O Santander Brasil inaugurou a temporada de balanços dos grandes bancos com um desempenho acima do esperado pelos analistas. O lucro líquido gerencial somou R$ 3,6 bilhões, um aumento de 34,3% em relação ao mesmo período do ano passado – a média das estimativas apontavam para um ganho de R$ 3,5 bilhões, segundo dados coletados pela Bloomberg.
O resultado foi comemorado pelo CEO do banco, Mario Leão, que disse a jornalistas na terça-feira, 29 de outubro, que o balanço representa “mais um passo concreto na direção certa”, depois de trimestres consecutivos de baixo desempenho, lidando com os efeitos da pandemia.
Ainda assim, Leão apresentou um tom comedido em relação ao que vem por aí quando o assunto é concessão de crédito. No momento de piora do cenário macroeconômico, a expectativa é de um crescimento da carteira nos próximos trimestre um pouco abaixo da média do mercado, com o mantra de rentabilidade adotado nos últimos trimestre falando alto.
“Esse movimento já apareceu no terceiro trimestre”, disse Leão. “Já vemos um efeito claro, em que a gente passa a alocar de forma ainda mais clínica, disciplinada, o capital que a gente tem nos portfólios em que o retorno marginal faz sentido.”
No terceiro trimestre, a margem financeira bruta avançou 15,8% em relação ao mesmo período de 2023, para R$ 15,2 bilhões, com a carteira de crédito ampliada crescendo 6,1%, para R$ 663,5 bilhões.
Segundo Leão, a disciplina que o banco tem na alocação de capital começou a ser aplicada “com mais ênfase” no terceiro trimestre, escolhendo onde colocar as “fichas finitas” – leia-se, os recursos – considerando a rentabilidade e a relação com os clientes.
Essa situação foi vista especialmente na parte de atacado no terceiro trimestre. Leão afirmou que, nos últimos um ano e meio, a carteira do atacado tem caído, porque o retorno marginal de muitas operações não tem se justificado, num momento de alta liquidez do mercado de capitais, aceitando níveis de rentabilidade baixos.
O CEO do Santander destacou que o movimento também ocorreu neste trimestre, ainda que de forma sutil, em alguns portfólios de pessoa física, caso de consignado INSS. Leão afirmou que esse portfólio “quase que certamente vai cair nos próximos trimestres”, enquanto outros produtos, como a financeira de automóveis, devem ganhar mais destaque.
“Isso significa que o Santander está diminuindo, enxugando? Absolutamente não. Nós estamos dotando o capital que tínhamos nesse negócio que, na margem, vai ser menos rentável em outros que vamos conseguir mais rentabilidade”, afirmou Leão.
Neste cenário, Leão foi questionado sobre o risco de inadimplência, considerando que o índice superior a 90 dias foi de 3,2% no terceiro trimestre, aumento de 0,2 ponto percentual em base anual, com as despesas líquidas com provisões para devedores duvidosos (PDD) avançando 4,7%, para R$ 5,9 bilhões.
Leão afirmou que em pessoa física, considerando a postura que o banco tem atuado há mais de dois anos, a situação continua controlada. Isso ocorre, segundo ele, pelo público com quem o banco vem buscando atrair nos últimos anos, com mais recursos e mais transacionais, o ritmo mais comedido das concessões, além das taxas pré-fixadas
“O crescimento [da concessão de crédito] poderia até vir, mas seria ao custo material de provisão lá na frente que não estamos dispostos a pagar”, disse.
No caso das empresas, pelo fato de os financiamentos serem a taxas serem pós-fixadas e algumas das empresas estarem alavancadas, a situação preocupa mais o Santander, especialmente nas médias empresas. “Estamos sentindo alguns soluços na carteira de média empresas, mas no todo estamos com um portfólio saudável suficiente”, afirmou.
Leão destacou ainda que essa cautela vai proteger o banco de sofrer com a alta de juros e um eventual aumento da inadimplência. “A gente entra nesse ciclo de alta [de juros] bem mais balanceado do que entrou no ciclo de 2021 para 2022”, disse Leão.
Ele afirmou ainda que o banco segue recuperando a rentabilidade, com o retorno sobre o patrimônio líquido médio (ROAE) atingindo 17% no terceiro trimestre, aumento de 3,9 pontos percentuais em base anual. Mas afirmou que a trajetória deve passar por altos e baixos.
“Queremos continuar crescendo idealmente todo o trimestre, mas não dá para esperar que seja linear, que todo o trimestre será um reloginho”, disse.
Por volta das 14h14, as units do Santander caíam 2,36%, a R$ 28,19. No ano, elas acumulam queda de 12,04%, levando o valor de mercado a R$ 106,4 bilhões.