Depois de uma década morando fora do Brasil, André Vivan voltou para o País há um ano e meio. Veio para assumir a presidência da GSK Brasil, a sexta maior multinacional farmacêutica em operação no país.

Sob seu comando, a biofarmacêutica concluiu a separação da unidade de consumer healthcare. Por questões legais, no Brasil, a divisão aconteceu com um atraso de cerca de dez meses em relação à matriz, em Londres.

Com a cisão, a área de medicamentos sem receita, vitaminas e produtos de higiene bucal ficou sob o guarda-chuva de uma empresa independente, a Haleon, controlada pela GSK e que foi listada na bolsa de Londres em julho do ano passado.

A Haleon assumiu as marcas Eno, Advil, Centrum, Sensodyne e Corega, tornando-se uma das principais empresas do mundo em saúde do consumidor. Hoje, está avaliada em 30,5 bilhões de libras esterlinas.

“A cultura da organização estava muito pulverizada. E, nesse sentido, até mesmo o valor para os acionistas estava muito diluído”, diz Vivan, em entrevista exclusiva ao NeoFeed.

Com o spin-off, a GSK passa a se concentrar em vacinas, HIV, oncologia e imunologia respiratória. "As áreas em que somos experts”, afirma o executivo.

Como ele conta, a separação vinha sendo pensada pela organização desde 2015. Na ocasião, a GSK adquiriu o portfólio de vacinas da suíça Novartis e vendeu o de oncologia para a companhia da Basiléia.

Com as transações, avaliadas em US$ 23,5 bilhões, as duas companhias formaram uma joint-venture em uma empresa de bens de consumo para a saúde.

Três anos depois, a GSK comprou a participação da Novartis na parceria, por US$ 13 bilhões. “A ideia sempre foi ter uma área de consumo autônoma, com escala, para irmos com valor para esse spin-off”, lembra Vivan.

A força das vacinas

Das quatro áreas de foco da biofarmacêutica no Brasil, vacinas e os medicamentos contra o HIV são as mais relevantes. A primeira responde por 55% do faturamento da companhia no país. A outra, por 10%, afirma o executivo, sem revelar valores.

Em uma parceria de 30 anos com o governo, nas contas de Vivan, 70% do Programa Nacional de Imunizações (PNI) tem produtos da GSK.

A companhia agora aposta também em imunizantes para adultos. “Estamos vindo muito fortes nessa área”, conta. Para se ter ideia, a vacina contra o herpes zóster, a Shingrix, movimentou, sozinha, no mundo, 3 bilhões de libras esterlinas, em 2022.

Entre 2024 e 2027, a farmacêutica deve lançar um imunizante contra o vírus sincicial respiratório e uma evolução das vacinas pneumocócicas. Em 2025, a companhia pretende apresentar também uma nova versão de um imunobiológico para asma grave.

Com um princípio ativo diferente, mas, com a mesma proposta, o novo fármaco tem duração de seis meses. Se o medicamento seguir a trajetória de seu antecessor, será outro blockbuster da GSK. O Nucala está no grupo dos dez produtos, cujas vendas globais, de cada um, superaram 1 bilhão de libras esterlinas, no ano passado.

Os investimentos da biofarmacêutica em inovação, segundo o executivo, giram em torno de 12% a 15% do faturamento – 29,3 bilhões de libras esterlinas, em 2022. “Esse é o ciclo que nos retroalimenta e do qual muito me orgulho”, afirma o executivo.

De olho nas startups

Contra a lentidão nos processos, as big pharmas estão em um movimento de descentralização dos departamentos de P&D. O desenvolvimento de um remédio é um processo longo e caro. De 30 mil moléculas estudadas, diz o presidente da GSK Brasil, apenas uma vinga.

O caminho natural é a aproximação das grandes companhias com as startups – mais ágeis, ousadas e propensas a riscos. “Globalmente, a gente tem contato com cerca de 250 startups, em todas as áreas”, diz Vivan.

Uma das parcerias da GSK é com a 23andMe, empresa americana de testes de genéticos. Em 2018, a biofarmacêutica investiu US$ 300 milhões, para ter acesso à uma base com os dados do DNA de cerca de 5 milhões de pessoas.

Resultado e as concorrentes

Fundada em 2000, a GSK movimentou globalmente 29,3 bilhões de libras esterlinas em vendas, no ano passado. Os resultados do primeiro trimestre de 2023 revelam queda em relação ao mesmo período de 2022. Mas superaram as expectativas dos analistas de mercado.

As vendas globais somaram 6,95 bilhões de libras esterlinas, abaixo das 7,19 bilhões de libras esterlinas do ano passado. As estimativas dos especialistas giravam em torno de 6,55 bilhões de libras.

A queda do lucro líquido foi menor – de 1,5 bilhão de libras esterlinas para o 1,49 bilhão de libras esterlinas, de agora. Nos cálculos dos analistas, não passaria de 1,18 bilhão de libras.

Com um valor de mercado de 56,6 bilhões de libras esterlinas, a GSK deve fechar o ano como a décima maior farmacêutica em vendas de medicamentos com prescrição, segundo o relatório Evaluate Vantage 2023 Preview, da consultoria inglesa Evaluate Vantage. A líder do ranking é a americana Pfizer.

Em relação à concorrência, segundo os analistas da consultoria inglesa, a GSK deve assumir a liderança na vacina contra o vírus sincicial respiratório. Mas a concorrência é forte nessa área: Pfizer, Johnson & Johnson e a Moderna estão também investindo nessa área.