A Lojas Renner divulgou na última quinta-feira, 3 de novembro, os resultados financeiros do terceiro trimestre. O destaque do balanço foi o aumento do lucro líquido, que, no trimestre, cresceu 50% para R$ 257,9 milhões. No acumulado do ano, o lucro passa de R$ 809 milhões, quase quatro vezes mais do que entre janeiro e setembro de 2021.

Mas o mercado olhou para outro dado do balanço da Renner. A maior preocupação parece estar em relação aos resultados da Realize CFI, o braço de soluções financeiras do grupo de moda.

A vertical teve desempenho 74,5% pior do que o registrado no terceiro trimestre do ano passado, fechando o período com resultado líquido de R$ 19 milhões. No acumulado de nove meses ante o mesmo período de 2021, a queda é de 40,7% para R$ 116,2 milhões.

No pregão desta sexta-feira, o primeiro após a divulgação dos resultados do último trimestre, as ações da companhia estavam em queda próxima de 4,3% por volta das 13h desta sexta-feira. As vendas fizeram a empresa perder mais de R$ 1,2 bilhão em valor de mercado. Agora, está avaliada em R$ 28,3 bilhões.

O resultado se deu pela "contínua deterioração do cenário de crédito no Brasil, onde o endividamento das famílias e o número de inadimplentes, neste trimestre, atingiram patamares historicamente elevados, resultando em níveis mais elevados de provisionamento de perdas".

Em teleconferência realizada nesta sexta-feira, Fabio Faccio, CEO da Renner, confirmou o desapontamento com os resultados. “Ficou abaixo das nossas expectativas”, disse aos investidores. “Havia a expectativa de voltar a concessão de crédito, mas com o cenário atual tomamos a decisão de ter uma maior restrição.”

O resultado trimestral foi impactado pelas perdas em créditos dos cartões Renner e Bandeira, que somaram passivos de R$ 6,9 milhões e R$ 230 milhões contra montantes de pouco mais de R$ 100 mil e de R$ 74,6 milhões, respectivamente, no terceiro trimestre de 2021.

Ao todo a companhia tem 5,9 milhões de cartões ativos e que representaram no último trimestre 34,3% das vendas de varejo, 1,7 ponto percentual a menos do que o no mesmo período do ano passado.

Em relatório após a divulgação dos resultados, o Itaú BBA, que manteve recomendação neutra para os papéis da varejista, descreveu a Realize como ponto baixo por conta de Ebitda negativo de R$ 5 milhões “e maiores provisões devido à deterioração da qualidade de crédito”.

O relatório do Santander, por sua vez, afirma que os resultados do trimestre ficaram “amplamente em linha com nossas estimativas e consenso, embora com uma qualidade inferior ao esperado”.

O banco espanhol, no entanto, classificou também o desempenho da divisão financeira como “fraco” e lembrou que o Ebitda da Realize só ficou positivo em R$ 19 milhões pela venda de uma carteira vencida em R$ 24 milhões.

O relatório do Bank of America é mais otimista. Sob recomendação de compra, o BofA afirmou que “a Renner está bem-posicionada para consolidar ainda mais o vestuário brasileiro” e destacou melhorias na cadeia de suprimentos e na logística, o que ajuda a aumentar a frequência de lojas e sites. O banco também vê o setor de e-commerce com boas perspectivas para os próximos meses.

Para o quarto trimestre, a expectativa da Renner é de que os resultados possam ser impulsionados pela Black Friday e pelas compras de Natal. Faccio lembrou que os meses de novembro e dezembro representam entre 85% e 90% das vendas do período.

Para 2023, o executivo afirmou que o plano está na recuperação da companhia para que que o negócio volte aos patamares de 2019. “O foco será em crescimento e rentabilidade”, disse o executivo.