O caos instalado na economia global com a imposição do tarifaço do presidente americano Donald Trump em 2 de abril, o “Dia da Libertação” – o que levou o Fundo Monetário Internacional (FMI) a fazer na época um prognóstico pessimista sobre o crescimento do mundo em 2025 - começa a regredir, com a economia do planeta mostrando “tênue resiliência” às tarifas.

É o que afirma o FMI, que divulgou na terça-feira, 29 de julho, uma revisão de sua projeção para o crescimento global em 2025. De acordo com o World Economic Outlook atualizado do FMI, a economia do planeta deve crescer 3% este ano e 3,1% em 2026 - acima das projeções anteriores de 2,8% e 3%, respectivamente, divulgadas em abril, sob impacto do tarifaço de Trump.

Pierre-Olivier Gourinchas, economista-chefe do FMI, diz que o órgão detectou sinais de que a guerra comercial aberta pelo presidente americano causará menos danos à economia mundial do que se temia inicialmente, com um dólar mais fraco amortecendo o impacto das tarifas sobre os parceiros comerciais dos EUA, além da redução da média tarifária de Trump atual em comparação com abril.

“Na época da previsão de abril, tínhamos uma alíquota tarifária efetiva sobre importações para os EUA de 24%. Agora, estamos prevendo uma alíquota tarifária efetiva de 17%”, disse o economista francês. “Embora 17% ainda seja muito mais alto do que em janeiro, houve algum alívio na pressão tarifária.”

Além do índice menor, Gourinchas ressaltou que muitas empresas anteciparam as importações antes da implementação das tarifas. Com isso, advertiu sobre os riscos de futuras exposições, “que poderiam amplificar o impacto de quaisquer potenciais choques negativos".

O economista destacou que a fraqueza do dólar americano também ajudou a impulsionar a economia mundial. A moeda desvalorizou-se quase 9% este ano em relação a uma cesta de moedas, incluindo o euro e a libra, devido a preocupações com a guerra comercial e com a independência do Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA.

Como muitas empresas estrangeiras e economias de mercados emergentes têm dívidas denominadas na moeda americana, a depreciação torna o serviço dessa dívida mais barato. “O efeito líquido agora é que está proporcionando um pouco de dinamismo à economia global ao facilitar as condições financeiras globais”, disse Gourinchas.

O FMI prevê que os EUA agora devem crescer 1,9% neste ano e 2% em 2026, em comparação com as estimativas de abril de 1,8% e 1,7%, respectivamente — previsões que, na época, muitos economistas consideraram otimistas.

Numa mostra de como o quadro econômico mudou, uma enquete da agência Bloomberg com economistas mostra que os EUA devem divulgar na quarta-feira um crescimento anualizado de 2,5% no segundo trimestre.

O FMI também destacou que a perspectiva econômica da China para este ano deve ser 0,8 ponto percentual melhor do que o previsto, com um crescimento de 4,8% agora esperado pelo fundo. Já a economia do Reino Unido deve crescer 1,2% este ano, em comparação com a previsão de abril de 1,1%.

Apesar da revisão de crescimento da economia global para 3% em 2025, a previsão do FMI indica uma desaceleração em relação ao crescimento econômico global de 3,3% em 2024 – abaixo da taxa média de crescimento antes da pandemia, que era de 3,7%.

Alerta contra “tentação”

Enquanto isso, às vésperas do prazo final de negociação de tarifas, estabelecido para 1° de agosto por Trump, o banco Morgan Stanley advertiu em nota a clientes que os investidores americanos devem “resistir à tentação de deixar de lado os prazos tarifários".

O alerta, no qual o banco manda um recado sobre o otimismo com o efeito mais amplo das tarifas na economia e nos mercados financeiros – que não seriam preocupantes -, vai na contramão da percepção de analistas de Wall Street.

"A evolução das tarifas ainda pode criar pressão e oportunidade", advertiu o Morgan Stanley, citando três razões para sua cautela.

A primeira delas é que o impacto econômico total das tarifas existentes ainda é desconhecido. Além disso, as próximas decisões comerciais envolvendo grandes parceiros como China, Canadá e México podem ter implicações mais amplas para o crescimento dos EUA.

Por fim, diz o banco, mesmo que as tarifas não prejudiquem o crescimento, elas podem afetar setores específicos do mercado de ações: “Esses efeitos podem não estar ainda precificados.”