O tema do tradicional painel dos presidentes dos maiores bancos do País na Febraban Tech 2025, que começou na terça-feira, 10 de junho, era sobre o futuro da indústria na era da Inteligência Artificial (IA).
Mas os CEOs das instituições privadas não conseguiram deixar de lado o tema da política fiscal brasileira. Mais especificamente, os planos do governo de elevar os tributos para conseguir cumprir com a meta para o primário deste ano.
Da mesma forma que eles foram uníssonos ao tratar da importância dos investimentos em tecnologia para manter as instituições que comandam atualizadas e competitivas, os presidente de BTG Pactual, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander Brasil se uniram para cobrar do governo federal e do Legislativo a revisão do aumento de tributos e a discussão de reformas estruturantes, com viés de redução dos gastos.
Quem puxou o tema foi Roberto Sallouti, do BTG Pactual. Na última parte do painel, nas considerações finais, ele destacou que o esforço do governo para fechar as contas e cumprir com as metas fiscais deste ano, mantendo o arcabouço de pé, mostra como é inevitável revistar a estrutura de despesas.
"Se é inevitável, por que estão esperando? Não está na hora de buscar maior eficiência do gasto orçamentário", disse Sallouti. "Se sabe que é inevitável, vamos fazer o mais rápido possível, independentemente da eleição, porque quem vai ganhar com isso é o Brasil."
O CEO do BTG Pactual afirmou que as reações da sociedade aos planos do governo demonstram que não há mais espaço para discussões sobre aumento de arrecadação, que afetam o PIB potencial.
"O caminho que está sendo explorado, de aumento de tributos, terá efeitos perceptíveis muito em breve, de aumento do Custo Brasil, ao jogar mais areia na engrenagem", afirmou Sallouti.
Na mesma linha, o CEO do Santander Brasil, Mario Leão, disse que os debates suscitados pelos planos do governo precisam vir acompanhados por uma conversa maior, de reformas estruturantes para lidar com a situação fiscal.
Ele avaliou que existe uma possibilidade de esse tema começar a evoluir neste ano, mas um avanço mesmo deve ocorrer, na melhor das hipóteses, em 2026, com um novo governo empossado.
"Precisamos atacar temas históricos, que não são de direita ou de esquerda", disse. "São agendas que o Brasil precisa enfrentar de forma incisiva."
Segundo ele, essas questões afetam os bancos incumbentes, por maiores que sejam. E destacou que o setor quer ser protagonista na discussão da agenda de reformas, para ajudar com que ela evolua rapidamente.
O CEO do Itaú, Milton Maluhy Filho, disse que é preciso engajar "todos os stakeholders" nesta discussão, com a discussão olhando para o longo prazo. "Não se pode olhar apenas para o próprio umbigo", afirmou.
A questão do engajamento da sociedade também foi levantado pelo CEO do Bradesco, Marcelo Noronha. Para ele, é preciso construir uma agenda em que ajuste é feito pelo lado da despesa, e não da receita, e que a discussão precisa superar a polarização política que tomou conta do País.
"Nossa postura, de todos os colega, foi de ser construtivo com o Congresso e o Executivo, no sentido de mostrar as causas e efeito nas diferentes áreas da economia, porque um ajuste pelo gasto pode criar ônus desnecessário para os negócios", disse Noronha. "Esse é um caminho construído, sempre, independente do partido."
Competição simétrica
Noronha também aproveitou os momentos finais do painel para falar sobre regulação e os diferentes efeitos que ela tem sobre os incumbentes e os novos entrantes, tema caro para os bancos representados pela Febraban.
Dando destaque para o fato de os grandes bancos responderem por uma participação de mais de 96% da carteira de crédito expandida do País - e que as instituições evoluíram desde que o Banco Central (BC) estimulou a competição na área - , ele disse que as regras precisam ser mais "simétricas" para promover uma melhor competição com o que ele chamou de "organizações complexas", no caso, as fintechs.
"Ninguém é contrario à competição e inovação, mas precisa ser simétrica essa competição", afirmou.
O tema acabou abordado mais cedo pelo presidente do BC, Gabriel Galípolo. Sem tratar de política monetária em sua fala, "dando folga uma para os observadores do Copom", ele que disse que a instituição quer aumentar seu "perímetro regulatório" para lidar com a evolução do mercado e garantir a estabilidade financeira, considerando o aumento de novos players que ganharam papel relevante na concessão de crédito.
"Essa é uma agenda essencial para nivelar o campo e para que o BC possa incorporar ferramentas para lidar com as mais diversas situações", disse.
Ele rechaçou críticas de que o BC está buscando "um cheque em branco" para seu papel de fiscalizador do sistema, afirmando que se trata de uma evolução natural da atuação da autoridade monetária, que permanecerá respondendo para "a sociedade e para o poder eleito".
A expansão do "perímetro regulatório" é parte da agenda do BC para além da política monetária. Dentre os pontos em que a autarquia quer atuar está a revisão do crédito imobiliário, considerando a queda na captação da poupança nos últimos anos.
Para Galípolo, essa é uma situação estrutural, provocada pela evolução do mercado de capitais, e é preciso pensar num modelo alternativo de funding para o setor imobiliário.
"Estamos trabalhando há um tempo e esperamos apresentar em breve uma ponte entre modelo anterior para migrar para um modelo de financiamento com captação no mercado para normalizar essa situação e garantir uma participação adequada do crédito imobiliário no processo de financiamento", afirmou.