Logo no início da pandemia da Covid-19 no Brasil, quando álcool em gel e máscaras cirúrgicas sumiram das prateleiras e os respiradores disponíveis não davam conta da demanda nos hospitais, houve uma mobilização das empresas para doar esses itens a quem mais precisava.
Segundo o Monitor de Doações da Covid-19, da Associação Brasileira de Captadores de Recursos, foram doados R$ 6,5 bilhões por 554 mil doadores até agora. A maior delas foi do Itaú Unibanco, que doou R$ 1,4 bilhão e criou o Todos pela Saúde para gerir a alocação desses recursos.
Agora, o agravamento da crise de saúde em Manaus provocou uma movimentação semelhante. Com recorde de internações de pacientes com Covid-19, os hospitais da capital do Amazonas ficaram sobrecarregados. Os fabricantes de oxigênio hospitalar da região não conseguiram dar conta da demanda.
Empresas começaram, então, a doar cilindros de oxigênio que são usados em seus processos de produção. E, em pouco tempo, a movimentação passou a incluir outros insumos hospitalares, também em falta, e empresas de fora do Estado.
A XP Inc. anunciou a doação de 170 cilindros de oxigênio na sexta-feira, 15 de janeiro. Para Guilherme Benchimol, CEO da empresa, o papel dos grandes empresários é determinante para mitigar os impactos de uma crise como essa. “Não vamos medir esforços para ajudar os brasileiros e brasileiras a superar esse momento tão difícil", afirma ao NeoFeed. "Para termos uma sociedade mais justa é preciso a participação de todos. Precisamos liderar pelo exemplo."
Além da doação de cilindros, a XP Inc. deve anunciar outras iniciativas em breve. "Fomos pioneiros entre empresas brasileiras nesse movimento durante a pandemia e continuaremos fazendo todo o possível para ajudar quem mais necessita”, afirma Marta Pinheiro, diretora de ESG da XP Inc.
A Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos) foi responsável por uma das maiores mobilizações na região. “Quando chegou a segunda onda, que veio muito forte, já tínhamos uma articulação em andamento e conseguimos agir com celeridade”, afirma José Jorge Júnior, presidente da Eletros, ao NeoFeed.
Jorge Júnior se refere à Convergência Empresarial Amazônica, frente com entidades setoriais do Polo Industrial do Amazonas criada ainda no primeiro trimestre de 2020. Inicialmente, o foco era atender as necessidades emergenciais da Zona Franca, mas logo as ações se estenderam para todo o Estado.
Foram doados pelas empresas associadas a Eletros 300 mil metros cúbicos de oxigênio, 150 máscaras de oxigênio para respiração não invasiva, usadas em UTI, além de máscaras cirúrgicas e outros insumos hospitalares.
Agora, a associação está viabilizando a construção de usinas para fabricação emergencial de oxigênio. Cada estrutura pode ser montada em três dias, a um custo de R$ 1 milhão, e permite a produção de oxigênio para atender cerca de 180 leitos. A entidade quer montar cinco na região, e a primeira deve ser instalada nos próximos dias, com estrutura recebida de Pernambuco.
"Realmente, a situação é pior do que crítica. A sociedade responsável está tentando se mobilizar", diz João Carlos Costa Brega, presidente da Whirlpool para a América Latina, ao NeoFeed. A empresa, dona das marcas Brastemp e Consul, destinou seus suprimentos de oxigênio, mais de 3 mil metros cúbicos, para os hospitais. "Além de contatar outras indústrias para fazerem o mesmo", afirma Brega.
Além da doação de 160 mil máscaras cirúrgicas e máscaras de ventilação, a Whirlpool participou da mobilização da Eletros, discutindo a compra de oxigênio de outros Estados. Desde o início da pandemia, a empresa participou de outras iniciativas na região, comprando mil máscaras de tecido de empreendedoras locais, doou máscaras do tipo face shield e cestas de higiene.
"Lamento muito que o Ministério da Saúde não aceite a parceria da iniciativa privada na compra, distribuição e aplicação das vacinas. Temos dado exemplos concretos do quanto podemos atenuar essa situação”, afirma Brega.
Outras fabricantes de eletrodomésticos e eletroeletrônicos, como Electrolux, LG e Samsung, também doaram cilindros de seus estoques de oxigênio para o governo estadual.
No domingo 17 de janeiro, a Moto Honda da Amazônia anunciou a doação de 300 cilindros de oxigênio para o Estado, enviados de São Paulo a Manaus. Alguns dias antes, a empresa havia doado outros 23 cilindros, disponíveis na região desde 14 de janeiro.
A Ambev doou 500 cilindros de oxigênio em uma operação feita em parceria com sua fornecedora, a Fluxos Distribuidora. Os cilindros foram enviados por avião de Guarulhos (SP) para Manaus e chegaram na cidade no sábado, 16 de janeiro. Eles ficarão com o Estado do Amazonas para serem reutilizados.
A companhia aérea Latam usou seu programa Avião Solidário, em que disponibiliza sua estrutura e suas aeronaves, para fazer o transporte de 52 toneladas de insumos hospitalares. A carga total é de 959 cilindros de oxigênio. Até 15 de janeiro, quatro voos haviam sido feitos para levar 805 cilindros e outros 80 respiradores pulmonares. Novos voos serão feitos ao longo desta semana.
Empresas como o Magazine Luiza também participaram da corrente de solidariedade, que passou a concentrar os esforços na compra e transporte de respiradores pulmonares. As famílias Trajano e Garcia, controladoras da rede varejista, doaram ainda 150 fluxômetros para rede canalizada de ar comprimido, 20 válvulas reguladoras para rede de ar comprimido, 20 vacuômetros para rede de vácuo clínico, 450 frascos de aspiração de 5L, 450 frascos umidificadores de ar comprimido, 450 frascos umidificadores de oxigênio e 10 válvulas reguladoras para cilindros de oxigênio. Esses insumos hospitalares serão enviados a hospitais da região até sexta-feira, 22 de janeiro.