Em um ano que promete ser desafiador para os nomes de consumo, a Lojas Renner aposta nos investimentos em ganho de eficiência feitos desde a pandemia para contornar o atual cenário e obter ganhos de market share e rentabilidade no médio e longo prazo.
As mudanças promovidas nas operações de varejo, junto com os ajustes no braço financeiro para redução de riscos, começaram a se traduzir em resultados no primeiro trimestre, aplacando a ansiedade de analistas e investidores, que só viam esses ajustes exercendo pressão na base de custos e despesas.
A expectativa é de que essas alterações ganhem tração ao longo do ano, permitindo que a rentabilidade volte aos poucos a patamares próximos aos vistos antes da pandemia no médio prazo.
“O que a Renner fez de investimentos foi para preparar a companhia para ter sucesso no médio e longo prazo, e o que vemos agora é que estamos conseguindo fazer com que todas as medidas ganhem mais tração”, diz Daniel Santos, CFO da Renner, ao NeoFeed. “A expectativa daqui para frente é que a gente siga essa jornada de crescimento acima da média de mercado, sadio, com ganho de margem.”
A Renner fechou o primeiro trimestre com um lucro líquido de R$ 221 milhões, um aumento de 58,7% em relação ao mesmo período de 2024, superando a média das estimativas colhidas pela Bloomberg, que apontava para ganho de R$ 111 milhões.
A receita líquida avançou 12%, para R$ 3,2 bilhões, também ficando acima das expectativas, que apontavam para R$ 3,1 bilhões. E o mesmo ocorreu com o Ebitda ajustado, que totalizou R$ 585,2 milhões, aumento de 55% – o consenso apontava para R$ 358 milhões.
Desde 2019, a Renner trabalha para melhorar a eficiência das operações e avançar na digitalização das vendas, colocando em prática um modelo de abastecimento para ser mais preciso e ter menor lead time para as lojas.
No primeiro trimestre, os resultados começaram a aparecer de forma expressiva. A receita por metro quadrado alcançou R$ 3,4 mil, alta de 11,6% em base anual, enquanto a margem bruta consolidada subiu 0,6 ponto percentual, com as remarcações nos menores níveis dos últimos dez anos.
Santos destaca que o processo de digitalização da Renner, que teve de ser acelerado durante a pandemia, também está agregando resultados. As lojas seguiram evoluindo na digitalização da experiência de compras e o GMV digital ganhou mais relevância, com crescimento de 15,0%, e penetração de 16,1% no faturamento, aumento de 0,3 ponto porcentual.
“Quando a gente pega o que era a empresa em 2019 e o que é agora, em 2019 era basicamente loja física, com 2% ou 3% de penetração, não era relevante”, diz o CFO. “Para sair desse patamar, a empresa teve que mudar, e mudou, investindo mais em infraestrutura.”
Um dos principais movimentos foi o Centro de Distribuição (CD) de Cabreúva, no interior de São Paulo, no qual investiu cerca de R$ 750 milhões para consolidar o novo modelo de abastecimento. Santos conta que o local deve centralizar totalmente a distribuição da Renner entre o final de junho e início de julho, reduzindo os custos e fortalecendo a omnicanalidade.
Ao mesmo tempo em que começa a colher os resultados da reestruturação promovida no varejo, a Renner fez com que a Realize deixasse de ser um detrator de resultados.
Mesmo com os efeitos da Resolução 4.966 do Conselho Monetário Nacional (CMN), que alterou os prazos do reconhecimento de juros de atraso e da baixa de ativos vencidos, o braço financeiro da Renner registrou bom desempenho, com menores provisões e despesas controladas. A Realize registrou um Ebitda no primeiro trimestre, excluindo a questão regulatória, de R$ 95,6 milhões, alta de 7,2 vezes.
Os ajustes operacionais chegam para ajudar a companhia a lidar com um cenário macroeconômico mais complexo, em que os juros altos no Brasil ganharam um “aliado” de fora, as tarifas dos Estados Unidos. O receio é de que a guerra comercial possa prejudicar o mercado local, ao desviar produtos que tinham como destino os Estados Unidos.
Esse seria um desenvolvimento ruim para uma indústria que sofreu por muito tempo com as empresas de fast fashion chineses, como Shein, que chegavam ao Brasil com custos muito mais baixos, alvo de críticas dos executivos da Renner.
Para Santos, os primeiros indícios não indicam um arrefecimento do consumo discricionário de ticket baixo no Brasil. Mas ele diz que a Renner tem agora mais agilidade para responder em caso de piora do cenário, além de um portfólio capaz de atender diferentes classes sociais.
“Sempre fizemos mudanças de preços com bastante cautela, porque vivemos no passado um aumento de preços muito forte que assustou o consumidor”, afirma Santos. “Agora, nós temos uma pressão de custo e tem necessidade de repassar preços, mas conseguimos lidar com isso de forma cautelosa, estruturada, vendo onde e como podemos fazer.”
Já sobre a concorrência externa, a situação melhorou após a intervenção do governo, reduzindo a pressão competitiva vista como injusta. “Não tivemos avanços que trouxeram isonomia completa, mas saímos de uma situação de zero tributação e controle para algo com uma tributação entre 45% e 50%, a depender do Estado”, diz.
Por volta das 13h56, as ações da Renner subiam 3,89%, a R$ 16,04. No ano, os papéis acumulam alta de 33,7%, levando o valor de mercado a R$ 17 bilhões.