Impulsionada pelo rápido crescimento das linguagens de inteligência artificial (IA) e as aplicações em torno da tecnologia, a Nvidia se tornou a queridinha da vasta maioria dos gestores e analistas.
Desde o começo do ano, as ações da companhia acumulam alta de 124%, com a companhia ultrapassando a marca de US$ 3 trilhões em valor de mercado (hoje, está em US$ 2,8 trilhões), diante da demanda por seus chips semicondutores.
Mas nem todo mundo embarcou no entusiasmo. Para a gestora ativista Elliott Management, que conta com cerca de US$ 70 bilhões em ativos sob gestão, a Nvidia é uma bolha e as expectativas em torno da IA são “exageradas”.
Em carta aos seus investidores, obtida pelo Financial Times, a gestora fundada por Paul Singer e conhecida por liderar movimentos de acionistas para pressionar por mudanças em grandes empresas lançou dúvidas sobre se as Big Techs seguirão comprando os chips da Nvidia nos volumes atuais.
Segundo a Elliott, o entusiasmo dos mercados com a IA está “exagerado, com diversas aplicações ainda em estágio não maduro”. A gestora chega ao ponto de dizer que muitos dos supostos usos da tecnologia “nunca serão eficientes em termos de custos, nunca funcionarão corretamente, consumirão muita energia ou se provarão pouco confiáveis”.
A gestora diz ainda que a IA não entregou até o momento as promessas de ganhos de produtividade. “Ela tem pouco usos práticos”, afirma, além de “resumir notas de reuniões, gerar relatórios e ajudar com programação”.
Nem as Big Techs escaparam. Na carta, a Elliott afirmou que os papéis das principais companhias de tecnologia dos Estados Unidos estão “no campo da bolha”. Por outro lado, a gestora alertou que apostar contra essas companhias pode ser “suicida”.
Sobre quando a bolha explodirá, a Elliott avalia que isso pode acontecer quando a Nvidia divulgar resultados abaixo do esperado, o que “quebrará o seu encanto”.
A divulgação das críticas da Elliott em relação à Nvidia vem num momento em que as ações das fabricantes de chips estão pressionadas, diante dos receios de que as empresas de tecnologia estão investindo muito para competir em IA.
A questão foi levantada em julho pelo Goldman Sachs, ao destacar que nomes como Amazon, Meta, Microsoft e Alphabet gastaram cerca de US$ 357 bilhões no ano passado com capex e pesquisa e desenvolvimento (P&D), com uma “porção significativa” sendo direcionada a IA.
O montante representou quase um quarto do que o total das empresas listadas no S&P 500 destinou para capex e P&D no mesmo ano, de acordo com o banco.
Esta não é a primeira vez que a Elliott volta sua mira contra empresas de tecnologia. Em 2020, a gestora empreendeu uma campanha contra o então CEO do Twitter Jack Dorsey, criticando como a rede social estava sendo conduzida por um dos seus fundadores. No fim, a gestora conseguiu um assento no conselho de administração.
A Elliott também embarcou numa campanha contra a empresa de software Citrix, em 2015, também criticando a administração e afirmando que as ações estavam subvalorizadas. Em 2022, a Citrix fechou um acordo de US$ 16,5 bilhões para ser comprada pela Elliott e a Vista Equity, ter seu capital fechado e se fundir com a Tibco Software.
Apesar da Elliott criticar a supervalorização da Nvidia e de outras companhias de tecnologia por conta do avanço da IA, não são todos que estão conseguindo aproveitar o momento.
É o caso da Intel, então grande nome do segmento de microprocessadores, que ainda está atrás na produção de chips para a nova tecnologia, além de ter perdido terreno nos segmentos de computação pessoal para nomes como AMD.
As ações da companhia recuam fortemente na sexta-feira, 2 de agosto, depois da divulgação de resultados abaixo do esperado e sinais de que o plano para recolocar a companhia na disputa do mercado de chips, com destaque para IA, não está tendo efeito desejado. Por volta das 13h11, as ações da Intel caíam 27,35%, a US$ 21,10. No ano, os papéis registram queda de 57,94%.
A Intel teve um lucro por ação ajustado de US$ 0,02 e uma receita de US$ 12,8 bilhões, abaixo da média das expectativas dos analistas, de ganho por ação de US$ 0,10 e receita de US$ 12,9 bilhões.
Com a falta de resultados do processo de reestruturação, a companhia anunciou um plano para reduzir US$ 10 bilhões em custos, com corte de 15% do quadro de funcionários, além da suspensão do pagamento de dividendos.