A inquietação das famílias milionárias com o seu futuro no Brasil cresceu. Após o fim de privilégios fiscais, o aumento da cobrança no IOF e a ameaça de mais impostos, como a tributação de dividendos, o copo de insatisfação ficou mais cheio. E as conversas sobre tirar o dinheiro do país estão cada vez mais aquecidas.

Family offices têm ouvido cada vez mais reclamações de seus clientes e feito consultas sobre como e para onde devem ir em busca de mais segurança pessoal e jurídica, além de estabilidade para fazer planos para a família e suas empresas.

“O interesse aumentou muito. Até mesmo famílias que nunca haviam pensado nisso estão começando a considerar”, afirma Pedro Olmo, sócio responsável pela área de gestão patrimonial da Sten Multi Family Office, ao Wealth Point, programa do NeoFeed.

Olmo cita um estudo da Henley & Partners, maior empresa de migração do mundo, que mostra que 800 milionários brasileiros saíram no ano passado. Neste ano, a projeção é que saiam 1.200.

O número de famílias que efetivamente fazem a saída, no entanto, ainda é pequeno, principalmente em relação ao número de novos milionários. Pedro Romeiro, sócio responsável pelo planejamento patrimonial da Carpa Family Office, lembra que o número de milionários cresceu de 165 mil em 2017 para os atuais 433 mil.

“Há um aumento do interesse, mas há também um aumento no número de milionários e poucos de fato saem. A verdade é que não é uma decisão simples para esse perfil como é para a classe média”, afirma Romeiro.

O que os especialistas explicam é que a saída fiscal do país envolve muito mais do que passar a maior parte do ano fora. Alguns podem achar que ficar mais de 184 dias fora do país já pode ser considerado não residente, mas não é assim. Se a Receita Federal considerar que o centro dos seus interesses vitais está no país, pode considerá-lo residente.

“Mudar para outro país efetivamente significa se adaptar a outra cultura e talvez até mudar o estilo de vida que se tem no Brasil. E não esquecendo que muitas dessas famílias são empresárias, e gerenciar os negócios de longe não é simples”, diz Romeiro.

Para quem realmente decide sair, é preciso planejar e escolher um lugar que de fato se queira viver, não apenas para pagar menos impostos. Quase todos os países que dão incentivos para atrair milionários têm prazo de validade, seja de cinco anos a dez anos.

Um país muito escolhido pela familiaridade e ambiente de negócios, não pela questão de impostos, são os Estados Unidos. Já quem procura aliar pagar menos impostos com uma vida mais estável e segura tem procurado Portugal, Itália e Reino Unido.

“Portugal é um país de clima agradável, mesma língua e que muitos têm o passaporte, mas também tem o Golden Visa. E mesmo precisando de mais requisitos, ainda é tranquilo de conseguir para essas famílias”, afirma Olmo.

Um país que começa a aparecer para os clientes pelos incentivos fiscais é o Uruguai, que pede apenas 60 dias morando lá para ser residente. Mas as regras do Brasil continuam, o que pode levar o dono da grande fortuna a ser taxado nos dois lugares.

Independentemente do destino, manter vínculos com o Brasil é quase inevitável. “A relação com o Brasil continua, e muitos gostam, inclusive, de manter grande parte dos investimentos. O desafio é manter isso de forma organizada e eficiente”, diz Romeiro.