A previsão de um “emagrecimento contínuo” no faturamento da companhia dinamarquesa Novo Nordisk, a partir da queda nas vendas dos medicamentos para a perda de peso Ozempic e Wegovy, vem gerando um efeito colateral amargo no mercado financeiro.

Nesta terça-feira, 29 de julho, as ações da companhia, cotadas a US$ 54,20, operavam em queda superior a 23% na Bolsa da Dinamarca por volta das 17h (horário local), avaliando a companhia em US$ 239 bilhões.

Esse montante representa uma perda de pelo menos US$ 70 bilhões no valor de mercado da farmacêutica europeia. No ano, os papéis acumulam uma queda de 45,7%.

Em Nova York, os papéis da companhia também despencaram. Por volta de 13h20 (também horário local), as ações registravam desvalorização de 20,9%, com perda acumulada de 26,6% em 2025. Os BDRs da empresa da B3 operam em queda de 21,48%.

Segundo comunicado divulgado pela empresa, a previsão de crescimento nas vendas em 2025 deve ficar entre 8% e 14%, contra uma perspectiva anterior, também feita neste ano, de avançar entre 13% e 21%.

A companhia confirmou que o segundo corte no ano em sua previsão de receita para esse ano foi motivado pela menor expectativa de crescimento no segundo semestre no mercado dos Estados Unidos, justamente sobre o Ozempic e o Wegovy.

A previsão de lucro operacional também caiu. Até então, a empresa previa alcançar um resultado de crescimento nesta linha entre 16% e 24% em 2025. Agora, o novo guidance é de alcançar lucro entre 10% e 16%.

A empresa também alega que a continuidade de vendas de cópias dos dois medicamentos, mesmo após chegar ao fim o prazo previsto pelo FDA para essa produção paralela por outras farmacêuticas, no fim de maio, também influenciou na revisão para baixo dos resultados.

“A Novo Nordisk está profundamente preocupada com o fato de que, sem uma intervenção agressiva dos órgãos reguladores federais e estaduais e das autoridades policiais, os pacientes continuarão expostos aos riscos significativos representados por medicamentos falsificados de semaglutida”, afirma a empresa, no documento publicado em sua área de investidores.

Para analistas, o cenário apresentado pela companhia da Dinamarca é preocupante e vai muito além do que a queda na previsão de vendas dos medicamentos para emagrecer análogos ao GLP-1, usado também para tratamento de diabetes.

“A magnitude do corte na projeção é chocante”, disse Markus Manns, gestor de portfólio da empresa de fundos mútuos Union Investment, acionista da farmacêutica à agência Reuters, ao afirmar que os problemas eram mais profundos do que as cópias ilegais.

O cenário representa uma reviravolta financeira para a empresa que alcançou, em setembro de 2023, o topo das empresas mais valiosas da Europa. No auge da popularidade do Ozempic no mundo, principalmente entre influenciadores, a farmacêutica chegou a valer US$ 428 bilhões, quase o dobro do valor atual, e ultrapassar o grupo de luxo francês LVMH.

A empresa também oficializou, nesta terça-feira, 29, a mudança no comando executivo e anunciou Mike Doustdar como o novo CEO, um executivo austríaco que nasceu no Irã e cresceu nos Estados Unidos. Ele ingressou na companhia em 1992 e atuava como vice-presidente de operações internacionais.

Doutsdar assume oficialmente no dia 7 de agosto. “O fato de meu anúncio vir logo após a atualização das diretrizes torna o mandato futuro ainda mais claro. Precisamos aumentar o senso de urgência e executar de forma diferente”, diz o novo CEO. Doustdar herda a cadeira de Lars Fruergaard Jorgensen, que não resistiu aos maus resultados recentes.

A retomada do desempenho da companhia nos Estados Unidos, considerado o maior mercado de medicamentos para obesidade, é vista por analistas e investidores como o maior desafio para a gestão do novo presidente.

O Wegovy, por exemplo, foi lançado dois anos e meio antes do Zepbound (que tem como princípio ativo a tirzepatida e que no Brasil é vendido com nome comercial de Mounjaro), da concorrente americana Eli Lilly. Mas as receitas do Zepbound superaram as do Wegovy este ano em mais de 100 mil por semana.

A divulgação de resultados científicos, que mostrou melhores resultados da tirzepartida sobre os medicamentos à base de semaglutida, da Novo Nordisk, também influenciaram na queda da previsão da receita da empresa dinamarquesa.