Cofundador da Microsoft e com uma fortuna estimada em US$ 165 bilhões, Bill Gates foi um dos primeiros nomes a serem alçados ao status de ícone do Vale do Silício, transcendendo o mundo da tecnologia e abrindo o caminho para outras tantas “estrelas” que seguiram essa trilha.
Aos 69 anos, o bilionário, que está afastado do dia a dia da gigante de Redmond desde 2008, segue ativo. Seja como investidor, filantropo ou mesmo compartilhando suas projeções e visões de mundo por meio do site Gates Notes.
Ele se prepara agora para o lançamento do livro "Source Code: My Beginnings" (Código fonte: meu começo, em tradução livre), o primeiro volume de uma trilogia de memórias pessoais. O título, que será publicado em fevereiro, foi o mote para uma longa entrevista concedida ao The New York Times.
Na conversa, ele relembra passagens da sua vida e reflete sobre parte de suas previsões. Mas abre espaço, principalmente, para mostrar seu receio quanto ao mau uso de tecnologias como a inteligência artificial e sua surpresa em relação ao posicionamento de alguns de seus pares do Vale do Silício.
“Eu sempre pensei que o Vale do Silício fosse de centro-esquerda”, afirma. “O fato de haver, agora, um grupo considerável de centro-direita me surpreende”, complementa, em uma clara referência à guinada de muitos nomes à frente das big techs em apoio ao segundo mandato de Donald Trump.
Gates, por sua vez, foi um dos apoiadores de Kamala Harris. Na eleição de 2024, a primeira em que ele se envolveu financeiramente, ele doou US$ 50 milhões para a Future Forward, grupo externo de arrecadação de fundos para a candidata do Partido Democrata.
Recentemente, porém, o bilionário teve um jantar de três horas com Trump em que eles discutiram desafios globais de saúde. “Eu me envolverei com esta administração assim como fiz com a primeira administração Trump, da melhor forma que puder”, afirmou.
Comandadas por alguns dos nomes que estão dando sua chancela a Trump, como Elon Musk e Mark Zuckerberg, as redes sociais também foram tema da entrevista. E do reconhecimento por parte de Gates de uma movimentação que ele não conseguiu antever nesse espaço.
“Coisas incríveis aconteceram por causa do compartilhamento de informações na internet”, afirmou. “Eu esperava por isso. Mas quando empresas de mídia social como o Facebook e o Twitter surgiram, houve males que devo dizer que não previ.”
Nessa direção, ele cita como um de seus “equívocos” o fato de não ter previsto que a tecnologia desempenharia um papel crucial para o extremismo e a divisão política. E que esses recursos seriam usados como uma arma contra interesses coletivos.
Em outro trecho, Gates também demonstrou certa apreensão sobre o uso da inteligência artificial. Embora já tenha se mostrado, em diversas oportunidades, um entusiasta da tecnologia e de a própria Microsoft ser a principal investidora por trás da OpenAI, dona do ChatGPT.
“Agora, temos que nos preocupar com pessoas más usando a inteligência artificial”, afirmou Gates ao jornal, que, curiosamente, processou a Microsoft e a OpenAI, acusando as duas empresas de violação de direitos autorais.
Ele já havia alertado sobre essa preocupação em outra entrevista recente, concedida ao podcast “On with Kara Swisher”, em que ressaltou seu receio de que pessoas com más intenções possam usar essa tecnologia para crimes cibernéticos, bioterrorismo e guerras.
"Nesse caso, você pensa: Ok, vamos garantir que os mocinhos tenham uma inteligência artificial que possa jogar na defesa contra essas coisas e isso faz você querer seguir em frente e não ficar para trás", disse Gates, naquela oportunidade.
Na entrevista para o The New York Times, Gates reservou tempo ainda para falar sobre as criptomoedas. Quando questionado se esses ativos têm alguma utilidade, ele foi enfático. “Nenhuma”, afirmou. “Há pessoas com QI alto que se iludiram com isso.”