Uma das principais expoentes da inteligência artificial, a Nvidia se acostumou a estabelecer recordes atrás de recordes nos últimos dois anos. Em um dos números que ilustram essa trajetória, a empresa saltou de um valor de mercado de US$ 300 bilhões para mais de US$ 3 trilhões nesse intervalo.

A companhia americana de chips voltou a registrar novos marcos nesta terça-feira, 3 de setembro. Dessa vez, porém, na contramão desse rali cumprido desde 2022, com as ações da companhia encerrando o pregão na Nasdaq com uma queda de 9,53%, cotadas a US$ 108.

Com esse desempenho, a Nvidia contabilizou o maior declínio em termos de valor de mercado já registrado em um dia em qualquer pregão na história das bolsas de valores americanas, segundo o Dow Jones Market Data.

Na tradução desse recorde negativo, a empresa perdeu nada mais nada menos que US$ 278,9 bilhões em valor de mercado, em apenas um dia de negociações. Para efeito de comparação, a cifra representa três vezes o patamar atual de avaliação da Petrobras, de US$ 92,7 bilhões.

A partir desse imenso tombo, a Nvidia está avaliada agora em US$ 2,64 trilhões, mas suas ações ainda acumulam uma valorização de 118% em 2024. Os papéis seguiam recuando, porém, no after market dessa terça-feira, 3 de setembro. Por volta das 18h30, eles registravam uma queda de 1,45% na bolsa de valores americana.

Essa derrocada não esteve restrita, no entanto, à companhia. As ações de outras empresas do setor seguiram a mesma toada. Entre elas, a Intel, com um recuo de 8,80%; a Marvell, com 8,16%; a Qualcomm, com 6,88%; e a Broadcom, com 6,16%.

O VanEck Semiconductor, índice com ações de empresas do semicondutores, caiu 7,5% hoje, consolidando seu pior dia desde março de 2020. Já as 30 companhias de chips que compõem o PHLX Semiconductor Sector recuaram pelo menos 5,4% nessa terça.

Se a febre da inteligência artificial e a demanda embarcada nessa onda por chips que sustentem esse hype ajudaram a impulsionar as ações da Nvidia e de parte das empresas do setor, agora, essa tecnologia também ajuda a explicar parte desse tombo generalizado observado hoje.

O pé no freio nesse entusiasmo veio embalado em um pacote de opiniões de analistas sobre esse hype. Michael Cembalest, do J.P. Morgan, por exemplo, ressaltou que os gastos com IA não serão justificados a menos que a demanda por parte de companhias que não sejam de tecnologia comece a crescer.

Segundo a agência Bloomberg, Jean Boivin, do BlackRock Investment Institute, destacou que é preciso ter “paciência” antes que a inteligência artificial decole. E que esse será um processo de “anos, não trimestres”.

Entretanto, um outro componente contribuiu para que as ações desabassem, em particular, os papéis da Nvidia. No fim da tarde, a Bloomberg informou que o Departamento de Justiça dos Estados Unidos intimou a companhia e outras empresas em uma investigação sobre violação de leis antitruste.

No caso da Nvidia, a medida mostra que o órgão está intensificando a investigação sobre o papel da companhia como um fornecedor dominantes de processadores ligados à inteligência artificial. Até então, o departamento vinha solicitando informações às empresas.

Agora, de acordo com pessoas familiarizadas com a investigação, o novo passo aproxima o governo de lançar uma denúncia formal contra a companhia, que estaria dificultando a troca para outros fornecedores e penalizando clientes que não usam exclusivamente seus chips de IA.

O componente que colocou a Nvidia sob os holofotes do departamento foi justamente o crescimento exponencial e o status alcançado pela companhia, cujas receitas têm mais que dobrado a cada trimestre, ofuscando antigas líderes do segmento, como a também americana Intel.

Nos números mais recentes, divulgados na semana passada e relativos ao segundo trimestre de 2024, a Nvidia voltou a bater recordes. Sua receita, por exemplo, cresceu 122% em base anual, para US$ 30 bilhões. Já o lucro líquido avançou 168%, para US$ 16,5 bilhões.

Apesar desses e de outros indicadores, e do fato de a empresa ter superado as projeções de analistas, as ações da companhia chegaram a registrar uma queda de 7,7% no after market após a divulgação do balanço, em função das expectativas elevadas em torno da companhia.