Duas fabricantes chinesas de celulares, a Honor e a Oppo, estão finalizando os detalhes de seus planos para avançar no mercado brasileiro, apurou o NeoFeed com pessoas a par das estratégias.

A Honor, um spin-off da chinesa Huawei e que se tornou a sensação em vendas na China, está criando sua estrutura para começar a operar no Brasil.

A companhia já contratou dez pessoas e busca mais profissionais para completar o time brasileiro. A intenção é começar a importar os aparelhos a partir de abril.

Outro passo importante para chegar ao Brasil foi a homologação de aparelhos na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e a criação de páginas em português no YouTube, Facebook e TikTok.

A companhia chinesa surgiu em 2020, depois que a Huawei vendeu sua operação de telefones celulares para um consórcio de 30 empresas, na esteira das sanções do governo dos Estados Unidos à empresa.

No terceiro trimestre de 2023 (dado mais atual), a Honor atingiu o topo de vendas na China, comercializando 11,8 milhões de unidades no período. A segunda colocada Xiaomi ficou atrás com 2,8 milhões de aparelhos a menos.

Mas a Honor tem também mostrado força fora da China. Na Europa, no terceiro trimestre de 2023, foi a quinta marca mais vendida e registrou crescimento de vendas. Seus rivais, Samsung, Apple e Xiaomi, observaram as vendas caírem no período.

Esse rápido avanço em seu país de origem, bem como na Europa, fez com que a Honor divulgasse, no ano passado, planos para um IPO, sem definir o local onde irá abrir o capital, nem o prazo de quando isso deve acontecer.

A Honor atua desde smartphones básicos até premium e sua linha de produtos inclui tablets, notebooks e wearables. Neste primeiro momento no Brasil, o foco será em smartphones.

O aparelho homologado na Anatel é o Honor X8a, mas em suas redes sociais em português a companhia tem divulgado o Honor Magic 5 Lite, seu celular intermediário que tem tela curvada com tecnologia OLED.

Oppo “liga as turbinas” de sua operação

A Oppo não é exatamente uma novata no mercado brasileiro. No segundo semestre do ano passado, anunciou sua operação local, mas a manteve em banho-maria.

De acordo com uma fonte com quem o NeoFeed conversou, a companhia usou esse período para “testar as águas” e, agora, se prepara para um avanço mais forte no mercado local.

No Brasil, a Oppo está montando uma rede de distribuidores. A companhia chinesa, segundo apurou o NeoFeed, está trazendo parceiros chineses de distribuição ao Brasil, que estão se associando com empresas locais para distribuir os aparelhos.

A ideia da Oppo é contar com uma grande rede de distribuição em vez de um parceiro exclusivo, como seria o normal. O plano é também importar os aparelhos, assim como a Honor.

“Eles vão ter uma presença nacional de distribuição”, diz uma fonte que conhece os planos da Oppo. “Até o momento, só testaram o mercado e venderam pouco. Agora, vão entrar para disputar com Samsung, Motorola e Apple.”

A tática de trazer parceiros locais é um comum entre as empresas da Ásia. Em especial, as da China. Companhias de logística como J&T Express, Cainiao, Anjun Express e SF Express chegaram ao Brasil na esteira de e-commerces asiáticos, como Alibaba, Shopee e Shein.

A companhia chinesa, nesse primeiro momento, vende um celular 4G, de sua linha intermediária. Mas deverá focar em tecnologia 5G, em que tem diversas patentes. Ela também tem se destacado em smartphones dobráveis, uma área que deve crescer nos próximos anos.

A Oppo faz parte do grupo BBK Electronics, do bilionário Duan Yongping, que é dono também de outras marcas de smartphones. Entre elas, a Vivo, a Realme, a OnePlus e a IQOO.

Yongping começou seu negócio na década da 1990, vendendo aparelhos de CDs e DVDs. Mas a queda dessas tecnologias, levou o empresário a apostar em outros produtos. A Oppo foi fundada em 2004 e lançou primeiro um MP3 player. O celular veio só em 2008.

Hoje, a companhia é a figura mais reluzente do grupo de marcas de celulares de Yongping. Quarta fabricante global de celulares, a Oppo vendeu mais de 100 milhões de aparelhos no ano passado e conquistou uma fatia de 8,8% do mercado, atrás de Apple, Samsung e Xiaomi.

Desde que começou sua expansão global, a partir da Tailândia, em 2011, já chegou a mais de 60 países. A América Latina é uma estratégia recente.

A Oppo estreou no mercado latino-americano com a entrada no México em 2020. Um ano depois, anunciou sua chegada ao Chile e à Colômbia.

O Brasil, no entanto, é seu grande teste, pois é o quinto maior mercado de smartphones do mundo, com aproximadamente 40 milhões de unidades vendidas.

“Efeito Shein”?

Os planos de Oppo e Honor são os mais recentes movimentos de empresas de telefonia chinesa no mercado brasileiro, liderado por Samsung e Motorola.

Aos poucos, as empresas chinesas têm começado a ganhar mercado e a incomodar as companhias que têm fabricação no Brasil, que temem um “efeito Shein” nos smartphones.

A referência é a fabricante de roupas chinesa Shein, que chegou ao Brasil via importação e preços agressivos – além de práticas comerciais consideradas nada usuais – provocando um tsunami no varejo local, que começou a perder terreno para a marca asiática.

Além de Oppo e Honor, a chinesa Xiaomi, terceira maior fabricante de smartphones do mundo, já está estabelecida no Brasil há tempos e suas vendas têm crescido de forma acelerada em 2023.

No Brasil, segundo a plataforma StatCounter, que analisa o mercado de smartphones, a chinesa Xiaomi aparece em quarto lugar com 15,3% do mercado, mas foi a única a apresentar crescimento nos últimos meses no mercado nacional.

A coreana Samsung aparece em primeiro lugar, com participação de 37,5% nas vendas. A americana Motorola, com 19,1%, está em segundo seguida da Apple, com 18,2%.

Esse crescimento dos chineses, que tinham uma participação de 0,5% em 2018 no Brasil, está causando um mal-estar no mercado, apurou o NeoFeed.

Fabricantes locais já estão se movimentando para tentar barrar esse avanço. Um argumento que esse grupo tem usado é o tamanho do mercado ilegal de smartphones, que tem crescido de forma acelerada no Brasil.

Um estudo da consultoria IDC mostrou que esses aparelhos representaram 17% do mercado brasileiro em 2023. Em números, foram vendidos 5 milhões de aparelhos ilegais no ano passado.

Os aparelhos irregulares (contrabandeados ou importados sem homologação da Anatel) vêm da China e chegam ao Brasil via Paraguai, segundo a IDC.

Em geral, são vendidos via marketplaces, onde os aparelhos estão entre os itens mais comercializados entre os brasileiros.

“Esse é um problema sério da indústria”, diz uma fonte do setor de telecomunicações. “As empresas que têm fábricas no Brasil estão perdendo mercado e o governo deixando de arrecadar bilhões de reais.”