Se há um ponto de interrogação sobre o Nubank, ele se refere à forma como o banco digital vai lidar com a inadimplência. No primeiro trimestre, o indicador de devedores de médio prazo (acima de 90 dias) tinha aumentado de 6,1% para 6,3%. No balanço do segundo trimestre, esse índice subiu mais 0,7 ponto percentual, para 7%.
“A inadimplência está controlada e dentro da expectativa”, diz Guilherme Lago, CFO do Nubank, ao NeoFeed. “Esse crescimento estava na conta.”
Lago refere-se ao “carrego” da inadimplência de curto prazo (entre 15 e 90 dias) de um trimestre para o seguinte. Entre janeiro e março deste ano, esse indicador havia subido 0,9 ponto percentual, para 5%. E é natural que parte disso seja absorvida no indicador de inadimplência de médio prazo do segundo trimestre (a inadimplência de curto prazo voltou a recuar e está em 4,5% da carteira).
O mercado está atento à evolução do indicador, mas ele será de altos e baixos neste período de expansão do banco digital. O Nubank cresceu oferecendo produtos de crédito que não geravam receita. A composição da carteira do cartão de crédito, por exemplo, era 85% sem juros há menos de dois anos. Hoje, apenas 68% não pagam juros para a fintech.
A mudança do mix tende a afetar a inadimplência, o que pode ser compensado pela receita dos juros. E no segundo trimestre, o Nubank reportou uma receita líquida de juros (NII, na sigla em inglês) de US$ 1,7 bilhão, um aumento de 77% em 12 meses, impulsionado pela expansão das carteiras de cartões de crédito e empréstimos.
A carteira de empréstimos aumentou 92% para US$ 4,6 bilhões, no ano contra ano e os recebíveis de cartão de crédito chegaram a US$ 14,3 bilhões, aumento de 39% sobre o segundo trimestre do ano passado.
“Nós reportamos o balanço em dólar e o resultado nominal do trimestre fica poluído em razão da desvalorização cambial de 12%”, diz Lago, que reforça que os ativos e passivos de cada operação são em moeda local e não existe exposição cambial. “Mas o resultado operacional e financeiro é bastante importante, com rentabilidade e resiliência.”
No segundo trimestre, o retorno sobre o patrimônio (ROE) apenas na operação Brasil, que tinha sido de 40% no trimestre passado, ultrapassou os 50% entre maio e junho deste ano. O ROE consolidado foi de 28%.
O lucro líquido de US$ 487 milhões do Nubank no segundo trimestre superou em 13% o consenso dos analistas sell side, que esperavam algo em torno de US$ 432 milhões.
No segundo trimestre, tanto o custo de servir os clientes - em US$ 0,9 - como a receita média mensal por cliente ativo (Arpac, na sigla em inglês), de US$ 11,2, ficaram estáveis.
E o índice de eficiência do Nubank também ficou estável em 32% na comparação com o trimestre anterior. Mas em 12 meses, quando o indicador estava em 35,4%, a redução foi de 3,4 pontos percentuais (aqui, quanto menor, melhor).
Operação global
No segundo trimestre, o Nubank adicionou 5,2 milhões de clientes, alcançando um total de 104,5 milhões de clientes globais em 30 de junho.
Se no Brasil o Banco Central informa que o Nubank conquistou mais clientes nos últimos 12 meses do que os cinco maiores incumbentes somados, na Colômbia o banco digital ultrapassou 1 milhão de clientes (são 1,3 milhão). No México, foram mais 1,2 milhão de novos clientes no trimestre, atingindo um total de 7,8 milhões.
No segundo trimestre, os depósitos em conta corrente (um produto recém-lançado) no México e na Colômbia atingiram, respectivamente, US$ 3,3 bilhões e US$ 220 milhões.
“O México e a Colômbia vão nos mostrar que o modelo de negócio do Brasil pode ser expandido para outras geografias”, afirma Lago.
Com valor de mercado de US$ 60,6 bilhões, a ação do Nu, listada na Nasdaq, acumula alta de 56,3% no ano. No after market, logo após a publicação do balanço do trimestre, o papel registrava alta de 6,9%.