Desde que o Santander Brasil tomou a decisão de rever sua forma de atuação, em 2021, muito calcada na concessão de crédito, um ponto levantado pelos analistas era se - e quando - a nova estratégia do banco levará o retorno sobre o patrimônio líquido médio (ROAE) para a casa dos 20%, como em outros períodos.
Ao longo do tempo, o plano conduzido pelo CEO Mario Leão e sua equipe, que tem como bases temas como portfólio de crédito balanceado, diversificação de receitas e foco em rentabilidade, vem produzindo resultados.
O ROAE, que no terceiro trimestre de 2023 alcançou 13,1%, fechou os primeiros três meses deste ano em 17,4%, aumento de 3,3 pontos percentuais em base anual. Já o lucro líquido gerencial somou R$ 3,8 bilhões, um aumento de 27,8% em relação ao mesmo período do ano passado – a média das estimativas apontavam para um ganho de R$ 3,7 bilhões, segundo dados coletados pela Bloomberg.
Os resultados fizeram Leão avaliar que a execução consistente da estratégia nos últimos anos aproxima o banco de alcançar a meta traçada para o médio prazo, de retornar o ROAE para a casa dos 20%.
"Fizemos muito da primeira fase da melhorias até 2024 e o que estamos fazendo agora é a lapidação da estratégia, continuando a execução da estratégia, com uma visão de médio prazo", disse ele na quarta-feira, 30 de abril, em entrevista coletiva. "Mas com um médio prazo que fica cada vez mais perto, de alguns poucos anos a frente, de alcançar a rentabilidade de 20%, 20% plus."
O caminho até lá, porém, passa por atravessar os desafios de 2025. Para este ano, o Santander não espera registrar um grande salto em termos de resultados, por dois motivos.
O primeiro tem a ver com a execução da estratégia. Segundo ele, o ano de 2024 foi marcado por uma recuperação material de lucro e lucratividade, o que torna "improvável que a gente tenha um delta lucro e delta lucratividade em 2025 compatível com o que foi 2024 e 2023".
"Mas o que a gente já mostra no primeiro trimestre, e isso deixa a gestão bastante contente, é que a gente conseguiu manter um patamar de lucro e rentabilidade compatível com o qual terminamos o ano passado", afirmou Leão.
O segundo ponto está relacionado ao momento macroeconômico em 2025, com juros e inflação em alta, prejudicando a dinâmica do portfólio do banco, a capacidade das pessoas e das empresas pagarem dívidas, baixando o consumo.
Inadimplência sob atenção
Um dos pontos de atenção num cenário como esse é a questão do crédito. No primeiro trimestre, o índice de inadimplência de 15 a 90 dias do Santander foi de 4,1%, avançando 0,4 ponto percentual no trimestre e 0,3 ponto percentual no ano. O índice acima de 90 dias atingiu 3,3%, com alta de 0,1 ponto percentual no trimestre e 0,2 ponto percentual no ano.
O resultado da provisão para devedores duvidosos (PDD) gerencial somou R$ 6,4 bilhões no primeiro trimestre, alta de 5,7% na comparação anual e 7,7% no trimestre, com o banco destacando que boa parte da alta foi fruto de mudanças do modelo de provisionamento promovido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), prejudicando as comparações.
Para Leão, o entorno está tornando o portfólio de crédito mais desafiador, mas não é uma situação que deixa o banco muito preocupado, considerando que a deterioração é marginal em alguns sub portfólios, caso do agro e médias e grandes empresas, nada parecido com que a indústria experimentou em 2021 e 2022. "Não vejo um ciclo de crédito muito complexo", disse.
Ele lembrou de sua fala no terceiro trimestre, que o Santander seria mais cauteloso com o crescimento da carteira de crédito, avaliando que o cenário mostra que a estratégia é acertada. No primeiro trimestre, a margem financeira bruta avançou 7,7% em relação ao mesmo período de 2024, mas recuou 0,4% em base trimestral, para R$ 15,9 bilhões,
A carteira de crédito ampliada cresceu 4,3% em base anual, mas caiu 0,1% na trimestral, para R$ 682,3 bilhões. A receita total atingiu R$ 21 bilhões, aumento de 7% em relação primeiro trimestre de 2024 e queda de 2% ante o quarto trimestre.
"Este trimestre foi bastante consistente nesse sentido [crédito], de que a gente vem narrando que cresce menos, nosso crescimento de carteira foi levemente positivo, e isso não nos incomoda", disse. "O que estamos buscando fazer é ver como a gente otimiza esse portfólio para extrair mais valor aos clientes e aos bancos."
Olhando para frente, com a expectativa de uma macroeconomia melhor em 2026, Leão afirmou que o Santander possa ter um ano de progresso "um pouco mais material".
Mais adiante, a ambição do Santander é conseguir uma rentabilidade de 20% com lucro maior, mas com a rentabilidade vindo antes da expansão de tamanho. “Essa é uma arte em que estamos trabalhando, mas não quero abrir mão de tamanho pela rentabilidade”, disse.
Por volta das 11h15, as units do Santander caíam 0,21%, a R$ 28,34. No ano, os ativos acumulam alta de 19,3%, levando o valor de mercado a R$ 105,8 bilhões.