A elevação da nota de crédito do Brasil pela agência de classificação de risco Moody's trouxe o debate sobre a perspectiva pessimista que os brasileiros têm do País. A apenas um degrau do grau de investimento, um movimento impensável para o mercado financeiro, o Santander pôs a discussão na mesa e descobriu que os investidores estrangeiros estão, de fato, muito mais otimistas.

Em um relatório enviado a clientes que NeoFeed teve acesso, o Santander conta que recebeu na primeira semana de outubro cinco gestores estrangeiros e cinco locais para debater as perspectivas para o mercado brasileiro. E o resultado foi visões antagônicas.

Para os investidores institucionais globais, o problema fiscal no Brasil não é tão grave, pois a economia está indo bem - especialmente pela melhora nos preços das commodities. Além disso, a queda de juros globalmente trará um diferencial de juros muito grande, o que deve resultar em fluxo de investimento para o País levando à valorização do real frente ao dólar.

Na visão dos estrangeiros, não há possibilidade de a Selic subir mais de 200 basis points (2 pontos percentuais). Eles acreditam que o Brasil se beneficiará significativamente do estímulo chinês e do ciclo de flexibilização global, o que reduzirá a inflação e melhorará as perspectivas fiscais.

No entanto, os investidores locais se mostraram muito preocupados com a situação fiscal brasileira e suas possíveis consequências: inflação e depreciação do real.

Enquanto os estrangeiros afirmam que o Brasil já criou proteções o suficiente para não repetir os erros de 2014-2016, os investidores brasileiros veem a sucessão presidencial como um fator crucial capaz de dar um impulso positivo ou negativo significativo para a economia brasileira.

Na visão dos analistas do Santander que assinam o relatório, Aline de Souza Cardoso, Guilherme Bellizzi Motta e Luane Fontes, as origens das diferenças de pensamento se dão por alguns fatores.

O primeiro ponto seria que os investidores locais se concentram principalmente no Brasil, aventurando-se ocasionalmente no mercado dos EUA ou em ETFs globais. Ao passo que os estrangeiros olham para uma vasta gama de empresas semelhantes com perspectivas de crescimento comparáveis, mas valorizações muito mais elevadas, em mercados como a Índia, por exemplo. Nessa perspectiva, as ações brasileiras parecem atraentes do ponto de vista da avaliação relativa.

O segundo ponto é que o horizonte de investimento é diferente. Enquanto os estrangeiros tipicamente olham mais o longo prazo, os locais estão mais presos nas dificuldades do dia a dia do mercado.

A diferença de visão leva a um approach diferente para a escolha de companhias. Os investidores locais preferem companhias expostas ao dólar, não acreditando em uma valorização do real. As empresas mais citadas por eles foram Embraer, Weg, Petrobras, Eletrobras, BRF, Itaú, Rumo, Sabesp e Prio.

Já os estrangeiros disseram preferir: SLC, Vivara, Smartfit, Weg, Embraer, Nubank, Suzano, Prio, Inter, Rede D'Or, Cury, Sabesp e Equatorial.

O relatório também fala que o time de macroeconomia do Santander fez revisões em 4 de outubro de algumas estimativas. O PIB foi revisado para cima, fechando em 3% ante 2,3%, mas em 2025 continua em 1,5%.

A inflação agora está projetada em 4,4% no ano, ante 4,1%. E a Selic para o fim de 2024 subiu de 11,25% para 11,75%, com sua taxa terminal chegando a 12,5% em março de 2025.

Dado esse maior impulso na economia, o Santander acredita que as chances agora são grandes de cumprir a meta fiscal para 2024, mas em 2025 ainda é esperado um déficit de 1%. Não há projeções para 2026.