A Eletrobras deu mais um passo significativo no processo de reestruturação de suas operações desde que foi privatizada há dois anos, ainda que analistas vejam que ainda há muito a ser feito em termos de ganhos de eficiência.
A companhia anunciou na sexta-feira, 12 de julho, uma oferta secundária de, inicialmente, 60 milhões de ações preferenciais da empresa de transmissão ISA Cteep, que pode ser acrescida de 70 milhões de papéis, a depender da demanda do mercado.
Considerando o valor em que essas ações fecharam o pregão de 11 de julho, de R$ 27,10, a Eletrobras poderá embolsar de R$ 1,6 bilhão até R$ 3,5 bilhões. A precificação está prevista para ocorrer em 18 de julho, com liquidação em 23 de julho. A operação está sendo coordenada por Citi, Itaú BBA, Banco Safra e XP Investimentos.
A intenção da Eletrobras de vender as ações da ISA Cteep não é nova. Detentora atualmente de 52,5% das ações preferenciais da transmissora, além de 9,7% das ordinárias, a ex-estatal anunciou, em outubro, que o conselho de administração autorizou a estruturação de uma oferta, mas teve que recuar pelo fato de debêntures emitidas no passado conterem cláusulas que impediam a venda de ativos.
Agora, livre das restrições, a Eletrobras deve seguir com a operação, que se insere dentro do plano de otimizar o portfólio de ativos, vendendo participações minoritárias e não estratégicas. Uma das vendas foi de sua participação na Copel, concluída em setembro de 2023, por cerca de R$ 125,3 milhões.
Desde que foi privatizada, a Eletrobras vem tomando medidas para simplificar sua estrutura. Uma delas foi a redução do quadro de funcionários, que foi cortado em 25% desde o segundo trimestre de 2022, segundo cálculos da XP.
Outra é a venda de ativos, caso do portfólio de termelétricas para a Âmbar Energia, por R$ 4,7 bilhões, em junho, e da participação de 49% da participação que detinha em projetos eólicos no Piauí para o Pátria, seguindo o caminho da Contour Global.
“A simplificação da estrutura societária permite redução de custos e ganho de sinergia operacional e gerencial entre os vários ativos da empresa”, diz trecho do relatório BB Investimentos, publicado no fim de junho, que destaca ainda que a reestruturação tem gerado valor na companhia.
As medidas vêm demonstrando resultados. No caso das despesas com pessoal, materiais e terceiras partes e outras despesas (PMSO, na sigla em inglês), de acordo com a XP, houve uma queda de 24,5% entre o segundo trimestre de 2022 e os primeiros três meses deste ano.
No entanto, eles destacam que ainda há muito a ser feito. “Quando olhamos para as métricas dos pares privados, ainda vemos muito espaço para fechar a lacuna”, diz trecho do relatório, publicado na quarta-feira, 10 de julho.
Segundo os analistas, a PMSO da Eletrobras ainda é muito elevada, quando comparada aos seus pares. Na comparação entre essa despesa e a capacidade de geração, a Eletrobras aparece em primeiro lugar, seguida por Auren e Engie.
Eles destacam ainda que também há muito a ser feito na revisão do portfólio, citando a incorporação de Furnas. Especialistas ouvidos pelo NeoFeed em janeiro, quando a operação foi aprovada pelos acionistas, apontaram para os ganhos de eficiência que a Eletrobras teria, com enxugamento de cargos duplicados e uma economia de impostos de pelo menos R$ 2 bilhões.
Enquanto vai colhendo o resultado de todas essas mudanças, a Eletrobras aproveitou para dar retornos mais imediatos aos acionistas, anunciando na sexta-feira passada, 5 de julho, um novo programa de recompra de ações, que prevê a aquisição de até 197,7 milhões de ações ordinárias e 26,8 milhões de ações preferenciais B, que representam 10% do total de papéis em circulação de cada classe.
Em meio a essas medidas, e também ações para reduzir gradativamente a posição descontratada em energia e gestão de passivos, a XP vê um potencial de alta de 47% das ações ordinárias em relação ao preço-alvo que estabeleceu, de R$ 57. A recomendação é de compra.
O BB Investimentos também tem recomendação de compra, com preço-alvo de R$ 51,10, o que representa um upside de 32,3%.
Por volta das 14h15, as ações ordinárias da Eletrobras subiam 1,48%, a R$ 39,18. No ano, elas acumulam queda de 8%, levando o valor de mercado a R$ 87,9 bilhões.