O WeWork já chegou a ser avaliado em US$ 47 bilhões, em 2019, quando tentou abrir o capital e fracassou em meio a uma série de problemas de governança e de má gestão de seu fundador, Adam Neumann. Só não foi à bancarrota, porque o Softbank, que havia despejado uma caminhão de dinheiro na operação, saiu em seu resgate.
Agora, o WeWork está, de novo, com problemas. Em comunicado ao mercado na terça-feira, 8 de agosto, a companhia, que opera uma rede de escritórios compartilhados ao redor do mundo, informou que tem uma "dúvida substancial" se poderá continuar operando em meio a problemas financeiros crescentes.
De acordo com a empresa, os próximos 12 meses trarão uma resposta se a operação irá sobreviver ou não. Segundo David Tolley, CEO da companhia, a culpa pelo mau momento da empresa recai sobre o excesso de oferta em imóveis comerciais, o aumento da concorrência no espaço flexível e a volatilidade macroeconômica.
A notícia de que a operação do WeWork está em estado crítico afetou o ânimo dos investidores e as ações da empresa estão em queda de mais de 37% nesta quarta-feira, 9 de agosto. Com isso, cada papel está sendo negociado por valores próximos de US$ 0,13. Desde o começo do ano, o valor de mercado da empresa já caiu mais de 90% para US$ 103,2 milhões.
Tolley assumiu o comando do WeWork de forma interina há pouco menos de três meses ao substituir o executivo Sandeep Mathrani, que estava à frente da companhia desde 2020. Em sua chegada, Tolley havia dito que estava confiante de que aquele “era o momento da WeWork”.
Desde 2020, o WeWork já perdeu mais de US$ 11,4 bilhões. No último trimestre, encerrado em junho, a companhia reportou resultados melhores do que os obtidos no mesmo período do ano passado, mas os números ainda não são suficientes para tirar a operação do prejuízo.
A receita aumentou 4% no segundo trimestre ante os mesmos três meses de 2022 e ficou em US$ 844 milhões. Já o prejuízo líquido caiu de US$ 635 milhões no segundo trimestre do ano passado para US$ 397 milhões. A dívida total, por sua vez, soma US$ 18,6 bilhões. No fim do ano passado, o passivo total (considerando curto e longo prazo) era de US$ 21,3 bilhões.
Na conferência de resultados nesta quarta-feira, 9 de agosto, que durou 13 minutos, a companhia informou que o principal desafio para alcançar a lucratividade é a falta de liquidez e os gastos com locação de imóveis. Esses itens, no segundo trimestre, foram equivalentes a 74% da receita e mais de dois terços dos gastos operacionais totais.
No fim do segundo trimestre, a companhia informou que tinha 715 escritórios espalhados pelo mundo. Em seu site oficial, a empresa diz que operava em 39 países e 120 cidades. A taxa de ocupação dos coworkings é de 72%.
Valor astronômico
A WeWork se tornou uma das empresas privadas mais valiosas do mundo impulsionada pelo Softbank, que participou de uma rodada de US$ 2 bilhões em 2019. Depois disso, a companhia iniciou seus planos para realizar seu IPO.
Os documentos entregues aos órgãos controladores de mercado nos Estados Unidos revelaram que a companhia tinha números preocupantes. Havia US$ 47 bilhões em obrigações de arrendamento futuro (future lease obligations) e US$ 4 bilhões em compromissos de arrendamento futuro (future lease commitments).
Nos meses seguintes, o valuation do WeWork começou a cair, os planos de IPO fracassaram e a empresa teve seu preço remarcado para US$ 10 bilhões. Naquele mesmo ano, Adam Neumann, fundador da companhia, foi pressionado pelo conselho da empresa para deixar o cargo de CEO.
Para reestruturar o negócio, o WeWork anunciou que o executivo Marcelo Claure, então CEO da Softbank Group International, foi escolhido para assumir a presidência do Conselho de Administração da companhia. Claure era considerado o braço direito de Masayoshi Son, fundador e CEO do conglomerado japonês
Ainda assim, em 2020, Son disse que "foi tolo" de investir na companhia. O conglomerado japonês havia investido mais de US$ 10 bilhões na operação até então. Mesmo assim, o Softbank não desistiu totalmente do negócio.
Em 2021, ano em que a companhia imaginou que poderia ser o da virada, WeWork e Softbank anunciaram que estavam expandindo sua joint venture na América Latina num acordo que dava direito exclusivo ao fundo para operar a marca de coworkings na região. A parceria foi expandida no ano seguinte com a inclusão da Costa Rica.
A abertura de capital aconteceu em 2021, por meio da BowX Acquisition, uma SPAC. Na época, a companhia foi avaliada em US$ 9 bilhões e levantou US$ 1,3 bilhão.
Em comunicado, o WeWork LatAm disse que "desde a sua criação, a WeWork LatAm conta com a parceria do SoftBank, que auxilia na operação e supervisionamento do negócio da WeWork Global na região". E acrescentou que "apesar dos desafios no mercado imobiliário, a WeWork LatAm continua avançando para manter sua liderança em espaços flexíveis e impulsionar ainda mais o seu crescimento".