Um dos grandes mercados da Apple, a China foi o destino de duas viagens recentes de Tim Cook, em outubro de 2023 e março deste ano. Mas, ao que tudo indica, o CEO da empresa da maçã ter que acumular mais milhas para que o iPhone, carro-chefe da companhia, volte a decolar no país.

Duas pesquisas divulgadas nas últimas horas mostram que a Apple perdeu ainda mais terreno na categoria de smartphones na China no segundo trimestre de 2024. E, mais do que isso, deixou de figurar entre as cinco principais marcas em vendas locais, caindo para a sexta posição nesses rankings.

No primeiro levantamento, feito pela consultoria Canalys, o iPhone registrou uma queda anual nas vendas de 2% e uma participação de mercado de 14% entre abril e junho, abaixo das fatias de 15% registrada no primeiro trimestre de 2024 e de 16% em igual período de 2023.

De acordo com cálculos da rede americana CNBC, a Apple registrou cerca de 9,7 milhões de unidades vendidas do iPhone na China entre abril e junho, perdendo a terceira posição que ostentava na categoria há um ano.

Completando esse pacote de más notícias para Cook e companhia, a consultoria IDC ressaltou que as vendas do iPhone caíram 3,1%, em base anual, mesmo com as ofertas e promoções feitas pela Apple nesse intervalo.

O desempenho negativo da empresa salta ainda mais aos olhos à medida que as duas pesquisas mostram um cenário de recuperação da categoria no mercado chinês. Segundo a Canalys, o segmento registrou vendas de 70 milhões no período, um crescimento anual de 10%.

Já a IDC contabilizou um total de 71,6 milhões de unidades vendidas no trimestre, um salto anual de 8,9%. Essa retomada no maior mercado global de smartphones foi encampada pelos players domésticos.

“É o primeiro trimestre na história em que os fornecedores locais dominam todas as cinco primeiras posições”, afirmou Lucas Zhong, analista de pesquisa da Canalys, em nota sobre a pesquisa realizada pela consultoria.

“Por outro lado, a Apple está enfrentando um gargalo na China continental”, observou Zhong. “A localização dos serviços de inteligência da empresa na região será crucial nos próximos doze meses”, disse o analista, destacando o reforço de recursos de inteligência artificial pelas marcas chinesas.

De acordo com a Canalys, a grande vencedora no período foi a vivo, com uma expansão anual de 15% nas vendas e uma participação de mercado de 15%. O segundo lugar ficou com a Oppo, com 11,3%, seguida por Honor, com 10,7%, Huawei, com 10,6% e Xiaomi, com 10%.

Com um crescimento de 17,1% e um market share de 18,5%, a vivo também figurou no topo da lista da IDC, seguida de perto pela Huawei, com 18,1%. O ranking traz ainda a Oppo, com 15,7%, a Honor, com 14,5%, e a Xiaomi, com 14%.

A queda da Apple coincide com o recuo das receitas do iPhone no balanço da companhia. Em seu primeiro trimestre fiscal, a encerrado em 30 de março, o faturamento com o aparelho foi de US$ 45,9 bilhões, contra US$ 51,3 bilhões um ano antes.

Já a receita total da empresa caiu de US$ 94,8 bilhões para US$ 90,7 bilhões nesse intervalo. Enquanto a receita contabilizada na China continental foi de US$ 16,3 bilhões, contra US$ 17,8 bilhões um ano antes.

As duas visitas recentes de Cook ao país integram a estratégia para virar esse jogo na China. Na primeira delas, em outubro, ele marcou presença em uma loja da Apple, onde gamers disputavam uma competição do jogo Honor of Kings. Na segunda, ele inaugurou uma loja em Xangai.

Em contrapartida, na ponta da fabricação dos iPhones, a perspectiva é de que a China perca espaço no escopo da Apple. Historicamente, a empresa sempre concentrou sua produção no país a partir de parcerias com empresas como a Foxconn.

Um dos principais destinos dessa nova estratégia é a Índia, como mostram alguns números do último ano fiscal consolidado da companhia, encerrado em 30 de setembro. No período, a Apple produziu o equivalente a US$ 14 bilhões em iPhones naquele país, segundo dados compilados pela Blooomberg.

Em outros indicadores que reforçam essa tese, um em cada sete iPhones, ou 14% da produção total da Apple, já são fabricados na Índia. Esse volume representa o dobro do que era produzido no país no exercício fiscal anterior.

A Apple começou a fabricar os primeiros iPhones no país em 2017. Mas passou a ampliar esses projetos à medida que as relações e as tensões comerciais entre os governos dos Estados Unidos e da China se agravaram.

As ações da Apple fecharam o pregão da quinta-feira, 25 de julho, em queda de 0,48%, cotadas a US$ 217,49. No ano, os papéis da companhia, avaliada em US$ 3,3 trilhões, acumulam uma valorização de 12,9%.