custos agora ajustada, esperamos que o crescimento da receita também acelere. Além disso, prevemos que aumentos de preços potencialmente menores e o desenvolvimento da Atlântica D’Or fortalecerão a proposta de valor e a expansão da seguradora”, observa o banco.

A partir desse contexto, o banco aponta que, no caso de seguros, suas estimativas estão acima do guidance do próprio Bradesco, com um lucro projetado de R$ 10,3 bilhões e uma ROE de 25% para esse ano.

“Para 2026, esperamos um lucro maior, mas um crescimento mais lento, devido à queda das taxas de juros, enquanto os ganhos operacionais devem persistir. O crescimento dos lucros com seguros está agora contribuindo para a recuperação bancária, em vez de apenas compensá-la”, escrevem os analistas.

Nesse sentido, o Itaú BBA também está revisando para cima alguns dos indicadores do segmento bancário do Bradesco. O banco projeta agora, por exemplo, um crescimento de 12% para a margem financeira bruta, 6% acima do que era estimado anteriormente.

O Itaú BBA também está atualizando outras projeções para a operação consolidada do Bradesco. O banco prevê um lucro líquido de R$ 24,7 bilhões e de $ 27,7 bilhões, respectivamente, para 2025 e 2026. E um ROE de 15% e 15,5% nesses mesmos períodos, ligeiramente acima do consenso do mercado.

Quem iniciou essa onda de análise mais positiva sobre o Bradesco, após a divulgação dos resultados do primeiro trimestre do banco, foi o BB Investimentos, que, em 8 de maio, elevou a recomendação do papel para compra, mas manteve o preço-alvo em R$ 16,50.

Em relatório, o BB Investimentos pontuou que o Bradesco “não tomou conhecimento” do contexto sazonalmente mais fraco tradicional dos primeiros trimestres no setor e apresentou um conjunto de avanços mais sólido do que o esperado.

“Dessa forma, e dado que os prognósticos para a indústria (e observando o próprio guidance do banco) sugerem desaceleração, o banco se coloca em uma atípica situação de ‘estar entrando na curva com o pé embaixo’, colocando os espectadores de pé na arquibancada diante do movimento cujo ímpeto há tempos não era visto”, escreveram os analistas do BB Investimentos.

Também em 8 de maio, o Bank of America seguiu o mesmo caminho, ao elevar a recomendação de neutra para compra e o preço-alvo de R$ 14 para R$ 17. Já na semana passada foi a vez de o Citi reforçar esse “coro”, atualizando a classificação para compra e o preço-alvo de R$ 13,60 para R$ 19,50.

As ações preferenciais do Bradesco estavam sendo negociadas com alta de 0,90% por volta das 13h30 na B3, cotadas a R$ 16,36. Em 2024, os papéis registram alta de 41,1%. O banco está avaliado em R$ 160,8 bilhões.