Investir em grandes startups que ainda não abriram capital é algo para poucos, mas a XP Asset encontrou uma forma de estar exposta a unicórnios - e empresas com potencial de serem - ainda não disponíveis ao público, sem participar das grandes rodadas de captação: stock options.
A gestora, que conta com mais de R$ 205 bilhões em ativos sob gestão, vai financiar uma nova solução de liquidez desenvolvida pela americana Collective Liquidity para quem detém participações em startups, de olho em um portfólio de empresas com valuations bilionários, como a provedora de soluções para e-commerce Cart.com e a fintech DailyPay.
“A Collective utiliza o mercado secundário para conseguir um portfólio de ativos que tem muito valor”, diz Renato Junqueira, vice-presidente de special situations da XP Asset, ao NeoFeed. “E a ideia é justamente termos uma exposição indireta a essas grandes empresas privadas dos Estados Unidos”, complementa.
A XP Asset fará um aporte no fundo operado pela Collective desde 2022, que compra stock options de funcionários e fundadores de startups, atualmente estimado em US$ 75 milhões. O valor do investimento, que não envolve compra de equity, não foi revelado, mas o NeoFeed apurou que o montante ficou acima de US$ 12 milhões.
O investimento da XP Asset servirá como capital inicial para financiar o novo programa de liquidez da Collective, chamado LP Buyback. Nele, funcionários e fundadores de startups trocam as ações que possuem nessas empresas por cotas do fundo da Collective, que detém fatias de outras companhias.
Quando os cotistas do fundo precisam de liquidez, a Collective recompra parte de sua participação em dinheiro, utilizando os recursos aportados pela XP Asset, que ficará com as cotas do fundo vendidas.
A XP Asset terá duas formas de retorno com esse investimento. A primeira ocorre no processo de venda da participação no fundo pelo cotista. A operação será realizada por meio de um forward agreement firmado com a Collective, um acordo de compra e venda por um preço determinado, com datas específicas de entrega do ativo no futuro.
O cotista receberá um adiantamento, em dinheiro, referente a parte do valor equivalente à sua participação no fundo e transferirá para a XP Asset as cotas das quais é detentor, conforme cronograma acordado. Ele entregará uma quantidade de cotas cujo valor será equivalente ao adiantamento mais uma taxa de retorno pré-estabelecida, análoga a um ativo de renda fixa.
A segunda forma de retorno, considerada a mais promissora, será uma transferência adicional de cotas, a título de remuneração variável para a XP Asset, vinculada ao desempenho da carteira e, portanto, com exposição direta aos eventos de liquidez esperados das companhias do portfólio.
“Dadas as salvaguardas de proteção que temos, vemos um retorno híbrido de renda fixa com equity”, afirma Junqueira. “Ele fica no meio-termo entre um instrumento de renda fixa e um instrumento puro de equity.”
O início das conversas
As conversas começaram no ano passado, sob a intermediação da Aliya Capital Partners, uma gestora de ativos alternativos com US$ 3 bilhões sob gestão e acionista da Collective.
A Collective foi criada em 2022 por um grupo de especialistas em mercado privado, como o CEO Greg Brogger. Ele foi fundador da plataforma SharesPost, que oferecia soluções de liquidez para companhias privadas, e liderou o lançamento da Nasdaq Private Market, que desenvolveu um mercado secundário para empresas de capital fechado.
Embora já existam soluções de liquidez para funcionários de startups, Brogger afirma que muitas delas não são eficientes do ponto de vista fiscal. Ele cita que, na Califórnia — sede de várias das principais startups dos Estados Unidos — quem vende sua participação pode pagar quase 40% em impostos, além dos custos das plataformas.
Para se diferenciar, a Collective opera por meio de um exchange fund. Essa estrutura, já existente no mercado americano, permite que investidores troquem suas participações por unidades de um fundo com portfólio diversificado, o que possibilita a diluição de riscos e o diferimento de impostos sobre ganhos de capital.
A Collective já operava um produto de empréstimo colateralizado em ações de startups por meio do fundo, mas decidiu lançar o LP Buyback diante da demanda dos clientes por uma opção que não envolvesse alavancagem, especialmente em um cenário de juros elevados nos Estados Unidos.
Além de proporcionar liquidez, Brogger destaca que o novo produto permite ao funcionário de startups diversificar seu portfólio de investimentos, destacando que no ecossistema de startups late stage, existem cerca de US$ 4 trilhões em riqueza travados em stock options.
“Se uma das empresas do fundo vai mal, ela não reduz dramaticamente o patrimônio [de uma pessoa] da mesma forma que ocorreria se ele mantivesse participação em apenas uma companhia”, afirma.
Nem todas as empresas são elegíveis para integrar o fundo — algo que trouxe segurança à XP Asset para realizar o aporte. A Collective adquire participação apenas de companhias com valor de mercado superior a US$ 600 milhões, apoiadas por grandes gestoras de venture capital, como Sequoia e Andreessen Horowitz (a16z), e com sustentabilidade financeira comprovada.
A Collective evita companhias com riscos assimétricos elevados, como criptoativos e biotecnologia. “Quem vem até nós também busca reduzir seus riscos”, diz Brogger.
A expectativa é que o aporte da XP Asset impulsione o produto da Collective no mercado e atraia novos investidores. Brogger afirma que a meta é encerrar o ano com US$ 100 milhões em ativos sob gestão, com o fundo tendo participações em 30 empresas.
“Apesar de ainda não sermos um grande fundo, estamos conseguindo provar que o conceito de exchange fund funciona”, diz. “Acreditamos que, em 2026, cresceremos de forma acelerada, agora que estabelecemos esse portfólio de alta qualidade e provamos que existe demanda por esse produto.”
A XP Asset pode ajudar nos planos da Collective. Junqueira afirma que a gestora estuda criar um veículo de acesso para o investidor profissional brasileiro, permitindo co-investir no fundo com a casa. “Vemos esse investimento como bastante inovador dentro do nosso portfólio e temos confiança de que é uma classe de ativos muito diferenciada”, conclui.