Há seis meses, a então recém-lançada gestora Clave Capital, liderada por Rubens Henriques, anunciou a criação de um fundo quantitativo chamado Cortex. A tese, disse Henriques na época da estreia, era ser um multimercado que entraria rápido e sairia rápido das posições – tudo automatizado por robôs e algoritmos.
Pois os primeiros meses de “vida” do fundo foram uma verdadeira prova de fogo para “robô” nenhum botar defeito. Como diria o poeta Carlos Drummond de Andrade, “no meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho”. Nesse caso, foram várias pedras.
“Aqui no Brasil, desde que começamos, tivemos um monte de empresas que fizeram IPO e se desvalorizaram entre 60% e 70%, houve a crise da quebra do teto de gastos, a alta dos juros que saiu de 3,50% chegando a 11,75%, as discussões de eleições”, diz Henriques ao NeoFeed. Mas não foi só isso.
“No exterior, as ações de empresas de tecnologia caindo muito na China e nos EUA, a inflação nos Estados Unidos que não víamos tão alta desde a década de 1980 e, a cerejinha do bolo, foi a guerra da Ucrânia.”
Segundo Henriques, desde o lançamento da Clave, em junho do ano passado, a indústria de fundos multimercados e de ações anotou mais de R$ 100 bilhões em resgates. Nesse período, a Clave captou R$ 6 bilhões, dos quais R$ 163 milhões estão alocados no Cortex.
“O Cortex atravessou a turbulência com uma performance excelente, mas, melhor do que isso, são os nossos números de descorrelação com o resto dos fundos e índices”, diz Moacir Fernandes, que lidera a estratégia quantitativa da Clave. “Conseguimos ter uma performance descorrelacionada de iBovespa, de dólar, de commodities, de IHFA.”
O Cortex rendeu 7,80% nos seis meses de operação, 3,51 pontos porcentuais acima do CDI. O índice de sharpe, que avalia o risco e retorno, alcançou 2,06. “É claro que foram os primeiros seis meses, mas conseguimos provar a tese do Cortex”, diz Henriques. “O grande desafio é entregar no longo prazo.”
O fundo analisa 20 geografias e mais de 3 mil ativos, olhando câmbio, juros, ações, commodities. Sua maior exposição nesta estreia foi em Brasil, com 70% do portfólio. Mas navegou equilibrando as apostas em juros (33%), ações (26%), moedas (21%) e commodities (20%).
“Queremos ser um dos principais gestores quanti do Brasil”, diz Henriques. A ambição é justa, mas, para isso, terá de acelerar – e muito – o passo. Outras gestoras estão muito bem estabelecidas nesse segmento e contam com track-record e bilhões sob gestão.
O expoente dessa indústria no Brasil é a Giant Steps, com R$ 8 bilhões sob gestão, cujo fundo mais conhecido é o Zarathustra, que rendeu 370% desde 2012. Mas a outras casas buscando reforçar essa tese sistemática. Entre elas, Daemon, Kapitalo, Bayes, Itaú Quantamental, Rio Bravo, e outras.
Todas estão de olho em um indicador que mostra o quanto essa indústria pode avançar. No mundo, a participação dos sistemáticos na indústria de hedg funds é de 34%. Já no Brasil, o market share é minúsculo, não alcançando nem 1% da indústria.