O Brasil é um dos dez maiores mercados de gestão de recursos do mundo, mas apenas 0,5% das carteiras está alocada em ETFs. Para a provedora global de índices MarketVector, esse é um dos indicativos de que o País está 20 anos atrasado em relação aos Estados Unidos. Mas há motivos para acreditar que a virada não vai demorar tanto tempo.

“Eu considero o Brasil o último grande mercado de gestão que ainda não se desenvolveu em ETFs. E isso é obviamente uma oportunidade que queremos capturar”, afirma Steven Schoenfeld, CEO da MarketVector, ao NeoFeed.

Presente em 23 países com cerca de US$ 50 bilhões sob gestão em fundos passivos ligados aos seus 171 índices, a MarketVector acredita que o Brasil tem um mercado financeiro bastante desenvolvido e sofisticado e consegue se adaptar a novidades e tendências. E um ponto para essa rápida virada está na mudança de modelo de remuneração dos advisors.

A partir de novembro deste ano entrará em vigor as novas regras da Comissão de Valores Mobiliários que tornará transparente a remuneração dos assessores de investimento. Além disso, tem sido crescente no setor a discussão entre a adoção do modelo de fee fixo, que vem ganhando espaço nas assessorias de investimento e nos wealths dessas instituições.

Para Schoenfeld, os rebates pagos pela indústria de fundo ativos em um modelo de remuneração comissionado desencoraja a indústria de distribuição (como bancos e assessorias de investimento) a venderem ETFs, que não pagam rebates. Foi isso o que fez os EUA, por exemplo, avançarem mais rapidamente do que a Europa, que teve um desenvolvimento tardio do mercado de investimento passivo.

“O mercado europeu sempre foi muito dominado por bancos, que querem que seus clientes invistam nos seus produtos e, principalmente, nos mais rentáveis para eles”, diz o CEO da MarketVector. “Nos EUA, a indústria independente e por cobrança de fee se desenvolveu mais rápido, buscando eficiência. Isso tem acontecido agora na Europa, com clientes cobrando resultados e fazendo o mercado crescer até mais que nos EUA.”

Neste ano, os fundos passivos, como ETFs, superaram pela primeira vez os fundos ativos, com mais de US$ 15 trilhões sob gestão. Isso aconteceu porque os índices passaram a ser cada vez mais bem construídos e os gestores ativos, hoje, têm muita dificuldade de bater o benchmark. Com isso, os investidores passaram a não ver sentido em pagar taxas de administração para quem não entrega resultados.

Steven Schoenfeld MarketVector
Steven Schoenfeld, CEO da MarketVector

Os fundos de índice são um caminho sem volta. Todas as grandes gestoras ativas internacionais lançaram nos últimos anos sua divisão de ETFs, e vem lançando mais recentemente estratégias ativas desses instrumentos.

No Brasil, a MarketVector é parceira da Investo, gestora brasileira independente focada em ETFs com mais de R$ 1 bilhão sob gestão e que possui 18 fundos, dos quais 9 são ligados aos da provedora de índices MarketVector. “Os ETFs são um instrumento muito mais eficiente de alocação”, analisa Cauê Mançanares, CEO da Investo.

Mas há conversas da MarketVector com outras gestoras brasileiras para atrelar seus índices. E também criar alguns sob demanda.

“Vemos interesse das assets locais em trazer grandes tendências para cá, como renda fixa global, e fundos temáticos como inteligência artificial e criptoativos”, conta Schoenfeld.

Os criptoativos estão em alta no mundo temático dos ETFs. Neste ano, o índice da MarketVector com a maior alta foi o Meme Coin Index, com mais de 69% de valorização, que segue a rentabilidade dos ativos digitais meme coins. O segundo foi o Centralized Exchanges, que segue o retorno de exchanges criptos reguladas.

No segmento de ações, as maiores valorizações do ano são de um índice de semicondutores (40,6%), que foi lançado em julho na B3 pela Investo, e de um índice que acompanha empresas ligadas à indústria de defesa nacional (35,9%).

Já nos últimos três anos, a melhor performance foi do Solana VWAP Close Index, que segue a performance dos ativos digitais que investem na Solana (plataforma de blockchain projetada para suportar aplicativos descentralizados), com 207% de valorização. Já a BlueStar Top 10 US Listed Fabless Semiconductor Index, que segue a performance de empresas de semicondutores, valorizou 104%.

Mas a empresa de índices acredita que pode contribuir para os investimentos locais também, principalmente no agronegócio, que é por si só um mercado global.

“Queremos ajudar o Brasil a desenvolver índices mais aderentes a sua economia. Fico um pouco chocado com a pujança do agronegócio brasileiro e que não há investimentos financeiros mais fortes em commodities, como soja, café etc. Um tipo de investimento que está crescendo muito lá fora”, diz Schoenfeld.

Na visão dele, o mercado brasileiro está muito enraizado no CDI e no Ibovespa, que são benchmarks para tudo. Há falta de diversidade de índices. A tendência é ter diversidade também de benchmarks como acontece nos EUA, onde os fundos de gestão ativa têm suas referências segmentadas para superar.