Uma das principais redes varejistas de moda do mercado brasileiro, a C&A anunciou três movimentos em sua prateleira de produtos e serviços financeiros por meio de um fato relevante na noite da segunda-feira, 23 de junho.

No primeiro, a rede divulgou o encerramento da parceria mantida com o Bradesco desde 2009, quando o banco comprou o Ibi, cujo dono era a sua controladora. Na época, a transação veio acompanhada de um acordo exclusivo, de 20 anos, para que a instituição vendesse produtos financeiros em suas lojas.

Como parte do fim da parceria, veio o segundo movimento: a varejista informou que efetuou a quitação integral dos R$ 650,6 milhões devidos ao banco, referentes à recompra dos direitos de produtos e serviços financeiros, anunciada, por sua vez, em 2021, cujas obrigações tinham vencimento no próximo dia 31 de julho.

Já em uma terceira ponta incluída no fato relevante, e também relacionada ao acordo, a C&A informou que vendeu uma carteira de crédito do cartão bandeirado Bradescard, pelo montante total de R$ 170 milhões.

No mercado, o saldo inicial de todos esses anúncios parece ser positivo. É o que indicam, por exemplo, os analistas do Itaú BBA, que, em relatório enviado a clientes, destacaram que essas medidas traduzem mais um passo na agenda do ecossistema financeiro da varejista.

“Embora o potencial financeiro de curto prazo seja modesto, esse anúncio reforça a mudança estratégica mais ampla da C&A em direção à verticalização de seus serviços financeiros”, apontou o banco, que tem recomendação de compra e preço-alvo de R$ 15 para a ação da C&A.

O Itaú BBA também ressaltou que a monetização do portfólio a um valor acima do esperado traz um “conforto incremental” em torno da execução dessa estratégia e ajuda a organizar a última etapa da transição distante do Bradesco.

Nas contas dos analistas do Itaú BBA, a venda da carteira de cartões cobranded resultará em um efeito líquido de R$ 102 milhões no caixa da C&A. Essa cifra supera ligeiramente o valor presente líquido (VPL) de R$ 90 milhões que o banco assumia em seu modelo.

“Embora acreditemos que parte dos investidores já esperava algum resultado com essa venda, entendemos que, na média, isso não foi totalmente precificado, portanto, é uma notícia ligeiramente positiva”, aponta o banco, que ressalta ainda o fato de a C&A passar a controlar 100% dessa operação.

Quem também entende que os termos líquidos da transação são positivos para a C&A é o BTG Pactual. Em relatório, o banco destacou que a venda da carteira de cartões bandeirados compensa parcialmente o pagamento da recompra e amplia a autonomia da rede na definição de futuras ofertas financeiras.

“Embora o crédito siga sendo um facilitador de vendas relevante, o Bradescard representou apenas 13% da receita de serviços financeiros da empresa no primeiro trimestre de 2025, contra 87% do C&A Pay”, acrescentou o BTG, que tem recomendação de compra e preço-alvo de R$ 22 para a ação.

Os investidores, ao que tudo indica, também parecem compartilhar dessa visão mais favorável. As ações da C&A estavam sendo negociadas com alta de 3,23% por volta de 13h, cotadas a R$ 17,57. Em 2025, os papéis da companhia – avaliada em R$ 5,3 bilhões – registram uma valorização de 118%.