Nos últimos anos, a Renner trabalhou em silêncio com a Camicado. Sua rede de produtos para casa fechou cerca de 20 unidades deficitárias e investiu pesado para aumentar sua presença na área digital, ao mesmo tempo em que arrumava a “casa”.
Agora, chegou a hora de colher os resultados, em um momento em que a própria Renner apresentou um novo quadro organizacional, com a criação de duas vice-presidências que devem dar mais protagonismo para as marcas do grupo, como Renner, YouCom, Ashua, Repassa e a própria Camicado.
“A Camicado é um negócio bastante importante para o grupo e entendemos que há oportunidade de crescimento, além de trazer uma boa margem bruta, sendo um bom gerador de valor para os clientes e para a empresa”, diz Fabio Faccio, CEO da Lojas Renner, ao NeoFeed.
O foco, agora, passou para o ganho de margem, na linha do que a Renner fez em todos os seus negócios nos últimos cinco anos, em busca de um crescimento financeiramente sustentável.
“Olhamos para o negócio e percebemos que, se quiséssemos crescer em ritmo robusto e constante, com rentabilidade, precisaríamos arrumar algumas coisas que tinham sido feitas”, diz Natan Anaf, que assumiu como diretor-geral da Camicado em 2021.
O plano é avançar com sua marca própria, bem como voltar a inaugurar novas unidades físicas. Mesmo que timidamente, a Camicado planeja até duas lojas neste ano, que se somariam às 102 que já possui.
Essas novas unidades serão constituídas no novo conceito de lojas que a Camicado está implementando. No fim de julho de 2021, a companhia começou a reformar as unidades por constatar que elas serviam de fonte de inspiração.
“O cliente pode ir à loja sem um objetivo específico de compra. É claro que haverá aqueles que são mais funcionais, mas também queremos o cliente que passa na loja em busca de novidades”, diz Anaf.
O número pequeno de lojas a ser aberto está relacionado à estratégia online da Camicado, que investiu para expandir e melhorar as vendas no digital, implementando iniciativas como limites para promoções, além de adotar um aplicativo próprio.
Anaf diz que essa estratégia ajudou a elevar a representatividade dos canais digitais nas vendas. O site, considerando as operações 1P e 3P, mais o WhatsApp, responde atualmente por uma fatia de 31% do negócio, patamar acima dos 20% registrados em períodos anteriores.
O ajuste nos canais de venda foi combinado com o fortalecimento da Home Style, sua linha de produtos próprios. A Camicado já tinha produtos nas categorias de decoração e cama, mas, desde que Anaf assumiu a direção, a companhia avançou em outras categorias, como itens de organização de cozinha e lavanderia, até decoração de banheiro e sala de jantar.
Atualmente com 1,4 mil itens, a representatividade dos produtos Home Style passou de 50%, em 2021, para 75% no ano passado. “A estratégia de marca própria se mostrou uma equação de muito valor”, diz Faccio.
A decisão de expandir o portfólio veio dos resultados que a iniciativa teve em termos de rentabilidade. Sem abrir números, Anaf destaca que a linha própria fornece margem maior, uma vez que a companhia possui controle sobre toda a produção, boa parte dela vinda do exterior.
A estratégia permite também ofertar produtos que a concorrência não tem. Entre os principais concorrentes estão Zara Home e Riachuelo Casa. “A Home Style permite, ao fazer um bom trabalho de sourcing, trazer designs exclusivos, a um preço mais acessível e rentabilidade maior”, diz Anaf. “É um diferencial de negócio comparado ao que o mercado consegue fazer.”
Essa combinação de ajuste operacional e aposta na marca própria vem trazendo resultados para a Camicado e, por consequência, para a Renner. No primeiro trimestre de 2025, a empresa atingiu nível recorde de margem bruta para o período, de 55,4%, aumento de 5,4 pontos percentuais ante o ano anterior.
“O crescimento da rentabilidade da Camicado tem sido muito maior”, diz o CEO da Renner. “A marca teve aumento de margem e de vendas, mesmo sem ter aberto lojas.” No primeiro trimestre de 2025, a Camicado faturou R$ 127,9 milhões, alta de 2,1%.
A expectativa é de que a colaboração da Camicado para a Renner nos próximos anos venha justamente da rentabilidade. Em 2024, a parcela da Camicado foi de 4,5% da receita. “A Camicado continua crescendo, mas o crescimento não vem por conta de expansão. A expansão é uma das vias de crescimento”, diz Faccio.