A tese de investimento da Tesla ganhou nos últimos meses um componente de risco pouco ligado às suas operações e que está começando a incomodar os investidores: a política.

O envolvimento e declarações de Elon Musk em temas políticos têm respingado sobre o desempenho das ações da montadora de carros elétricos, uma reação às possíveis consequências que comentários podem ter sobre as atividades da montadora no momento em que as vendas estão caindo.

Por volta das 9h55, as ações caíam 6,28%, a US$ 295,50, no pré-mercado de segunda-feira, 7 de julho, diante do mais recente comentário de Musk sobre política, sugerindo a criação de um novo partido político nos Estados Unidos, para a ira do presidente, e ex-aliado, Donald Trump.

No sábado, 5 de julho, Musk publicou em sua conta no X (ex-Twitter) que ele pretende criar um novo partido nos Estados Unidos, o “America Party”. Segundo o homem mais rico do mundo, com um patrimônio na casa dos US$ 361 bilhões, de acordo com o ranking da Bloomberg, a agremiação deverá focar em “apenas dois a três assentos no Senado e de oito a dez na Câmara”.

Isso serviria para a legenda ter peso para decidir projetos sensíveis, “assegurando que eles sirvam o verdadeiro interesse da população”, escreveu Musk.

Quem não gostou nada disso foi Trump, que respondeu na rede Truth Social, no domingo, 6 de julho, que Musk “saiu dos trilhos” e que a proposta de um novo partido é “ridícula”.

O envolvimento de Musk com a política tem sido um ponto de discórdia para os investidores. Seu alinhamento com Trump, com doações de quase US$ 250 milhões à campanha e indo trabalhar no departamento criado para cortar custos do governo, o DOGE, foi visto como um fator que prejudicou a imagem da Tesla perante consumidores e investidores.

O mesmo ocorreu quando decidiu romper com Trump e criticar a “grande e bela” lei orçamentária do governo, tornando pública a desavença que se criou entre eles, com uma série de troca de insultos entre as partes nas redes sociais.

Desde o começo de junho, quando as discussões ocorreram, as ações da Tesla acumulam queda de 8%. No ano, os papéis apresentam queda de 16,8%, levando o valor de mercado a US$ 988,1 bilhões.

A questão da política já preocupava os investidores antes de todos esses fatos. Uma pesquisa feita pelo Morgan Stanley, revelada em março pelo site CNBC, mostrou que mais de oito em cada dez investidores da Tesla avaliavam que a postura de Musk é “negativa” ou “extremamente negativa” para os fundamentos da Tesla.

Além dos prejuízos que a política pode ter em termos operacionais, considerando a ameaça de Trump de rever políticas favoráveis à Tesla e outras companhias de Musk, esse ponto é visto como uma distração no momento em que a montadora enfrenta vendas em queda pelo mundo.

Na semana passada, a companhia divulgou que as vendas globais caíram 13,5% no segundo trimestre, em base anual, para 384,1 mil unidades. O valor veio abaixo da média das expectativas dos analistas consultados pela FactSet, que apontava para a comercialização de 387 mil, segundo o The Wall Street Journal.

O WSJ publicou, no domingo, uma reportagem apontando que a Tesla está sofrendo na China por conta do surgimento de marcas locais, que estão agregando mais o gosto local, além de terem preços competitivos.

“Musk se aprofundando mais na política e agora tentando enfrentar o establishment é exatamente a direção oposta que a maioria dos investidores da Tesla quer que ele tome durante esse período crucial para a Tesla”, escreveu o analista Dan Ives, analista da Wedbush Securities, no X, no sábado.