O empresário Janguiê Diniz sobe ao palco e é ovacionado por um público de aproximadamente 1,5 mil pessoas, que participavam do Summit de Empreendedorismo, organizado pelo Instituto Êxito, no início de novembro, em São Paulo.
Depois, ao longo dos três dias do evento, ele ficou sentado em um cadeira observando os diversos palestrantes que passaram pelo gigantesco palco. Todos, sem exceção, elogiavam Diniz, um engraxate que criou o grupo educacional privado Ser, que vale hoje quase R$ 3 bilhões e o deixou bilionário (ele detém 57,36% da empresa).
Ao final de cada apresentação, um ritual se repetia. Uma fila se formava para tirar fotos com o palestrante e com Diniz, que pacientemente atendia a todos. “Já dei mais de mil autógrafos e nem sei quantas selfies fiz aqui”, disse ele, ao NeoFeed, ao fim de mais uma palestra.
Essa é a nova vida de Diniz desde que ele se mudou para São Paulo, em março deste ano, deixando Recife, onde fundou, em 2003, a Ser Educacional, que tem 161,1 mil alunos, faturou R$ 925,4 milhões nos nove primeiros meses deste ano e é o maior grupo educacional do Norte e Nordeste.
Em maio deste ano, Diniz criou o Instituto Êxito de Empreendedorismo com outros 33 empresários – todos convidados por ele. Fazem parte do grupo João Appolinário, da Polishop; Antonio Carbonari Netto, fundador da Anhanguera; José Olympio Pereira, do Credit Suisse; Celso Niskier, da Unicarioca; e Cândido Pinheiro, da Hapvida; entre outros.
Atualmente, o Instituto Êxito conta com aproximadamente 400 associados e Diniz dedica 90% de seu tempo a ele. Os outros 10% são gastos com o grupo Ser Educacional, do qual ele ainda é o presidente do conselho de administração.
“A gente luta a vida inteira, estuda, trabalha bastante e se torna resiliente para superar as adversidades que surgem todos os dias. Qual a consequência disso? Ganhar dinheiro”, afirmou Diniz, durante o Summit de Empreendedorismo do Instituto Êxito, do qual o NeoFeed foi parceiro de mídia. “Mas certo dia você acorda e se pergunta: a vida é só ganhar dinheiro? E as pessoas?.”
Foi esse questionamento que fez Diniz começar a pensar em uma forma de doar seu tempo – e seu dinheiro – para projetos sociais. Em 2017, ele criou o Instituto Janguiê Diniz, que dá bolsas de estudos para estudantes cursarem universidades em sua terra natal, Santana dos Garrotes, no sertão da Paraíba, uma cidade com pouco mais de 7 mil habitantes, a 400 quilômetros da capital João Pessoa.
Mas Diniz achou que era pouco. Em sua visão, era preciso escalar. Foi assim que surgiu o Instituto Êxito. Com seis meses de vida, o instituto se estruturou e criou uma área de cursos online, que já conta com um catálogo de 110 cursos. A partir do ano que vem, o objetivo é colocar em prática uma série de iniciativas. A meta é formar um milhão de pessoas em empreendedorismo nos próximos cinco anos.
“Vamos chegar a esse número muito antes desse prazo”, diz Celso Niskier, vice-presidente do Instituto Êxito, reitor da Unicarioca e responsável por organizar o método pedagógico dos cursos que são oferecidos na plataforma do instituto.
Há várias frentes para impactar um milhão de pessoas. A primeira delas é negociar parcerias com as secretarias de educação de municípios e de Estados para levar os cursos online para estudantes de escolas públicas. A cidade de São Paulo e o Estado de Pernambuco devem ser os primeiros parceiros.
Universidades também são alvo do Instituto Êxito para distribuir seus cursos. “No ano que vem, 13 mil alunos da Unicarioca vão poder assistir aos cursos e estou negociando com mais de 50 universidades”, afirma Niskier.
De acordo com Niskier, a ideia é formar os estudantes em competências pessoais, técnicas e profissionais. “Queremos ensinar criatividade, raciocínio lógico e autoconhecimento, bem como análise de planilhas, planos de negócios e gerenciamento de pessoas e de recursos financeiros”, diz o reitor da Unicarioca.
Os cursos disponíveis na plataforma online do Instituto Êxito incluem duas “aulas” com o próprio Janguiê Diniz. Uma delas é “A arte de empreender” e a outra é “Passos para o sucesso”. Mas há conteúdos sobre como montar, conseguir crédito e buscar investimento de capital de risco até cursos profissionalizantes. A meta é chegar a 500 aulas em 2020.
Os cursos não serão a única forma de formar empreendedores nas quais o Instituto Êxito quer atuar. Diniz vai também incentivar todos os sócios a dar mentorias. O objetivo é que cada um deles atue com grupos de 10 a 20 pessoas durante, pelo menos, três meses, fazendo atendimentos por WhatsApp ou até mesmo presenciais.
Apoio financeiro
O próximo passo é apoiar os empreendedores financeiramente. A missão de estruturar essa área está a cargo de João Kepler, sócio da fundo de venture capital Bossa Nova Investimentos e vice-presidente do Instituto Êxito.
Duas modalidades estão sendo estudadas. Uma delas é um fundo para investir em empresas. “Queremos investir em projetos de impacto social”, afirma Kepler. “O retorno pode ser o número de pessoas impactadas ou o crescimento da empresa, não necessariamente o dinheiro.”
A meta do Instituto Êxito é formar um milhão de pessoas em empreendedorismo nos próximos cinco anos
A outra vertente é o microcrédito, com juros sociais. Neste caso, o dinheiro vai ser emprestado e quem receber os recursos vai ter devolvê-lo, depois de um tempo, sem nenhuma taxa adicional, para que possa ser usado para ajudar outro empreendedor.
Esses dois planos, no entanto, estão apenas no papel. A ideia é lançar as duas iniciativas ao longo do ano que vem com os recursos dos próprios sócios do instituto, que devem doar os recursos.
De engraxate a bilionário
Diniz tem uma história de superação contada na autobiografia “Transformando sonhos em realidade”, um dos 21 livros escritos pelo empresário, que nasceu em uma família simples no sertão da Paraíba.
A mãe era dona de casa e o pai, peão em fazendas. Aos oito anos, foi engraxate, quando vivia em Naviraí, no Mato Grosso do Sul, para onde seus pais haviam se mudado. Ele também vendeu laranjas e picolés para ganhar alguns trocados.
Depois de Naviraí, ele se mudou para Pimenta Bueno, em Rondônia, onde concluiu o ensino fundamental. Aos 15 anos, foi para Recife, morar na casa de um tio, para estudar. Fez o colegial, entrou na faculdade de direito e, depois de formado, passou no concurso de juiz. Foi quando viu uma carência: a falta de bons cursos preparatórios para concursos públicos.
Em 1994, Diniz empreendeu pela primeira vez na área de educação: montou uma escola para concursos. O grupo Ser surgiu em 2003 e abriu o seu capital na bolsa de valores dez anos depois, quando captou R$ 620 milhões.
O Ser Educacional é hoje o terceiro maior grupo educacional privado brasileiro em valor de mercado com ações negociadas na B3. Está atrás da Cogna (ex-Kroton), que vale R$ 15,8 bilhões, e da Yduqs (ex-Estácio), avaliada em R$ 11,3 bilhões.
Com valor de mercado de R$ 3 bilhões, o grupo de Diniz está à frente da Ânima, cuja capitalização é de R$ 1,7 bilhão.